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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Os sons da aldeia


Há sons que a nossa memória conserva para sempre. Por exemplo, quando havia um incêndio na nossa terra ou mesmo na aldeia vizinha da Matela ouvia-se o sino da Igreja a tocar sem parar dãdãdãdãdãdãdãdãdãdãdãdã e afligia as pessoas, que de imediato pegavam numa enxada, numa pá, numa vasilha qualquer para a água, e lá ia tudo acudir ao fogo. Também o toque do sino ou sinais a 'notificar' a morte à freguesia e o toque alegre, de festa, são sons muito marcantes. 
Outro som gravado na minha memória auditiva é o som dos foguetes nas festas, anunciando a procissão, que os mordomos iam deitando.
Na vida aldeã um som que sempre me impressionou foi os guinchos agoniantes dos porcos em dia de matação. Coitado do porco, assim que saía do cortelho já adivinhava que ia acabar de pernas para o ar, pendurado na trave da casa.
E o som das rodas do carros das vacas a chiar pela Lameira fora? É um som inesquecível também. Vale a pena lembrar que dantes pelas ruas da aldeia de Forninhos circulavam carros e carroças, depois com o passar dos anos acabou por se ouvir só o ron-ron-ron dos tractores.
Da aldeia há mais sons que marcaram para sempre e que acho vale a pena lembrar: de pessoas, animais, campos cultivados, festas e romarias, etc. e tal...


Além do sino da Igreja, insiro nesta peça uma imagem da minha tia Arminda e marido, o ti Joaquim ‘Chispas’, do tempo das festas com foguetes.
Note-se que o toque do sino na vida actual da aldeia ainda não desapareceu totalmente e é ele que ainda mobiliza as pessoas para os diversos actos, não só os que apelam ao socorro, como os fogos, como também aqueles relacionados com as cerimónias religiosas. Penso que as badaladas que soam por toda a freguesia são sinónimo de união.

30 comentários:

  1. Anónimo1/21/2013

    Sons da aldeia e das nossas memórias. pois tantos deles desaparecidos; ainda se ouve o sino, o cantar das aves, o ladrar dos cães, mas e o resto?
    Quase tudo o tempo levou:
    O chocalho das ovelhas, as cantorias nas ceifas, o cantar do galo pela madrugada, quase nem se dá pelo cacarejar das galinhas, o toque do realejo e concertinas, o piar agoirento, de noite, do noitibó. Aonde está a tagarelice das crianças, sacoila às costas, a caminho da escola e a algazarra nos recreios.
    E o som tão carateristico da gaita do amolador " amola tesouras , facas, navalhas".
    O grito do lavrador quando a vaca saía do rego " volta ao rego Bonita, volta ou levas com a aguilhada" e ecoava pelos campos...
    Dos mais nostalgicos, para mim, a ausência do chiar do carro das vacas; era música na Lameira.
    Também o ganir do porco na matança, manhã cedo, pela geada, por vezes faziam coro, matavam um no Outeiro, outro no Lugar, parecia uma orquestra.
    Uma vez aconteceu para os lados da Lameira, não segurarem bem o porco e deixaram desprender o laço.
    Era um ver se te avias, porco Lameira abaixo, tudo atrás dele, indo à frente o sangrador com a faca na mão.
    Todos estes sons, me fazem reviver o local de cada um de uma forma quase real, parece que está a acontecer agora.
    Até o próprio silêncio, tens sons alegres e tristes.

    XicoAlmeida

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  2. Anónimo1/21/2013

    Acho tão encantadora a foto do sino, que não resisto a transcrever um poema de Fernando Pessoa.

    O SINO DA MINHA ALDEIA

    O sino da minha aldeia,
    Dolente na tarde calma,
    Cada tua badalada
    Soa dentro de minha alma.

    E é tão lento o teu soar
    Tão como triste da vida,
    Que já a primeira pancada,
    Tem o som de repetida

    Por mais que me tanjas perto,
    Quando passo, sempre errante,
    És para mim como um sonho
    Soas-me na alma distante.

