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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

À fala com os animais...

Não eram assim tantos os animais que as pessoas tinham em casa, ainda assim quero evocar a maneira como as pessoas chamavam cada espécie dos animais da casa.
Então que animais havia nas casas de Forninhos? Havia o cão e o gato e, claro, os inevitáveis (e indesejáveis) ratos. Num galinheiro no pátio da casa ou no espaço por baixo do balcão, patim das escadas, havia as galinhas e o galo. Ocasionalmente uns perus e uns patos. De vez em quando também havia uns coelhitos numa coelheira. No cortelho ficava o marrano que havia de dar para todo o ano. Nos baixos da casa, havia as vacas e o burro ou burra. Se a família vivia melhorzinho podia ter um cavalo. Perto de casa, no curral havia as ovelhas e as cabras. 
Mas vamos então às formas de chamamento de cada animal.



Os gatos
Havia uma relação próxima com os gatos. No meu tempo alguns já tinham nome, mas quando era para virem comer algumas espinhas chamavam-nos sempre assim:
-biiichiiinhooo, bsbsbsbsbs...
E lá vinham os gatos ter com quem lhe dava comer ou queria acarinhar e consolar.

Os cães
Chamavam-se pelo nome, não havia cão sem nome:
- Mondego! Anda cá.
Para dar ordens assobiava-se. Cada assobio, uma ordem.

As galinhas
Não tinham nome. Quando se lhes punham milho ou couves no chão o chamamento era assim:
-quenina, quenina...quenina...
- piu...piu...piu...
E não é que elas vinham mesmo?
Às vezes também metiam um molhinho de couves preso com uma pedra e as galinhas ali depinicavam. Havia também a pia de pedra, onde bebiam.
Para as enxotar:
- xô...xô...xô...

O porco
O porco era dos animais mais queridos das famílias. Não por amor ao animal, mas porque com a matação a família tinha carne para todo o ano e daí, claro,o grande amor e amizade ao marrano. E como é que chamavam os porcos?
- Reco-reco-reco!

As vacas
Como falavam com elas?
As vacas tinham nomes, como os cães. Havia a Bonita, Amarela, a Castanha, a Malhada, etc...e falavam-lhes com autoridade:
- Volta cá Bonita (ou outro nome que dessem ao animal, ele entendia!), vem cá ao rego! E aquele típico "eia,ou, ao rego ou!". Os animais gostavam.

O burro e a burra
Quando se zangavam com estes animais, não os tratavam mal, os donos até eram pacientes:
- Arreda! Chega!
- Arre! 

As cabras e as ovelhas
Para se falar com os caprinos era assim:
-Chiiiiba! Chiiiba! Oh, tchibinha!
Para comer:
- Mé-mé-mé...
Com os ovinos, era mais berrar a imitar a sua própria voz.

Os coelhos
Nada de especial, não tinham nome, nem havia conversa com eles.Gostavam deles, mas não eram muito acarinhados com palavras...

Foto, Galinhas: cortesia da Natália Cavaca.

23 comentários:

  1. Que legal isso e todos temos sempre parecidos o modo de tratar e conversar com os bichos e claro, como os ratos são indesejados, ninguém os quer por perto,rs beijos,chica

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    1. Agora os ratos são menos frequentes, mas para eles em "casa que não houvesse gato" o tratamento habitual era ratoeiras e veneno!
      Beijos.

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  2. ....
    ....
    Tudo igual na minha terra , na casa de meus pais...
    Menos o burro e as ovelhas..
    Com um detalhe .Criámos milhares de frangos de aviário que
    chegavam á Ilha no voo da manhã. Eram do dia.
    Óbvio, que o voo chegava às 9 ( a.m) teriam nascido no dia
    anterior. Aos 200 , de cada vez. Eram criadas condições para
    os receber.Aquecedor a gàs .Recinto redondo com aparas,ração
    àgua com vitaminas e pouco a pouco couve e hortaliças da horta. Fofinhos e quentinhos eram colocados no seu novo habitat com cuidado e ternura.
    À medida que cresciam o recinto ia alargando até ocuparem toda a área. Eram vendidos por encomenda.
    Quantos mais houvesse mais se vendia.
    Só que nunca houve condições para maior quantidade.
    Tratados com um carinho especial até irem para o tacho.
    Uma escola lidar com animais.
    O meu Snupy , chorei por ele , acho que já vos contei..
    As ninhadas de gatos minha avó Maria resolvia-as á nascença
    senão era " o Diabo " !!
    Hoje comesse carne nos Kebab's e nos restaurantes chineses
    sabe-se lã a origem e o tratamento....
    Muitas crianças nem sabem como nasce um frango ??!!
    Depois nunca ninguém percebe porque se morre de cancro aos
    quarenta , cinquenta anos.....
    Hoje em dia temos lá em casa um roedor .O KiKo.
    Um poço de sabedoria .Sabe onde está a raçao. Os legumes e
    basta abrir uma porta para ele dar sinal...
    Fico em "estado de choque" ver animais abandonados em plena
    Lisboa do Sec XXI...

    Para quem gosta BOM CARNAVAL...

