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sábado, 10 de dezembro de 2016

À minha Beira vou...

É tremenda a solidão do Natal
para um beirão nesta cidade capital
sem alma, sem nada, quase indiferente...
Inventam-se uns presépios por obrigação,
sem a ternura do musgo e devoção
da minha aldeia e da minha gente...


À minha Beira vou
em cada esquina, em pensamento,
subo a serra e lhe dou
estes versos-sentimento.

Atravesso mataguedos.
Salto fragas e penedais.
Tenho saudades dos medos,
e da casa dos meus pais.

À minha Beira vou,
ao berço, à terra-mãe
subo a serra e lhe dou
hossanas por Jerusalém!

À minha Beira vou
deste barulho e confusão
subo a serra e lhe dou
a alma e o coração!

mas:

À minha Beira não fui, p'raqui fiquei
P'ra lhe dizer, p´ra lhe contar
que o meu poema
é nostalgia, pena
por cá ficar...

Guardo num berço pequenino
nostalgia desse tempo e dos meus,
memórias, presépios de menino...
Que saudades, meu Deus!!!

E, sem querer, subo à serra, à minha Beira...
e sinto-me menino de novo,
no meio da gente do meu povo,
na festa de Natal verdadeira...

O Natal de Lisboa (25-12-1984)
Uns versos, de Ilídio Guerra Marques, com saudade dos verdadeiros Natais em Forninhos, da festa de Natal verdadeira.

24 comentários:

  1. Este verso tem uma profundidade que por vezes fica um labirinto tão grande, que quase nela nos afogamos na mistura de sentimentos, naquele amor profundo pela terra e a leitura das lápides de suas raízes, cujas coisas restam por descobrir e do que a seguir pode vir...
    Manifesto a gratidão que connosco tiveste no ano transacto, por nos presenteares na quadra natalícia e de modo particular, com este sentido poema, porventura das mais bonitas lembranças de Natal que aqui e de modo particular, fomos agraciados, a tua.
    Pouca gente imagina o conforto e a força para continuarmos a prosseguir e escrever sobre o cascalho, reconstruir memórias puras e tais darmos por benditas.
    Este ano celebramos aqui o Natal de todos; mais da aldeia que nunca, o Natal dos ausentes de Forninhos, os seus residentes, emigrantes, o Natal de todos, o da saudade, da nostalgia, dos presépios de meninos que queriam subir a serra no meio das suas gentes, na procura do Natal Verdadeiro.
    Que saudades, meu Deus!!!
    Bem haja Ilídio por esta prenda de Natal!

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    1. Eu gosto muito deste poema, o tom popular até me faz lembrar o "Natal...Na província neva" de Fernando Pessoa. Quer Pessoa, quer o Ilídio imagina a família na província, reunida, conseguindo na sua unidade familiar continuar as tradições natalícias.
      Na cidade, quando saímos à rua, falta aquela brisa gelada que até corta, falta o cheiro das várias lareiras que aquecem as cozinhas ainda activas. Falta o musgo e até os presépios com o lago feito do papel interior dos maços de cigarro.
      Na cidade, tudo é luz e Jingle Bells por todo o lado, enquanto na aldeia, quando nos juntamos, canta-se uma versão mais cristã do refrão do "Gingle Bells":

      Toca o sino, pequenino,
      sino de Belém
      Já nasceu o Deus Menino,
      para nosso bem.

      E outras lembranças da nossa terra que já não imaginava, se não fosse este "À minha Beira vou..."

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  2. Bonito verso. Bom domingo!

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Sem dúvida, um bonito verso.

      Boa semana!

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  3. Bom dia Paula,
    Um poema que me tocou o coração, uma vez que comungo dos mesmos sentimentos do autor.
    Até a foto me fez lembrar como eram verdes e macios os musgos de então.
    Uma excelente partilha.
    Obrigada!
    Bjs para si e Xico.
    Bom domingo.
    Ailime

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    1. Obrigada Ailime. Escolhi esta foto porque o autor fala da ternura do musgo e porque em 1984 quando se pensava em Natal, pensava-se logo em musgo para atapetar o chão dos presépios. O musgo do presépio tinha de ser o mais macio, fofo e verde e havia sempre quem sabia onde havia o melhor.
      Beijinhos e boa semana.

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  4. Magnífico poema que se adequa a tanta gente( incluo-me) que passa o Natal, sem o calor de outrora!

    Beijinhos.

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    1. Hoje o Natal é digamos, mais artificial, os interesses comerciais e o exibicionismo sobrepõe-se à verdadeira festa. Acho que na aldeia o pior é o frio, mas também Natal sem frio não é Natal.
      Beijinhos.

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  5. .......
    .......