    A cada pancada tua,
    Vibrante no céu aberto,
    Sinto mais longe o passado
    Sinto a saudade mais perto.

    XicoAlmeida

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  3. Que lindo!!E há sons que parecem nunca sair de nossos ouvidos.Lindo sino...beijos praianos,chica

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  4. As badaladas do sino e do relógio da igreja paroquial, que dá horas de meia em meia hora, foram os sons que me custou mais deixar de ouvir quando deixei a minha terra em 1990.
    Ainda hoje quando vou ou estou em Forninhos gosto de ouvir os sinos da igreja a tocar a convidar para a missa de Domingo, quer esteja em casa ou na rua; gosto de ouvir o som do toque de festa dos sinos quando sai uma procissão e gosto muito do som do relógio e noto muitas vezes que as pessoas ainda se regulam pelo som que sai do relógio da igreja em vários momentos do dia. Acho que todos ouvimos o som do Ave Maria.
    Só espero que nunca proíbam o toque dos sinos porque o barulho incomoda!

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  5. Anónimo1/22/2013

    Tanto som, mas mais do passado, porque o som presente não tem a força de outrora, pelos menos suficiente para furar a surdez de quem aqui não deixa memórias.
    Tão belo o som do mangual a malhar o pão na eira (era assim que se dizia).
    Tão castiço o zurrar do burro do Ti Moleiro.
    Tanta paz transmitia o suave murmurar das ondas das searas.
    O coaxar prazenteiro da rã, no seu pedaço de água.
    A magia do som das libelinhas.
    O uivar do lobo lá para Cabrancinhos
    O rugir dos pinheiros em noites de inverno
    A água irrequieta do ribeiro, saltando de pedra em pedra
    Dos mais belos, a salvação aos vizinhos "bom dia Tia Maria"
    Tudo isto é som.
    O som que nos traz recordações, do Outeiro à Lameira ou ao Lugar.
    De tanta parte memória, postais de uma vida inteira.
    Que guardamos na algibeira, como um pedaço de história.

    XicoAlmeida

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  6. Enquanto tu e eu recordamos com saudade os sons do mundo rural e se o recordamos é porque nos proporcionavam bem-estar, as “novas pessoas” recordam o quê? Pois se já não há carros de vacas, searas ou pão para malhar, moer e cozer, galinhas e pintaínhos nas ruas e tanta coisa que o tempo levou para longe?
    É certo que na aldeia ainda há sons do passado, o toque do sino ainda não desapareceu totalmente e ainda se ouvem os grilos nas noites quentes de Agosto, ou a água de Janeiro nos ribeiros, o chilrear dos pássaros, o ladrar dos cães, de vez em quando uns tiros de caça atirados à volta da aldeia ou o som dos foguetes deitados para “aqueles lados”, ou seja, bem longe, mas eu acredito que muitos nada disto ouvem porque vivem voltados para si mesmos e cada um centrado nos seus interesses!

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  7. Anónimo1/22/2013

    Tens razão Paula.
    É bom recordar e "comprar" recordações a quem as tem.
    Felizmente aqui registadas e quão valiosas elas são.
    Não fora assim e qualquer dia já ninguém conhecia o ancinho...
    Vou contribuir com os sons sobreviventes de Forninhos, para memória futura.

    O gato faz: miuauuuuu
    A galinha faz: cócórócócó
    O cão faz: au au au
    O rato faz: chiiichiiichi
    O burro faz: iÓ
    O grilo faz: cricri
    A abelha faz: zzzzzzzzzzZZZZZZzzz
    A ovelha faz: MÊêê
    A pomba faz: grrrrrou grou grou
    O tractor faz: VRummm Vrummmm
    Ainda haverá mais sons na aldeia, tirando a chuva a bater no telhado?
    Para registo no baú das recordações futuras!

