...E antes que Julho finde, toca a malhar, "quem malha em Agosto, malha com desgosto", é que no dizer do povo que às vezes sai certo, "o primeiro dia de Agosto é o primeiro dia de Inverno".
Foto, ano 1980, cortesia da família Carau.
Este espaço nasceu para dar a conhecer a História, estórias e memórias duma aldeia chamada Forninhos (antigamente Fornos). Vem-lhe o nome certamente por lá ter havido fornos/fábrica de cozedura...assim rezam os livros de História, Lendas e Tradições de outros lugares.
Olá,
ResponderEliminarmenina que loucura é esse medo do agosto. meu pai quando passava o agosto ele fazia uma comemoração, e dizia, me escapei do agosto. hahha Vejo que ele trouxe na bagagem muitas vivências de Portugal. Que o agosto venha e traga muita fartura e felicidades ao povo de Forninhos.
Bjos
Obrigada Anajá. O povo de Forninhos é fã e freguês de festas <:o) e em Agosto então é uma farturinha!
EliminarSeu pai também devia conhecer bem este:
“Se queres ver o teu homem morto, dá-lhe couves em Agosto”. Não quer dizer que as couves em Agosto são veneno, apenas não são tenras (não são boas para comer).
E, no Brasil não há um que diz:
"Não há casamento de Agosto que não tenha desgosto"?
É verdade, mas os jovens desconhece essa antigas tradições e casam neste mês.
EliminarTenha um ótimo fim de semana.
Excelente foto que contempla tudo o que rodeia a "malha!
ResponderEliminarUma vez criado o cereal, homens e mulheres, vergados sob sol ardente, empunhando seitoiras (foices)
e delineando o eito de acordo com o número de ceifeiros, atacavam decididamente a seara. Nas últimas décadas, a par da seitoira, passou também a usar-se a gadanha. Atrás, alguns homens iam atando com vincelhos o cereal ceifado em molhos que depois se dispunham cuidadosamente em montes, construídos de forma cónica, de modo a que o cereal fosse secando pela sua disposição ao sol e, ao mesmo tempo ficasse protegido contra os eventuais aguaceiros da época. A estes amontoados de molhos de cereal
chamava-se na rolheiros, se contêm menos de uma dúzia de molhos, e medas, se o monte é maior, comportando, por vezes, várias dezenas de molhos.
Passadas algumas semanas, em Julho, quando os trabalhos agrícolas vagam um pouco, os molhos são tirados dos rolheiros e das medas e carreados para a eira ou «lagem».
A malha é a operação de debulha dos cereais e a designação provém do objecto fundamental da debulha, o malho, conhecido e Forninhos por mangual,
O mangual é um utensílio rudimentar, feito essencialmente de, duas peças de madeira, ligadas uma à outra pela meã feita de couro de vaca ou boi, que assim articulado na forca do balnco separa o cereal.
Além do mangual, outras alfaias eram utilizadas na malha: ancinhos e forquilhas para manejar a palha (os ancinhos de preferência com os dentes de madeira); vassouras e vassouros de giesta para varrer a eira; o rodo para juntar o cereal, bem como para o espalhar na eira; os cestos e outro vasilhame para erguer o grão e limpá-lo das praganas e outras partículas pela acção do vento; a pá para ensacar o cereal, depois de bem limpo e bem seco, pronto para ser guardado nas arcas,sem perigo de apanhar gorgulho.
Embora a malha seja um trabalho duro e essencialmente reservado aos homens, as mulheres também têm um papel importante a desempenhar: umas chegam os molhos, seguram a beira com o ancinho, ajudam a tirar a palha e servem o vinho, outras preparam as refeições (o dejejum ou mata-bicho, o almoço, a piqueta, o jantar e a merenda) lançando mão da coelheira, da capoeira, do fumeiro e da salgadeira. O trabalho é duro e, como diz o lavrador,
"da barriga puxa o boi e de casa se manda a gente".
Afinal a malha era um dia de festa!'
Era pois! Era um tempo de trabalho muito forçado e desgastante -começava no São João e geralmente acabava na Santa Marinha - mas também era um tempo de muita alegria e que havia espírito de entre-ajuda!
EliminarFalas dos rolheiros que serviam para proteger contra os aguaceiros da época, por isso é que da boca do povo antigo, que ambos conhecemos bem, saía o provérbio "quem malha em Agosto, malha com desgosto" é que por fins de Julho já orvalhava e vinham os aguaceiros e trovoadas de Verão!
Contam os antigos que no 15 do oitavo (mês) já eram nascidos os nabais e ervas de semente - "deita-me no pó e de mim não tenhas dó" diz o provérbio que a actualidade continua a preservar.
