Aproxima-se o mês de Novembro, um mês muito espiritual que pela tradição cristã é o tempo em que trazemos à memória os nossos antepassados e ente-queridos que a morte já levou. As pessoas podem andar o resto do ano sem ir ao cemitério, mas nesta altura vão várias vezes até onde repousam aqueles que nos foram próximos. Por estes dias há um pensamento e reflexão mais próximo da realidade da morte.
Então nunca será demais lembrar com a saudade que lhe é merecida, os (entre tantos) que deixaram a sua marca na História Colectiva de Forninhos, por terem dado o seu melhor e por terem feito maior a nossa terra. São património da nossa aldeia e aqui nunca serão esquecidos.
Olímpia da Conceição Vaz e Antoninho Bernardo |
Antoninho Bernardo, conhecido por Toninho do Aníbal (Aníbal Bernardo, era o seu pai) foi Regedor de Forninhos. Ao tempo, o regedor era a autoridade policial da freguesia, era quem dirigia as queixas de roubos, desacatos e que devia, se fosse caso disso, chamar a GNR do concelho (ou a mais próxima), intervinha em assuntos de partilhas, competia-lhe repor a ordem e harmonia junto da população da freguesia, carimbar e rubricar os passaportes de fim-de-semana dos soldados, etc...
A sua esposa, Olímpia, foi costureira em Forninhos; sabia ler e escrever, por isso, lia e escrevia cartas às pessoas que não sabiam ler. Tinha também talento na arte da representação: era ensaiadora de teatros e contradanças. Faleceu nos anos 80 e eu ainda a conheci, era muito amiga da tia Felisbela.
Agradeço a foto à sua neta Maria José Bernardo.
Agradeço a foto à sua neta Maria José Bernardo.
Alberto Pina e Maria da Anunciação |
Conheci, o tio Alberto (Figueiró) e a tia Anunciação e entrei algumas vezes na sua casa, no sítio do Lugar. Eram lavradores, tal como a maioria dos moradores de Forninhos.
O ti Alberto chegou a ir a Tete (Moçambique) conhecer como os filhos viviam o que o deixou muito feliz e confuso com a tez do povo local, pois da aldeia eram todos brancos e ver aquele mundo de terras por cultivar também lhe fez confusão pois na sua região todos os arretos eram aproveitados para cultivar fosse o que fosse. Isto nos dá conta a sua neta Mimi Teixeira do blog: http://mimiteixeira.blogspot.pt/
Lembro-me bem de o ver no lameiro dos Moncões de joelhos, com a seitoura, a ceifar erva fresca para os coelhos.
A tia Anunciação era uma mulher bem simpática que se sentava na soleira da sua porta, onde uma roseira enfeitava a entrada de rosas vermelhas. Contava à pequenada a historieta da Nau Catrineta, um poema de um anónimo, referindo-se a viagens longas para o Brasil ou para o Oriente.
Certamente muitos já não se recordam, mas começava assim: "Lá vem a Nau Catrineta, que tem muito que contar. Ouvide, agora, senhores, Uma história de pasmar...".
Passava mais de ano e dia
que iam na volta do mar.
Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Já mataram o seu galo,
que tinham para cantar.
Já mataram o seu cão,
que tinham para ladrar.
Da minha avó tenho imensas recordações e do meu avô apesar de não o ter conhecido, faleceu no dia 20 de Novembro de 1973, tenho dele boas memórias pelas palavras que o meu pai me foi contando. O meu avô era um amante da natureza e dos animais.
Eram lavradores fartos à custa de muito trabalho. Um dia a minha avó viu-se impedida de trabalhar porque deslocou uma perna numa nora de tirar água do poço, na Cerca. Contava que foi transportada numa padiola. Aproveitei muito bem a companhia dela, aprendi com ela orações, advinhas, cantigas populares, contos e histórias de vida...