    XicoAlmeida

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  8. Recordemos também os sons de crianças rindo e brincando .o som das pessoas falando .Muitos sons deixaram de se ouvir na nassa terra , mesmo o som dos foguetes nos dias de festa ,mas ainda bem que podemos continuar a ouvir os sinos tocar.

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    1. Era bom voltar a ouvir o som de uma aldeia cheia de gente. Pessoas envelhecidas, com rugas, com sorrisos e dores, sentadas ao soalheiro nalgum degrau. Crianças na rua a comer pão com manteiga…a brincar mesmo se estava frio. Ou, em tempos mais idos que já não conheci, o som dos tamancos nas ruas empedradas.

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  9. Boa noite, é com alguma nostalgia que revivo os sons de antigamente, lá por ser da cidade, passava alguns tempos aldeia,tal como têm Forninhos os carros de bois e carroças andavam nas ruas, como era bom ouvir o matraquear das rodas na calçada, o chiar e o ranger carroças, até o tempo tinha outro cheiro, o cheiro da terra acabada de lavrar o borbulhar da água no ribeiro , outros tempos, saudoso tempo que já não volta. Tempo em o street não existia porque o tempo passava calmo, hoje tudo é feito a correr quase que deixa tempo para saudar o vizinho.
    Viva o progresso?

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    1. Anónimo1/23/2013

      Por se ser da cidade, não quer dizer que não haja lembranças da mesma e se vão cultivando outras, como no teu caso em que tens a felicidade de partilhar a cidade e a aldeia.
      Anteontem transcrevi um poema de Fernando Pessoa, chamado "O sino da minha aldeia".
      Mas Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, entre o Teatro de São Carlos e a típica igreja lisboeta, a Igreja dos Mártires.
      Mas para ele ficaram para sempre gravadas as badaladas daquela igreja do Chiado. Daí o poema daquele espaço a que chama a sua aldeia.
      Para os que como alguns de nós viemos da aldeia, o toque do sino na cidade, remete-nos para lá, para a nossa terra.
      Mas sinto que os da cidade, ao passarem numa aldeia rural, sentem que o som do sino é diferente, escutam-no em silêncio e devoção, como que embrulhado pelo perfume e aroma da natureza.
      Um abraço.

      XicoAlmeida

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  10. João,
    Se o progresso dá ao homem mais e melhor, em menos tempo, então, Viva! Mas em nome do progresso destruiu-se o tipismo das aldeias.
    Já se não malha com o mangual, nem se ouve o chiar das rodas dos carros das vacas. Agora ouve-se o trabalhar dos tractores e da malhadeira. Já só se ouve o barulho do motor de rega em vez do chiar do picanço e da nora. Vá lá, ainda se ouve às vezes uma caravela para enxotar os pássaros. Já se não ouve de manhã o galo a cantar, nem nas ruas empedradas e alcatroadas se ouve o gelo a estalar. Já não ouvimos as nossas avós (e não necessariamente as minhas avós) a chamar os gatos e galinhas daquela maneira inconfundível: Biiiiiiiiiichinho, bsbsbsbsbssbsbsbssbsb/qui nina qui nina qui nina, respectivamente.

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  11. Anónimo1/23/2013

    Ontem a neve de forma discreta e misturada com chuva, voltou a Forninhos.
    Mas também a trovoada e a falta de energia.
    O som da trovoada é aquele que mais me deixa aterrado, fruto de um episódio que vou relatar.
    Tinha sete anos de idade e estava em casa com a minha mãe e a minha avó, Maria Lameira.
    Lá para os lados da Moradia, ouvem-se os primeiros trovões, já a chuva batia nas janelas.
    Ràpidamente se foi aproximando e a minha mãe e avó, começaram a rezar a Santa Bárbara, para que afaste a trovoada para bem longe "para onde não haja nem sol, nem beira, nem flor de rosmaninho...para onde não haja pão nem vinho, nem folhinha de oliveira". Enquanto assim rezavam, deitavam na fogueira um raminho de alecrim, benzido no dia de Ramos. Só que a reza não pegou, a Santinha não ouviu (se calhar não havia "rede" em Forninhos.
    Um enorme trovão estremeceu a casa que rapidamente se encheu de fumo e pensamos que o raio a tinha atingido. Saímos os três de gatas para a rua, já quase sufocados e aos gritos.
    Aconteceu que o meu pai tinha cá fora junto a uma oliveira frente à casa, bastantes pinheiros cortados e ramos.
    O raio caiu sobre a oliveira, rasgando-lhe o tronco - ainda hoje visível - e incendiou a madeira, que mesmo molhada lançava chamas da altura da casa, visíveis do Outeiro, o que associado aos gritos, juntou o povo no combate ao incêndio.
    Foi um grande susto, mas podia ser pior!