Que linda foto e que todos malhem bastante em julho e que agosto seja lindo! bjs praianos,chica
ResponderEliminarAs coisas já não são o que eram ✿ chica! Já não há malhas...ficaram apenas as fotografias de recordação e algumas lages (eiras) que são grandes lagedos naturais e que eram abertos a toda a população, onde se malhava o centeio, trigo ou milho e depois se procedia à secagem do cereal. Ah, e a casinha de pedra que se vê fotografia ainda resta!
EliminarBjos e cont. de boas férias.
Boa tarde Paula, belíssima foto que me faz lembrar o pintor José Malhoa!
ResponderEliminarE depois a malha do pão! Que saudades tenho de assistir a essa tão nobre tarefa! Era ainda bem pequenina...!
E então vamos lá antes que chegue agosto! Também acho não tarda nada aí está o inverno;))!
Beijinhos,
Ailime
Olá Ailime, temos publicado fotos que fazem lembrar mesmo as telas de José Malhoa.
EliminarEu também presenciei esta actividade na meninice, mas felizmente (ou não) tudo isto já não existe. Digo (felizmente ou não), porque os tempos que aqui recordamos eram difíceis para as pessoas.
Hoje ninguém precisa malhar e moer o cereal para obter a farinha, mas aquele provérbio a respeito da meteorologia de cariz popular continua actual. Quando chove em Agosto parece logo que estamos com um pé no Inverno.
Beijinhos.
Bela fotografia, Paula. E eu não conhecia esse ditado do nosso sábio povo.
ResponderEliminarLá nos Açores, em casa dos meus avós maternos, também se fazia, não sei se era assim...não me lembro dessas lidas! Só me lembro que saltávamos dum muro para cima dos montes da palha seca, enterrando-nos até quase desaparecermos nos montes fofos de feno.
Beijinhos
Também recordo, quando se descarregava o feno para ser arrumado na palheira cair/brincar entre os molhos (fachos). Boas lembranças, não é Teresinha?
EliminarMas os fachos de feno, não são de centeio, são de erva criada nos lameiros, que durante o inverno servia de pasto para as ovelhas ou era ceifada para os bovinos e ao chegar a primavera, deixava-se crescer para semente e feno para o gado.
Hoje na nossa região ainda se vê erva/feno, mais do que centeio. Em Forninhos como já não há campos de centeio e trigo, logo, não há ceifas, nem malhas e todo este processo é hoje uma mera recordação. No entanto, ainda existe o cultivo do milho, que n´outros tempos também era malhado nas lages, com o mangual.
Beijinhos.
Olá Paula!
ResponderEliminarÉ verdade, como disse a Ailime a fotografia parece um quadro do Malhoa. É linda!
Desconhecia esses provérbios, mas realmente malhar os cereais deve ter esse tempo próprio que a sabedoria popular indica.
Seitoras são foices?!...Xico, você é realmente uma enciclopédia no que às artes e utensílios do campo diz respeito. Aprendo muito consigo e com a Paula.
xx
Olá Laura, não fui consultar o dicionário, mas para mim uma seitoura é uma foice com lâmina de ferro, curva, quase sempre serrilhada.
EliminarMas a foice/seitoura de ceifar centeio, por exemplo, era maior da de ceifar erva e na ponta tinha um encaixe, que servia para que a mão não escorregasse devido ao suor, pois as ceifas faziam-se no mês de Junho, altura de muito calor.
As que utilizavam para cortar erva (e ainda utilizam) para cortar a rama à batata e cortar milho, são mais pequenas e não precisam de encaixe.
O mangual e modos de malhar também eram diferentes de aldeia para aldeia. No ano de 2010 escrevi umas linhas sobre o mangual e aprendi isso. Aprendemos todos, portanto!
Os ditados que leu julgo eu que não são locais, pelo menos aquele do primeiro dia de Agosto é o primeiro dia de Inverno já o ouvi por aqui.
Bjos**
Paula...recordo que a casa da minha avó materna tinha uma eira...e da minha memória não se perde a magia da... descamisada e da malha!
ResponderEliminarBelos e sãos momentos de convívio...que lamento se tenham perdido na aldeia que me viu nascer! Bj
Olá Graça.
EliminarDiz bem...belos e sãos momentos de convívio, desde a colheita, à malha e...à mesa, que haveria de fortalecer os braços cansados de quem participa arduamente na tarefa de malhar o "nosso pão".
Bjo.
Relativamente aos dois provérbios...conheço-os bem...uma vez que a sabedoria popular da família...repete-os nestas alturas!
ResponderEliminarA foto é bem linda!
É, o saber popular o tempo criou e felizmente ainda não apagou, talvez porque fica no ouvido e tem moral que é fácil de entender.
EliminarMais que uma foto , uma autêntica tela.
ResponderEliminarConheço esses provérbios que têm sempre um" fundo" de autenticidade.
Nunca assisti a uma malha. tenho pena.
Beijinhos.