Sempre de luto carregado (nunca o aliviou), ela que sempre teve castanhas - tiveram um souto num terreno denominado Moradia - no 1.º de Maio oferecia-me sempre uma castanha pilada que eu rilhava como se fosse um rebuçado e assim já podia ouvir o burro ou passar por ele e ficava "vacinada" para todo o ano.
Foi a minha parteira e pelas suas mãos experientes, de muito saber, passaram muitas crianças nascidas em Forninhos ao longo de várias décadas.
A foto foi-me oferecida pela minha madrinha, Natália Cavaca.
Sempre de luto carregado (nunca o aliviou), ela que sempre teve castanhas - tiveram um souto num terreno denominado Moradia - no 1.º de Maio oferecia-me sempre uma castanha pilada que eu rilhava como se fosse um rebuçado e assim já podia ouvir o burro ou passar por ele e ficava "vacinada" para todo o ano.
Foi a minha parteira e pelas suas mãos experientes, de muito saber, passaram muitas crianças nascidas em Forninhos ao longo de várias décadas.
A foto foi-me oferecida pela minha madrinha, Natália Cavaca.
Homenageamos neste post pessoas que partiram em tempos mais antigos, mas que continuam a ser memória viva em quem os recorda.
ResponderEliminarEste meu comentário, vem pura e simplesmente no propósito de através do atrás descrito, reforçar a nossa identidade,simbolizada nestas gentes.
ResponderEliminarDizem que esta é a altura de nos curvar-mos na limpeza das campas e as enfeitar, sinal de respeito e nostalgia. Acredito, não fosse em muitos casos e não havendo funerais, continuariam desmazeladas muitas delas e pareceria mal...
Acho pessoalmente que esta escolha de gentes, propositada, foi muito acertiva por trazer memórias e respeitos que os mais velhos podem transmitir a filhos e netos.
O Sr. Antoninho Bernardo e Dona Olímpia, quem ele foi e ela também: irma do Sr. José Vaz, com um filho padre/doutor e uma freira de nome Albina, que acarretava na cabeça. a pé, o queijo de vaca que faziam, para a feira.
Do tio Alberto Figueiró, isso é outra estória.
Para mim e assim sempre ouvi, os Mancões sempre foram assim chamados e ele tinha ali um belo lameiro. Milho bem espigado pelo farto regadio que vinha do poço farto e que em garoto tao bem conheci. Por volta da hora do calor, descalço e apenas de calção, era um ver se te havias por entre o milheiral direitinho com uma cana e um fio para "libertar" alguns peixinhos bons que ali cresciam...ninguém me via.
Gente boa e se tal agora digo, foi por me ter livrado de umas merecidas bordoadas.
O tio Zé Cavaca e a Senhora Maria Coelha.
Ficava aqui a noite inteira!
Por família, poderia ficar comprometido mas não é o caso, orgulhoso.
Se alguém procurar o protótipo de gentes de bem, nao vão mais longe.
Ainda hoje me lembro com saudade do bolso do seu avental em que como por magia de dentro tirava uma castanha pilada.
E tantas coisas...
Pois é Xico, são fotos como estas que nos fazem recordar os tempos passados e dos nossos ascendentes, pena é alguns no âmbito da família estarem um pouco esquecidos, alguns netos só no dia de "Todos os Santos" é que se lembram deles quando vão em romaria ao cemitério; nem no "Dia dos Avós", que é mais um dia que inventaram a juntar a tantos outros na moda nos últimos tempos, se lembram deles! Mas pronto são actos que ficam com quem os pratica.
EliminarAs netas destes recordam-nos e não os esquecem, nem podiam, porque foi através deles que a nossa vida começou.
Bela e sempre válida homenagem!Está perto da data..beijos praianos,chica
ResponderEliminarSim, o tema vem a propósito porque daqui a dias é já o dia dos "Fieis Defuntos".
EliminarBeijinhos e boa praia.
