Acontecia que o jornaleiro por não ter posses para preparar uma refeição, comia e bebia aquilo que o patrão lhe dispunha em cada ocasião. E, como os ricos são, regra geral, avarentos, dispunham ao pobre jornaleiro pão duro e barolento, uma sardinha conservada à força do sal e uma tira amarelada de toucinho rançoso e o vinho era o das borras do pipo ou algum já muito avinagrado, pois esses trabalhadores não podiam passar sem o exilir H2O roxo e bebiam tudo o que lhe viesse aos queixos.
Só que jornaleiros havia que exigiam boa pinga durante a jornada de trabalho, lançando, se caso fosse, o ultimato de que, sem bom trato não tocariam na enxada nem na rabiça do arado. Quantas vezes não se ouviu "pão barolento, vinho vinagrento, sardinha salgada, cava tu enxada"!
O ideal seria uma botelha de vinho tirado do pipo grande, do qual o patrão se servia, mas isso nem pensar!
Valia então aqui muitas vezes a perspicácia de alguns patrões.
Em Forninhos, por exemplo, havia um patrão que fornecia aos jornaleiros água-pé, um vinho mais fraco, menos alcoólico, que podia beber-se em maior quantidade e era o que geralmente os trabalhadores dos ranchos e campanhas consumiam no trabalho do dia a dia e também às refeições, por tal, a rotularam num pretérito não muito distante de vinho dos pobres (em alternativa, há quem a chame de champanhe dos pobres, dado que, por vezes, a água-pé tem um ligeiro pico que pode passar por gaseificado).
Conta-se até que esse patrão, na hora do jantar (hoje o nosso almoço) tocava uma corneta para um familiar do seu trabalhador ir buscar ao seu armazém água-pé. A água-pé era fundamental, para o trabalhador prosseguir com as suas tarefas, ao ponto de fazer parte do "contrato da jorna".
Valia então aqui muitas vezes a perspicácia de alguns patrões.
Em Forninhos, por exemplo, havia um patrão que fornecia aos jornaleiros água-pé, um vinho mais fraco, menos alcoólico, que podia beber-se em maior quantidade e era o que geralmente os trabalhadores dos ranchos e campanhas consumiam no trabalho do dia a dia e também às refeições, por tal, a rotularam num pretérito não muito distante de vinho dos pobres (em alternativa, há quem a chame de champanhe dos pobres, dado que, por vezes, a água-pé tem um ligeiro pico que pode passar por gaseificado).
Conta-se até que esse patrão, na hora do jantar (hoje o nosso almoço) tocava uma corneta para um familiar do seu trabalhador ir buscar ao seu armazém água-pé. A água-pé era fundamental, para o trabalhador prosseguir com as suas tarefas, ao ponto de fazer parte do "contrato da jorna".
Que interessantes as tradições e lembrei desse provérbio. Os homens e suas invenções...sempre dando jeito de aos outros enganar! beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarO sr humano nunca está satisfeito. Ainda há dias ouvi que quando havia sardinha em casa uma dava para três e era uma grande festa quando tocava uma a cada um. O jornaleiro por sua vez, dizia mal da sua vida se a pinga não prestava.
Eliminarbjs, boa semana.
Presumo que o patrão que referencias, fosse o Amaral.
ResponderEliminarSe os mais velhos tal lessem, diriam ter acabado o respeito em não o tratar por senhor, mas adiante. Recordo ainda o armazém cheio de lagares com dezenas de pessoas a pisarem o vinho e aquelas pipas enormes de metros de altura, cujas vinhas chegavam a produzir sete mil e quinhentos almudes (multipliquem por trinta litros). Era muito vinho para ele e vender. Podem perguntar se clandestinmente os "desgraçados" não podiam aproveitar, mas como se não estava fermentado e o das pipas guardado a sete-chaves?
Ficavam sujeitos, que remédio, pois se andavam á jorna, tipo contrato de boca até a campanha terminar e foi assim e até hoje que muitos na altura partiram para França em busca de melhor sorte, pois de vinho eles sabiam tratar.
Mas outros havia que andavam ao dia. Pouco tinham de seu, não sendo pequenas courelas quase sempre arrendadas, mas como dispunham de tempo, coragem e sabedoria, alugavam os braços e enxada, que o trabalho não metia medo. Por norma a médios lavradores, uns mais amigos que outros, conforme a necessidade, mas havendo dois a pagar de igual modo o trabalho, o escolhido era o do melhor vinho e comida, e andando a sêco (a comida era por conta do trabalhador), no final do dia ainda havia quem os brindasse com dois litros de vinho para levarem e por altura da matação do porco, lhes era entregue uma morcela e um bocado de carne da barriga.
E assim muitos passaram a vida inteira, deixando a morte para trás, e como que remungando, cantavam: "Se a morte fosse interesseira, ai de nós o que seria, o rico comprava a morte, só o pobre é que morria"!
Era um Deus, não te esqueças que quando ía a Forninhos, os rendeiros tiravam o chapéu e faziam-lhe uma vénia que a cabeça chegava aos joelhos!
EliminarNestas últimas décadas, muita coisa mudou. Em tempos idos, o vinho escasseava nas adegas e também faltavam trocos para o beber na taberna, todo o vinho produzido em Forninhos era consumido e não chegava, hoje o vinho fica nas cubas por não haver quem o compre e quem o beba; os novos pouco vinho bebem e os mais velhos, cada vez bebem menos.
Dantes, não, a lei do pobre era comer antes que sobre e isto aplicava-se também à bebida, principalmente o vinho.
Agora é tudo rico, mas já as nossas avós diziam aquela lengalenga que começa assim: “à morte ninguém escapa, nem o rei, nem o papa…”.
Vidas difíceis estas dos jornaleiros onde os senhores usavam e abusavam da sua mão de obra.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Acontece que quando a mão de obra encareceu, originada pela partida de muitos jornaleiros para a emigração e para a imigração interna, foi a decadência de muitos senhores.
EliminarConclusão: precisavam mais os ricos dos pobres do que os pobres dos ricos avarentos.
A reviravolta dos tempos!
Deles nada resta, nem estátuas, nem placas, nem nomes nas ruas de Forninhos.
Um relato muito bom, Paula, coisas assim nos fazem pensar... Quanta esperteza e egoísmo nessas atitudes dos patrões. Ser bondoso e sensível trazem lucros valiosos...
ResponderEliminarAbração nesta nova semana...
Assim era a vida nas nossas aldeias, Anete!
EliminarAbraço, boa semana.
Bela história.... pobres dos pobres.... sempre o pior.. e os ricos cada vez mais ricos!!!
ResponderEliminarBela história antiga!!!!
Sempre ouvi que "quem não rouba, nem herda, não tem senão merda" e acho que continua actual, só que hoje quem mais tem nem sempre herdou!!!
EliminarBoa noite Paula,
ResponderEliminarGostei imenso deste artigo escrito de forma brilhante como nos tem vindo a habituar.
Memórias semelhantes não tenho, porque na minha aldeia todos tinham um pedaço ou mais de terra para trabalhar para proveito próprio.
No fundo o que a Paula narra não é senão a extrema pobreza em que o povo vivia explorado pelo patronato de então.
Se agora há diferenças sociais nesses tempo eram gritantes.
Tenho muita pena do modo como os nossos antepassados viviam e eram tratados em contraste com a luxúria dos grandes.
Um beijinho.
Ailime
Bem-haja Ailime.
EliminarPerturba-me também saber que enquanto os ricos enchiam a barriga do bom e do melhor, os outros passavam fome!
Beijinhos, bom fds.