    XicoAlmeida

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  12. Anónimo1/23/2013

    Não resisto ao sino, apenas espero que tão depressa não toque por mim, familiares e amigos.
    Porque cada toque do sino tem um significado: badaladas que penetram dentro de nós alegria e festa.
    Tocam a rebate quase em som de guerra, toque que se mete pela pele adentro, apressado e aflitivo.Também choram muitas vezes em "sinais".
    Penso que continua a ser o "rei do som" na aldeia.
    O recordar do som das matracas na rua da aldeia, que emitiam som cavo e ritmado, com pancadas secas, fazendo lembrar a semana da Paixão.
    À semelhança do amolador com a sua gaita de beiços, também o capador tocava a sua gaita e toda a gente sabia que não era outro. Coitados dos porcos.
    Se calhar também já conheciam a voz da tortura deles.
    E o ta-ta-ta-ta-ta do motorzeco da motita do Tio Augusto Marques, com o atrelado atrás, a ir para a fazenda do Porto.
    Tanta coisa para recordar!

    XicoAlmeida

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  13. Já se falou de muitos sons da nossa aldeia, uns que já não existem outros que ainda vão existindo.
    Também eu tenho sons que nunca vou esquecer.
    Como tu dizes Paula, eu ainda sou do tempo dos tamancos, naquela época era rara a criança que não calçasse tamancos, quando saiamos da escola íamos pela rua do lugar que tem pedra de calçada, todos a correr o som dos tamancos na calçada ficava no ouvido de toda a gente.
    Na altura das vindimas o meu pai começava a concertar os pipos, ao bater nos arcos com o martelo à volta do pipo para os por no seu devido lugar, era um som que se ouvia em toda a aldeia.
    O som dos sachos na sacha do milho, o som da sachola ao arrancar as batatas, o som do cabaço ao tirar a água do balado, o som do ribeiro dos mancões no inverno, o cantar do cuco no mês de Maio.
    São muitos os sons, uns que se ouviam outros que ainda se ouvem na nossa aldeia.