    " É tremenda a solidão do Natal.."
    " Inventam-se uns presépios por obrigação..."

    Uma tremenda VERDADE, num belo texto !

    Bom Domingo
    MG

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    1. E tão actual passados quase 30 anos!

      Abraço.

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  6. Uma realidade poética carregada de saudade!
    Obrigada pela partilha!!!bj

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    1. Ainda bem que sentimos saudade, é porque valeu a pena viver o que recordamos. Bjo.

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  7. Um poema muito bonito que carrega a saudade de quem está longe da terra natal. Já passei por isso embora a grande maioria da minha vida o tenha passado nas terras da minha infância.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. Elvira, eu como tenho passado todos os natais em Forninhos, mal lá chego, sinto o mesmo que o autor "menino de novo, no meio da gente do meu povo..."
      Abraço.

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  8. .....
    .....
    Quem se quiser conhecer bem e conhecer o verdadeiro Mundo que o rodeia que passe um Natal sózinho ou mesmo uma passagem de ano .Eu passei um dia de Natal sózinho(estive com visitas ate
    de madrugada ) e duas passagens de ano.
    Sempre por opção própria e nunca por falta de convites .
    Preferi estar sózinho.
    Adorei. Tornei-me mais pessoa . Mais humano .
    Ver gente á procura de comida no lixo na passagem de ano em Lisboa ( quando de gasta milhões em fogo de artificio ) falar
    com essa gente e tentar percebê-los , tornou-me mais humano mais pessoa , mais "rico" ! Partilhei e cresci .
    E encontar pessoas na solidão ,a precisar apenas de um abraço de um olá , apenas de um aperto de mão.
    Ir a uma missa na Penha de França com meia dúzia de pessoas.
    Velhotes sózinhos. Isolados a orar. Caminharam sózinhos pela calçada . Chuva miúdinha . O " menino nasceria " pouco depois mas a esperança esfumava-se nos lençois da Solidão ...
    Nessa Solidão da cidade falta o " calor" do nosso lugar .
    Mas muitos nem têm Lugar ou Aldeia. Apenas uma Calçada fria no meio da escuridão .
    Tão cruel e duro como o fascínio na Gruta de Belém.
    Ganhei outras defesas , outros olhares , outras vantagens e
    acreditei mais no nosso caminho !
    Se tiver de repetir , repito, sem medo.
    Vale na grande cidade. De um milhão.
    Como na pequena de cinquenta mil .
    Fiquei a perceber a verdadeira dimensão do egoísmo em que estamos mergulhados.

    Abr
    MG

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    1. António, obrigada pela mensagem Humana que irradiará daqui para o mundo, porque o Blog d'os Forninhenses tem gente por tudo que é lugar que vai lê-la.
      Um abraço amigo.

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  9. Muita paz e saúde no natal e em todos os dias do ano! Que o verdadeiro sentido do amor seja presente em todos os momentos, sempre! Felicidade. Ives Vietro

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    1. FELICIDADE. Não pode haver sentimento mais abrangente que este. Se estivermos felizes é porque tudo o resto está bem. Assim sendo, para si, os mesmos votos que para os restantes dias do ano...e de todos anos: Felicidade!
      Abr./Paula.

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  10. Paula, um poema muito bonito! Cheio de boas lembranças e preciosidades do verdadeiro Natal!
    Um abraço e tudo de bom para você e família...

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    1. Para si também, e que o novo ano que está aí a chegar traga tudo de bom para si e família.
      Beijinhos.

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  11. Oi Paula, adorei o poema, carregado de sentimentos, e quem não tem um natal da nossa infancia pra recordar e sentir saudades...
    lembro que era tão diferente... sinto saudades de como era bom, hoje é bom também, mas é bem diferente.
    já em clima de natal, receba um abra.ço carinhoso

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    1. Olá Fátima, um poema antigo que nos traz lições de amor, de saudade, partilha e união. Faço minhas as suas palavras, hoje é bom, mas o espírito de Natal é bem diferente desse tempo, porque as pessoas cada vez estão mais individualistas.
      E como Natal é tempo de dar a receber, receba também um abraço carinhoso meu.

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  12. Anónimo1/06/2017

    Nesta Lisboa cidade,/
    Tão longe da minha Beira,alta serra,/
    Dói me a alma com saudade,/
    Do Natal na minha terra./

    Paula e Xico, que a alegria do Natal em Forninhos contagie família e amigos e seja prenúncio de Novo Ano verdadeiramente Bom.

    Um abraço grande a minha terra.
    Ilidio

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    Respostas
    1. Parabéns e um grande bem haja pela participação n' O Forninhenses.
      São estes pequenos passos que muito nos incentivam.
      Abraço e feliz continuação de um Ano Bom.

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