    Abr
    MG

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    1. Também tive um Snupy, melhor, dois Snupys!
      Houve e há também um aviário por lá, mas acho que agora os frangos são criados d' outra forma, sem hortaliças da horta e somente com rações hormonais para cresceram mais rápido e, claro, sem direito à luz natural.
      Acho que dantes havia muita sensibilidade para com os animais da casa. Basta olhar para algumas portas antigas para ver a existência de um buraco na porta por onde os gatos podiam passar, a meu ver, isto era mesmo muito humano!
      Hoje não é assim, hoje das duas, uma, ou os maltratam sem dó nem piedade ou tratam-nos caprichosamente dentro de casa, como se de pessoas se tratassem!
      Quanto aos animais que iam para o tacho, não só eram bem tratados como eram protegidos dos perigos a que estavam sujeitos. Exemplo: Era normal a dona da casa ofertar ao Santíssimo uma chouriça avantajada, que seria arrematada no adro da Igreja. Numa população rural onde o porco era fundamental para a alimentação das famílias antes que surgisse alguma doença que levasse à morte do bácoro as pessoas prometiam ao Santíssimo que lhe ofereciam uma chouriça ou uma peça do porco (cabeça, chispes, etc.) se ele não adoecesse.
      Ainda hoje se fazem ofertas ao Santíssimo, mas já não é bem como dantes, claro.
      Boa Semana.

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    2. .....
      .....
      Os Animais prevêem as tempestades
      Cuidam dos donos..
      Guiam os cegos...
      Alimentam no petisco..
      Os Animais dão espectáculo
      Sofrem....
      Nascem e morrem..
      Têm dor e tristeza...
      Os Animais são Vida
      São Mundo..
      São Mitos...
      Têm poder..
      São divinos...
      São Natureza..
      Os Animais trabalham
      Na pesca..na Horta..
      Na sementeira ..nos desastres..
      Os Animais choram..
      Sofrem de solidão...
      Beijam e mordem..
      Os Animais...
      Nunca desiludem..
      São heróis ...num Mundo...
      Sem Rumo..
      Os Animais.....
      Nunca falham !!


      Abr
      MG

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    3. Que bonito, em cada frase parece que visualizamos os animais...eles que nunca desiludem nem falham!!
      Bom fim de semana.
      Abraço.

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  3. Muito interessante. Nós nunca tivemos mais do que, galinhas e galos, patos-mudos, coelhos e porco. Tivemos uma vez uma cabra, mas já foi mais tarde, quase pelos fins dos anos 60. Mas eu trabalhei numa quinta enquanto não fazia os 14 anos para poder trabalhar na Seca. E lá havia também dois cavalos, uma mula, e 8 vacas. E o modo de tratar os animais também era assim.
    Abraço Carnavalesco.

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    1. Lá em casa só não tivemos ovelhas e burro, mas o meu avô materno teve rebanhos e mais tarde uma burra. Um meu bisavô materno teve um cavalo!
      Também tiveram perus, que criavam para vender na feira por altura do Natal e longe de os comprarem pequenos, usavam o processo primitivo de chocar os ovos!
      Agora "doido" por vacas era o me avô paterno, os filhos até diziam que ele "gostava mais das vacas do que deles (filhos)". O meu pai herdou esse ADN.
      Abraço e um bom Santo Entrudo!

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  4. Muito bom, Paula, o seu post da fala, conversa com os animais. Para cada um, um carinho e gesto...
    Um abração p você e boa continuação da semana...
    # O desafio do Ciranda é com "3 palavras"... Mas, amei a sua frase...

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    1. Pequenas coisas que muitas vezes nos passam ao lado, Anete!

      Beijo e boa semana também.

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  5. Vendo o título, num repente o que me veio à memória foi Miguel Torga e a sua obra " Os bichos" e confesso que não fiquei defraudado nesta mistura "animalesca" em que as personagens se fundem.
    Se faz recuar no tempo, este bonito texto...
    O dia mal madrugava e já era uma azáfama numa casa de lavoura ainda de candeia acesa, havia que tratar dos animais(o ganau) para a faina.
    A vianda para os porcos que mal a sentiam e ainda quente, arremetiam em fúria sustida apenas com um cavaca no focinho e num troar de "porco malvado", mas piores as porcas ao parir, que enquanto saía um de cada ninhada, se rebolavam em dor e como tal podiam matar os filhos, valia o carinhosos falar da dona " calma minha linda, calma, olha que belo, tão rosadinho". E acalmavam pela sabedoria popular que a cada um destinava uma teta da mãe e punha ordem na casa.
    A manjedoura das vacas tinham de ser surtidas de feno e a pia de pedra também com uns caldeiros de agua quente misturada, pois daí a nada, tinham pela frente um dia de carregar ou lavrar.
    Mandar nelas nas tarefas era complicado.
    Os meus pais e desde que me lembre e até a idade e saúde permitir, tiveram juntas de vacas para tratar da vida, umas mansas, como a Amarela, outras mais estouvadas como a Escalhoa que depois de parir, tinha de ser apeada por ser parelhota (dava coices)com um rabeiro para ser ordenhada.
    Minha mãe e do que me lembro, sempre vigiou o parto, não fora esta comer as páreas e ficava em causa a vida de ambas, mãe e cria e a sossegava num lamúrio terno de "linda menina, vaquinha forte de um raio...".
    Nos lameiros e puxando o arado para as sementeiras, era o tradicional "Eia, ao rego, filha da mãe que não apanha o jeito, ai que ainda levas uma bordoada nos cornos", certo que as coisas se compunham.
    Havia o soltar das galinhas para fora dos galinheiros, isto nos tempos em que a Guarda não aparecia para multar, pois mais fácil era estes aparecerem em carros de aluguer, do que um médico a socorrer um moribundo e aí, era o famoso "Xô, Xô" para os galinheiros.
    Depois havia tantas mais coisas...
    Os coelhos mudos e surdos que nem gemiam antes de irem para a panela, mas que pelo cheiro chamavam os cães, quedos na distância e chamados pelo "pôche, pôche" dos donos para arrebatarem as entranhas, enquanto os gatitos medroso tinham de ouvir o "miau, miau, bichaninho" para virem aos restos.
    O meu avõ materno teve uma burra, dizem que uma burra boa pois a minha mãe e ele chegaram os dois a montar nela e irem para as feiras. Era pequenita quando ele morreu, mas ainda hoje diz que bastava ele dizer "arre burra" e ela acometia serra acima sem medos nem preguiças.