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  14. Anónimo1/23/2013

    Sons da aldeia.
    A grande maioria dos sons que o Xico mencionou também os tenho na minha memória e por isso os subscrevo. O que para mim é totalmente desconhecido é o som do noitibó.
    Um que me lembro com prazer era o som do órgão da nossa igreja, tocado pelo pároco de então – o Sr. Padre Albano.
    Outros sons que também ficaram na minha memória: o das pessoas caminharem nas ruas das calçadas fazendo ruído com tamancos e tamancas brochadas, assim como o dos carros de bovinos que através do chiar do eixo e das rodas com tiras de ferros e grandes pregos cabeçudos deixavam sempre som e rasto por onde passavam.
    E quem não se lembra do prazer que dava ouvir deitado na cama a chuva a cair no telhado, assim como no carnaval, pela calada da noite, o som dos funis usados pelos rapazes nos casamentos das raparigas ou o som das matracas em sexta-feira santa?
    Quem não se lembra do som dos foguetes a estalarem na passagem dos exames da 3ª e 4ª classes e das festas do 15 de Agosto dedicadas a Nossa Senhora dos Verdes, em que à frente da Banda a tocar ia um fogueteiro deitando foguetes aqui e ali anunciando a Banda a passar?
    Outro som muito agradável, era quando a rapaziada aos Domingos à noite pegavam no então Carlos Melias com a sua concertina acompanhada de ferrinhos, davam a volta ao povo cantando as modas que a concertina tocava.
    Gosto de recordar quando se ouvia o som do cantar da poupa. Dizia-se: lá vem ela com o aviso de poupança, e a seguir ouvia-se o cuco e dizia-se: daqui para a frente já tudo medra e espolinhava-mo-nos no chão anunciando um bom prelúdio para os dias que se seguiam.
    Não gosto do som do grito dos porcos no dia da matação, como se diz em Forninhos, nem de recordar os sons provocados por choro da perda de pessoas, nem do sino a tocar sinais pelo mesmo motivo.
    Os sinos com os sons estridentes através do seu bronze, ouviam-se a alguns km de distância e na minha infância dedicava-se a seguinte cantilena aos sons dos sinos:
    O de Dornelas tocava:
    Tem lêndeas, tem lêndeas, tem lêndeas
    O da Matela respondia:
    Tirai-las, tirai-las, tirai-las
    A sineta da Moradia tocando respondia tristemente:
    Com quê, com quê, com quê
    O sino de Forninhos arrematava:
    Com um martelão, com um martelão, com um martelão.

    Margarida Albuquerque.

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    1. Anónimo1/24/2013

      Maravilhoso comentário, Margarida.
      Tanto som maravilhoso, só pode mesmo despertar memórias e alguma nostalgia.
      A cantilena, simplesmente fabulosa.
      Para variar, os de Forninhos, só mesmo à martelada!
      Um beijo grande.

      XicoAlmeida

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  15. Simplesmente fantástico este post. Parabéns. Carlos Domingues

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  16. Anónimo1/24/2013

    O NOITIBÓ

    Não creio que a Margarida, desconheça o som do noitibó, talvez apenas se não recorde.
    É uma ave nocturna, tamanho médio, com asas e cauda cumprida.
    Durante o dia fica parada e passa despercebida, devido à sua plumagem ligeiramente acastanhada mas mais cinzenta, e apenas depois do sol posto, se desloca para caçar insectos. Daí raramente ser vista.
    Esta ave chega cá bastante tarde e raramente canta antes de finais de Abril.
    O seu canto é composto por um trinado contínuo, que ouvido nas noites quentes de Junho, pode ser confundido com o da cigarra.
    Antigamente rezava a crença que ela mugia as cabras durante a noite. Fantasia dos antigos!
    Quem não recorda a expressão, quando se chegava tarde e a más horas a casa: "malandro, andas de noite como os noitibós"?
    Apenas me recordo de ouvir o seu cantar, para cima da Estrecada, já mais perto de Valongo, por vezes intercalado pelo piar do mocho.

    XicoAlmeida

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  17. É muito gratificante saber que ainda há filhos desta terra que dão o devido apreço que a mesma merece…outros “Valha-me Deus”…sinceramente!
    O comentário da minha tia tem tudo o que muitos dos que aqui entram, de dia e de noite, poderiam também dizer, desde comentar o som do órgão, que com certeza foi um som que na época do Sr. Pe. Albano dominava o coro da Igreja, ao toque da concertina do ti Carlos Melias. Será que foram vivências que ficaram só marcadas nas retinas e na memória auditiva da Margarida “Cavaca”?
    Chegavam a deitar foguetes pela passagem dos exames da 3.ª e 4.ª Classes. Houve forninhenses que passaram com distinção no exame, ao que julgo! Mas causa-me uma certa estranheza que nem a passagem tenha ficado gravada!
    E da linguagem simbólica dos sinos, donde resultou uma cantilena ou lengalenga? Sobre isto não vou comentar, porque a resposta do Xicoalmeida diz tudo o que eu poderia dizer!
    Só me resta acrescentar:
    Pena que até o bater dos arcos dos pipos que tão bem a Maria lembra e as pregadas sobre os caibros das casas que também ecoavam por toda a aldeia se tenham perdido.
    Vale a pena lembrar que a história da nossa aldeia far-se-á de “retalhos” de imagens, património, estórias, sons, cheiros e cores, searas, animais, clima, festas...tudo.