Obrigada por aqui homenagearem a memoria de pessoas que fazem parte da história de Forninhos, nomeadamente do meu avô Antoninho e da minha avó Olimpia. Dos outros aqui nomeados, gostei de saber um pouco da sua história, já que apenas lhes conhecia o nome. Apetece-me empregar aquela expressão bem Beirã que poucas vezes emprego, mas que adoro ouvir: Bem haja!
ResponderEliminarBem-haja eu!
EliminarPara nós é muito importante não esquecer as pessoas, gostem ou não gostem, são as pessoas que escrevem as páginas do livro da história da nossa terra, pois essa far-se-á sempre com a história das suas gentes.
O seu avô foi Regedor, tanto quanto sei Forninhos nunca lembrou a figura do Regedor, ele que tantas vezes repôs a ordem e harmonia junto da população da freguesia, ao contrario da figura do Presidente de Junta...
Presentemente Forninhos tem uma má relação com as suas gentes de bem. No pedestal só colocam gente que incentiva a desarmonia, a desunião, desrespeita as leis. Fazem-me lembrar os antigos imaginários portugueses que punham as estátuas que faziam em altos pedestais para não lhes notarem os defeitos.
Porque cumpria a lei o Regedor era o "mau da fita". Pergunto: - E o Presidente de Junta se cumprisse a lei será que era o "bom da fita"?
Um abraço forninhense.
O meu pai contava muitas histórias do tempo em que o meu avó era obrigado a prender pessoas, por provocarem desacatos, até à chegada da guarda o que, por vezes, levava dias!
ResponderEliminarHá uma história engraçada que vou tentar contar. Então, acho que foi mais ou menos assim: Terá morrido o porco de alguém aí de Forninhos que, como é lógico, tratou de o enterrar. Estava o meu avó a cear quando lhe batem à porta com grande alvoroço. O que se passava era que uns ciganos que tinham chegado à aldeia, estavam a desenterrar o porco para o comerem e o Povo queria que o meu avó os impedisse de o fazerem! Ora o meu avô, embora o incomodasse o facto de alguém querer comer um porco que havia morrido, sabe-se lá de quê, achou que não devia prende-los e lá lhes disse que levassem o porco e o fossem comer longe!
Tenho pena de na altura não ter prestado mais atenção a essas histórias, para hoje as poder contar. Vale-me a excelente memória do meu tio e fica desde já prometido que, quando estiver com ele, vou gravar algumas dessas histórias para depois as reproduzir aqui. Bom domingo
Nesse tempo quando havia epidemia de porcos e galinhas, os ciganos apareciam em Forninhos como que advinhos! Uma minha tia conta que davam volta ao povo para saberem onde os animais tinham sido enterrados e depressa procediam ao desenterro para aproveitarem as partes da carne que lhe convinha.
EliminarO seu avô teve uma atitude louvável.
Quando o meu pai foi tropa, 1966/1967, era o seu avô quem lhe carimbava e rubricava o passaporte.
Igualmente tenho pena de não ter prestado mais atenção às histórias, em especial, às que a minha avó Coelha me contava.
Belo post....
ResponderEliminarBom fim de semana
MG
Obrigada.
EliminarIgualmente.
Também tenho fotos dos meus avós e dos meus tios onde o tempo parecia "outros tempos"!!!
ResponderEliminarNão gosto da data e nunca vou ao cemitério por esta altura!
bj e gosto da sua partilha
Eu gosto, além do Natal também são dias associados à família e amigos.
EliminarBeijinhos.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarNa verdade, a maioria das pessoas vai nesta época e essencialmente no dia de finados aos cemitérios enfeitar com flores as campas dos entres queridos que partiram. Não tenho muito esse hábito por motivos pessoais, mas vou orando habitualmente por todos eles para que descansem em paz. E se os amava!
As memórias dos que nos precederam são sempre de evocar. Deles herdámos muito do que somos e a eles devemos muito.
Gostei das lembranças que aqui trouxe de pessoas extraordinárias que muito acrescentaram à vida de Forninhos.