Esta tela bem podia e devia estar exposta num museu sobre história desta pequena aldeia, só que para isso era preciso que Forninhos tivesse um museu, mas não tem :-(
EliminarBeijinhos.
Neste quadro tão belo, à altura, penso não estar enganado se disser que apenas duas pessoas ainda se encontram entre nós.
ResponderEliminar"Malvado" destino que nem sequer respeitou idades...
E tentando adivinhar o linguajar e ladainhas de aldeia, na postura do ti António Carau, hirta e pouco amiga, como que agastado pela demora do resto da "malta" para a malha.
- Raios os partam, devem andar por aí ao deusdará. Apareceram cedo e dejejuaram...
A mulher tenta amenizar: "Ó homem, devem ter ido acomodar algum vivo ou deitar a água às cebolas".
Ele fica calado, remoendo, tinham combinado, não falhavam e pronto!
O calor apertava, a sede também e o mangual, pumba, pumba...havia que virar a palha, separar e ensacar o grão, até porque se adivinhava trovoada, daquela seca e forte.
Quais devotos de Santa Bárbara, logo chega o resto do "rancho", que aqui não se vê, mas as garotas vestidas de chita e lenço na cabeça com laço sobre a testa, eles de camisa de colarinho apertado e punhos compridos, mais o lenço amarrado ao pescoço, pois as praganas com o suor era pior que as chamas do inferno.
Valendo ia, aquele refresco de água e aguardente com açúcar na bilha de barro que a tia Júlia fazia melhor que ninguém.
E mais tarde, enquanto a garotada se rebolava por entre as fachas de palha, resguardadas na palheira meio destelhada, eles, e elas, os mais velhos, gente crispada e calejada, entregavam rendidos por momentos o corpo àquela palha fresca, a mesma que os acolheria mais tarde na enxerga e o resto que ficaria espalhado, presente para o lobo que ali viria resguardar-se do inverno ainda tardio.
E uns e outros, teriam de igual modo, algo para o ano seguinte.
Mas que belo comentário, com um diálogo que nos faz rememorar a realidade de um dia que certamente foi intenso em trabalho.
EliminarDe facto só dois dos adultos se encontram entre nós, o Martinho e a Rosa, mas também temos ainda connosco a Cila e o David, amplia a foto e verás esses dois pequenos (hoje adultos). Como disseste no teu 1.º comentário, esta foto contempla tudo o que rodeia a malha, pelo menos, desta fase, início da década de 80, já que numa época anterior, as malhas eram feitas por mais homens que muito bem sintonizados, uns de um lado, outros do outro, batiam com os manguais, todos em sintonia!
Mais tarde a palha ía encher as enxergas e quando houvesse água nos açudes, os moínhos não descansavam; nem eles, nem os pais e filhos.
Quem diria que passados tantos anos e esquecidas as origens, costumes e tradicoes, hoje tentem constantemente "malhar" em nos...Devem ser pesadelos, daqueles tenebrosos contados por "velhotas ruins". Remorsos!
EliminarDa enxerga, fica na retina o termo "nada enxergo", mesmo que com palha boa. Talvez praganas duras.
Desculpa, nao resisti em "malhar", pelo termo, antes que seja proibido tal utilizar. Censura explicita uma vez, nunca se sabe...
Quem sabe se um dia nao traremos aqui algo sobre a singular, usual e almejada manjedoura e se valorize a palha!
Tem que se arranjar espaco, pois tudo monca alinhado...
Que saudades do mangual, manobrado por homens a serio, tal como os nossos avos esquecidos, apenas lembrados no gesto similar do erguer do copo de vinho, pago pela presenca cronica dos mesmos que comem, tal indigentes, apesar da escassa idade para tal e depois saltam e rebolam na digestao.
E, retomando o tema, "malham" e "malham", no que a mesa apresenta e o estomago aguenta.
Vem de "borla".
E os meninos e meninas, tirando trinta anos, vao cantando e dancando, como donos da alegria dos outros.
Faltam os alqueires bem medidos, mas um mangual bem erguido, punha tudo na linha.
E vinha tarde!
Assim fariam os nossos avos, acreditem!
Aqui no Brasil agosto é mês de muito vento aumentando a sensação do frio. Tb é conhecido como mês do desgosto...rss...bjs e bom fim de semana,
ResponderEliminarPor ser o mês do desgosto, é que um cantor popular português, conhecido por suas letras de duplo sentido, canta que o melhor dia para casar é o 31 de Julho, porque a seguir entra (a)gosto! ;-)
EliminarBjs e bom fim de semana tb.
Uma malha poética e com grande reflexão... Bonita foto!
ResponderEliminarDe cá, UM ABRAÇÃO, Paula........................................
BOM FINAL DE SEMANA!
Muito obrigada Anete!
ResponderEliminarEsta bonita foto foi tão elogiada que até me esqueci de dizer que sequer usamos photoshop! É genuína :-)