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    1. Pois era, os cães eram e são chamados por "pôche, pôche"ou "pôchinha, pôchinha" ;-)
      E para enxotar os gatos não se dizia de um modo rude: "sape-gato"?
      E "rai da pita" quando uma galinha fazia uma asneira?
      Contudo havia uma boa relação com os animais e eles gostavam.
      Vê lá se te lembras de mais alguma fala ;-)

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  6. Boa noite Paula,
    Achei este artigo muito engraçado. Os animais eram muito bem tratados pelos donos que lhes chamavam esses nomes meio carinhosos, mas desta vez não me recordo de como eram chamados na minha aldeia. Só me lembro dos piu-pius.
    Beijinhos e continuação de boa semana.
    Ailime

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    1. Na aldeia, a seguir ao piu-piu aprende-se a chamar os gatos daquela maneira inconfundível: "Biiiicho, bsbsbsbsbss...". Para qualquer criança de dois ou três anos é uma vitória!
      Beijinhos.

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  7. Que maravilha de post!
    Lendo-o, parecia que ouvia chamar os animais.
    Adorei a forma de os chamarem.

    Beijinhos.

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    1. Obrigada. Ao escrever sobre estas expressões comunicativas andei mais de 30 anos para trás e gostei, descansou-me e fez bem!
      Beijinhos.

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  8. Minha mãe também os tinha mas a mim falta-me a coragem de os ter e depois precisar de mandar matar!!!
    Gostei imenso deste belo recordar!!!bj

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    1. Compreendo, mas no mundo rural tal é normal, as pessoas partilham o espaço entre si e com os animais que são por norma de dois tipos: ou são selvagens ou são domésticos e a sua função é por vezes servir de alimento às pessoas.
      Quem nasceu há 50/60 anos melhor que eu sabe da importância dos animais para a sobrevivência da família. Bjo.

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  9. Muito interessante este trabalho e estes chamamentos dos animais muitas vezes são espontâneos e tão naturais que nem pensamos neles como comunicação.
    Um abraço e bom fim-de-semana.
    Andarilhar || Dedais de Francisco e Idalisa || Livros-Autografados

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    1. É verdade, mas eram muito usuais estes chamamentos tal como os gestos espontâneos.
      Exemplo: quando uma criança olhava para alguém que estivesse a comer pão, tinha de se lhe dar um pedaço para que não ficasse "auguada".
      Com os animais, repare, é igual.
      Também se aplicava a expressão "auguado" a qualquer animal que olhasse para as coisas e não lhe podia chegar.
      Bom fim de semana.

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  10. E então Cuco a quem gritávamos para as serranias?
    É por esta altura do ano que ele vem e se ouve na nossa aldeia o tradicional desafio ao cuco:
    " cuco, cuco ramalheiro, quantos anos estou solteiro?"
    Ele respondia:
    " cucu, cucu, cucu" no seu cantarolar, e cada canto corresponde a um prolongar desesperado de mais um ano sem casar...
    Porventura o único animal com quem se falava e aguardava a resposta, daí a sua chegada ser todos os anos notícia alvoroçada:
    "já ouvi o cuco e já me espolinhei no chão...".
    Ai o danado do cuco ramalheiro que tinha por casa o ninho alheio...

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    1. Agora também me veio à memória "Os Bichos" do Torga com o "Cuco do Minho, Cuco da Beira, quantos anos me dás solteira" e o Farrusco, o melro, que se ria da resposta que o cuco maroto dava à Clara. Mas também se diz que os diabos dos melros riem-se de tudo!
      Os animais selvagens comunicam muito entre si. Outro exemplo:
      - viste lá o clérigo?
      - lá o vi lá o vi lá o vi...

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  11. Por aqui nunca tivemos animais...
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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