Beijinhos e continuação de bom domingo e excelente semana.
Ailime
Boa tarde Ailime.
EliminarEu sou uma que não estou à espera que chegue Novembro para fazer a visita ao cemitério, vou quando me apetece ir...mas gostava de estar em Forninhos por estes dias, confesso.
Já pensei muitas vezes que quando a pessoa é viva é lembrado o dia do seu nascimento, mas quando morre é mais recordada na data da morte. Exemplo, eu desde garota lembro os meus familiares, da parte do meu pai, contar que o meu bisavô (o pai da minha avó Coelha) faleceu no dia 1 de Novembro, mas não me lembro falarem do dia que nasceu.
Faleceu era o meu pai criança, mas sempre ouvi os meus familiares contar que quando o avô estava doente, foi visitado pelo pároco da altura e manifestou a vontade de viver mais um ano. O Senhor Padre respondeu:
- Deus faz-lhe a vontade porque pede pouco; e assim aconteceu.
No dia da morte do meu bisavô, nasceu mais um neto, mas que Deus já levou para junto dele.
Já me alonguei, mas há recordações que perduram pelo tempo tanto quanto a nossa memória o recordar...
Beijinhos.
Obrigada por recordar meus avós tal como me lembro deles como esta no meu Blog.
ResponderEliminarSou assidua leitora deste blog pois minha mãe Augusta de 9o anos gosta do que escreve.
Eu é que lhe agradeço a foto e aproveito para lhe dar os parabéns pelo seu blog que está muito bem escrito e por graças a ele ficar a saber muito mais sobre os seus avós. Bem haja!
EliminarPara si e sua mãe vai grande abraço meu.
Somos para uns uma fonte de alegrias, para outros de incómodos, mas tudo fica para a história de Forninhos.
Um post com boas recordações, pessoas tão queridas e importantes para vocês! Recordar é viver, relembremos então!...
ResponderEliminarAmanhã o meu pai faria 101 anos, lindas lembranças tenho dele!
Beijinhos e feliz semana. Que venha Novembro, os meus 3 filhos nasceram nele...
O meu avô Cavaca só tinha mais 10 anos que o seu pai. Se fosse vivo fazia 111 anos dia 20.
EliminarMeu pai também é de Novembro.
Beijinhos, boa semana.
A coisa mais triste da vida: a morte, dizem, mas a mais certa pois nenhum por mais exímio caçador que for a apanha. Acaba sempre por mais tarde que seja, caçado.
ResponderEliminarPodendo,os nossos antepassados nas sua novas vidas, proclamariam em modos de catequeses, os cuidados a termos em vida, mas a gente continua a pensar que tal é para os outros.
Mais tarde e prestando atenção ao que fizeram na passagem pela terra e recordando o que deles ainda nos lembramos ou nos contam, vemos que a vida é um quadro pintado em vários tons matizados, os que queríamos e o modo com que nos pintaram...
Somos a infantilidade de por vezes recordar os nossos com as cores dos nossos olhos em pigmentos mais coloridos, ou ir em busca de um lenço da avó para secar as lágrimas que vieram quase por acaso aqui parar.
São coisas da vida e não há que temer, todos temos que morrer, mas deixando a marca de um calcanhar, uma réstea de alguém ter sido, a lembrança de um lugar...
Valeu a pena por aqui andar!
Bem-Hajam todos eles!
Já as nossas avós diziam :"à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o papa...".
EliminarEu orgulho-me dos meus: tinham um lado bom com falhas, defeitos, não preciso colocá-los no pedestal porque como bem o disseste: "Se alguém procurar o protótipo de gentes de bem, nao vão mais longe".
Magnifica esta homenagem é bom não esquecermos os nossos antepassados.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Os antigos tinham uma humanidade que eu apreciava. Recordando-os como foram no seu tempo que foi nosso também, pois o vivemos com eles, fazemos a sua vida continuar em nós.
EliminarSemper in Memoria.