    Abraço

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  18. Anónimo1/24/2013

    Compreendo o teu desencanto pelo comodismo de algumas pessoas.
    Vão-se cultivando entre este Blog e a televisão.
    Não imagino que nestes tempos, ainda andem na escola de adultos a aprender a ler e escrever.
    Assim é mais cómodo e de borla e até estamos em tempo de crise...
    Mas também crise de valores.
    Vão morrendo os avós e pais, e as pessoas não as questionam, parecem não ter orgulho do seu passado, do que sofreram, parecendo que apenas lhes deixaram terras, pinheiros e casas.mas deixaram uma riqueza infinita de trabalho, honradez e a tradição dos bons costumes.
    Um dia os filhos perguntarão, como eram os avós, como nasciam as batatas, como se fazia o vinho e a resposta será " o meu pai dizia que era assim e assado, mas já não me lembro bem".
    Não lembram porque não querem, questionem e registem.
    Tem é de haver vontade e acima de tudo gosto.
    Alguém me pode dizer onde há um registo tão real, do que foi e de que forma, a nossa terra?
    Aqui, apenas e graças ao empreendorismo e sacrificio de uma pessoa, chamada Paula e meia dúzia de colaboradores.
    Talvez estejam à espera do livro sobre Forninhos e aí venha tudo condensado.
    Desenganem-se! O que aqui se tem registado, é maior que qualquer livro, porque aqui estão registos de sentimentos, de coração, de amor de forninhenses e de quem desta terra tanto gosta.

    XicoAlmeida

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  19. Anónimo1/24/2013

    Não tenho recordação do Sr. Padre Albano a tocar o orgão na igreja.
    Mas recordo-me de o orgão estar colocado no coro, encostado à parede.
    Acho que naquela altura iam para o coro, os menos devotos, conversando por vezes entre eles e menos atentos à Liturgia.
    Também os mais atrasados, para não parecer mal, para lá iam.
    Também eu para lá fui algumas vezes e uma ou outra vez, portei-me menos bem.
    Era miúdo e traquinas, por isso dois ou três brincalhões adultos, felizmente ainda hoje o são, incitaram-me a "tocar" o orgão, na galhofa, claro.
    Lá dava aos pedais para encher de ar e carregava nas teclas ao calhas, enquanto os marmanjos que me "empurraram" para o acto, tapavam a boca para não rebentarem a rir.
    O Padre interrompia a missa, olhava para o coro, abanando a cabeça em sinal de reprovação, em baixo as pessoas também murmuravam "mas que falta de educação", enquanto me escondia atrás do grandes.
    Claro que depois se comentava e sabia que ia haver arrelia quando chegasse a casa.
    Acho que Deus já me perdoou.
    Ao menos ai dei som ao orgão, embora sem melodia.

    XicoAlmeida

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  20. Anónimo1/24/2013

    Recordam-se das caravelas no meio das vinhas, para espantar a passarada?
    Eu recordo-me bem de as ouvir tocar nas Zandroas e era espectacular.
    Já não me recordo como eram feitas, mas sei que tinham um penico.
    Agora vim a saber, mas possívelmente nem todas da mesma maneira.
    O que consegui apurar, foi que eram construídas com uma armação de madeira e um penico que servia de tambor.
    Dois badalos de madeira, suspensos por uma correia de cabedal, pregada a um eixo de madeira.
    Ao rodar com a força do vento nas pás, os badalos batiam no fundo do penico, causando tal barulho que os pássaros amedrontados fugiam.
    E lá se poupavam mais uns litros de vinho.

    XicoAlmeida

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  21. Xico:
    O teu comentário acima tocou-me especialmente.
    Mas sabes que estou a perder todo o encanto pela nossa terra, por isso talvez um dia eu não queira de lá, nem casa, terras ou pinheiros! Acho que o mais valioso são os valores que me foram transmitidos e de Forninhos creio que são eles que vão ser a minha herança e nenhum euro os irá comprar!
    É verdade que fico muito contente por poder aqui retratar o Forninhos de outro tempo, mas eu nasci a 29 de Dezembro de 1970, pelo que como facilmente devem perceber, me é impossível lembrar do que ficou para trás! Mais não posso fazer...
    E só não deixo de escrever no blog dos forninhenses, porque já que cheguei até aqui, sempre quero ver, para comparação, o que vai ser dito no tal livro e do documento final apresentado, que vou comprar, espero retirar aspectos que possam ser importantes para nós (aqui).

    Um abraço meu.

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  22. Falas ainda das caravelas para espantar a passarada e o órgão da Igreja. Tais caravelas ainda chegaram aos dias de hoje, no ano passado ouvia-se em casa dos meus pais o barulho de uma. O órgão, é que não se sabe ao certo desde quando desapareceu, presume-se que alguém o vendeu. Hoje restaurado não digo que podíamos ouvi-lo na nossa Igreja, digo antes que bem conservado podia ser divulgado num futuro museu de Forninhos, pois seria importante dar valor àquilo que os nossos antepassados com muito sacrifício ajudaram a comprar, digo isto porque provavelmente foi o povo que o ofereceu à Igreja, mas até pode ter sido oferecido por alguma família à Igreja ou mesmo à Irmandade de Santa Marinha.
    Será que no arquivo da Igreja não há documentos que nos contem a proveniência do órgão? E de como se evaporou?
    Há terras em que se preocupam em manter em razoável estado de conservação os testemunhos dos outros tempos, mas em Forninhos, não sei como é, não se dá valor e tudo desaparece e como têm medo de expressar a sua opinião cada vez mais assistimos à perda de testemunhos de outros tempos. Ultimamente desapareceu do espaço igreja um confessionário esteticamente muito bonito! Até parece que estorvava…

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  23. Anónimo1/24/2013

    Está tudo a saque, mas não acredito que ninguém saiba como desaparece tanto testemunho religioso nesta terra.
    Deve imperar a lei do silêncio, e do medo, mas de quê e porquê?
    Se há um roubo comunica-se, se há suspeita, indaga-se.
    Já o saudoso Zeca Afonso, no seu poema "Vampiros", dizia:

    No céu azul sob o astro mudo
    Batendo as asas pela noite calada
    Vêm em bandos com pés de veludo
    Chupar o sangue fresco da manada
    ...................
    Eles comem tudo
    Eles comem tudo
    Eles comem tudo e não deixam nada

    Será isto obra de vampiros?
    Eu sei lá, ele são santos, santas, santinhos e falta depois o milagre de aparecerem.


    XicoAlmeida

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  24. Paula,

    Essa imagem do sino é linda.
    Eu amo ouvir o badalar dos sinos. Me dá uma emoção forte por dentro. Acho que nunca ouvi aqui, mas na minha Paróquia no Brasil, toca aos Domingos, e eu ouvia de minha casa.
    Um lindo final de semana. Beijos

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  25. Quando a gente lá está, talvez nem se repare bem nos sinos, mas quando se tira uma foto destas é que vemos como este sino é muito bonito.

    Obrigada Lucinha, bom fim de semana e um abraço de amizade amigo.

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  26. olá,
    parabéns pelo artigo!
    não resisto a deixar aqui um projecto pessoal que desenvolvo desde 2008, justamente sobre a preservação e divulgação do património acústico da minha aldeia e aldeias vizinhas: www.sonsdealvoco.yolasite.com
    continuação de bom trabalho, é o meu desejo sincero
    abraço,
    Luís Antero

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