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sábado, 29 de outubro de 2016

"Comer e Calar..."

Não era só em Forninhos, por este Portugal fora, a mulher dependia do homem e vivia sob as suas ordens. Nem a frase "Lá em casa mandam elas" lhe atribuíam igualdade, superioridade então...! Estavam preparadas para a sua condição inferior, até por ficarem atrás na igreja, enquanto os homens ficavam à frente.


Em Forninhos houve sempre homens mal formados que maltratavam as suas mulheres, uns, porque passavam o dia na taberna, a jogar e a beber até se emborracharem e depois de noite vinham para casa entreplicar com a mulher. Outros, porque eram maus por natureza davam enxertos de porrada nas mulheres por tudo e por nada! Essas "comiam" se deixavam a porta aberta e também "comiam" se a deixavam fechada!
Quando se fala do assunto vêm logo à baila o nome dos mais "famosos".
A uns dava para bater, a outros dava para partir a loiça e a outros dava para andar atrás da mulher com uma corda, um pau, uma faca, a ponto de a mulher ter de dormir fora de casa, até que a bebedeira ou a ira passassem ao homem e ela pudesse voltar para casa.
E, nesses tempos, elas tudo sofriam, sem revolta, tomando esses actos como normais, sendo que algumas, por vergonha, ainda os encobriam; já outras ainda se gabavam de nunca os homens lhe terem posto um dedo em cima! Coitadas!
O cenário nas aldeias mudou, já não se ouvem gritos de "Ó da guarda", "Acudam-me", "Quem m´acode" e até na igreja muitas ficam à frente, ao lado dos homens, mas a realidade é que ainda por lá há casos de violência, mais de violência psicológica, casais de que toda a gente fala e ninguém faz nada, porque "entre marido e mulher ninguém mete a colher".

23 comentários:

  1. Penso que em todo o lado se encontra uma história semelhante...e não só nas aldeias!
    Infelizmente...no mundo atual ainda há muita mulher maltratada diariamente!
    Educar no sentido de respeitar o outro...é bem urgente!
    Claro que o sossego da aldeia...permite um conhecimento mais rápido de algo errado!
    Bj amigo

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    1. Mas na aldeia há mais vergonha. As mulheres encobrem e em vez de eles sentirem vergonha pelo acto, elas é que sentem vergonha.
      Já houve um caso denunciado e na hora "h" a mulher negou e só faltou dizer que o marido era um santo!
      Bjo amigo.

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  2. Infelizmente, é pratica comum tanto em aldeias como cidades e em todos os níveis sociais.

    A falta de princípios aumentou a olhos vistos!

    Beijinhos.

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    1. Ainda assim, nas cidades à menor lambada, já os maridos têm uma queixa nas autoridades, nas aldeias nem por isso.

      Beijinhos.

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  3. Um belo artigo que espelha com muita realidade este terrível problema da violência doméstica, apesar das mentalidades já terem melhorado é um facto que a violência ainda continua em muitos lares portugueses.
    Um abraço e bom fim-de-semana.
    Andarilhar

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    1. As mentalidades melhoraram porque em tempos só o homem trabalhava e tinha dinheiro e elas dependiam totalmente deles. Com melhores trabalhos e salários, elas também o tendo, o dinheiro já abunda em casa e melhorou a educação e há outro respeito pela mulher.
      Bom fim-de-semana.
      Abraço.

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  4. "... já outras ainda se gabavam de nunca os homens lhe terem posto um dedo em cima...".
    Ai se pudesse falar em nomes do antigamente e do agora, presente...
    Mas a gente ia vendo as marcas de brutalidade e ao soalheiro ou nos terrenos de cultivo para quem andava ao dia, desabafos discretos mas sempre na defesa do seu homem, um brutamontes que vestiam de o melhor de todos.
    Apetecia dizer o nome de um destes, mas de tantos anos passados acho que a corda que prendia pelos cornos da vaca, a mesma com que arriava na mulher, seria, não fora a idade, pequena para o enforcar.
    As mulheres tinham o medo que o estado novo em nada lhes abonava. Falar mal do marido?
    E o despeito, " ficas sózinha minha miserável com a arrebanhada de filhos à tua conta, ora essa, vai-te confessar e domingo quero-te na missa, porta-te bem, senão à noite sabes como elas te coçam...".
    A missa limpava os pecados. Alguns destes hediondos de forma snob, carregavam o pálio na procissão, senhores de bem, depois de comungarem adiante da mulher que ia quase por obrigação, regressava em silêncio e de lágrimas clandestinas.
    Houve também mulheres que nas bebedeiras habituais se punham a jeito e na bulha, era um alvoroço divertido na vizinhança, habituada a estes ensaios vespertinos.
    Mas ainda hoje na missa dominical, predominam os homens à frente e as mulheres atrás.
    Ainda hoje, algumas que cantam loas ao maridinho, pela noite adentro esfregam remédio nas costas para aliviar algumas bordoadas...mesmo com o cabo da vassoura.
    Uma pena!

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    1. Mas feitas as contas só duas ou três famílias é que andavam na boca do povo! Mas esses era a vinhaça já outros são maus por natureza e ainda hoje impõem medo às suas mulheres, só que com requinte! Não sei se lhe batem ou não, mas que elas vivem uma relação violenta vivem, porque a agressão não é só física é também psicológica. Estas mulheres precisam de ajuda, mas creio que não querem ser ajudadas.
      Na missa. Não é só durante a celebração que predominam os homens à frente e as mulheres atrás. No Natal, na hora de beijar o Menino a maioria das mulheres espera que os homens passem à frente!
      Pararam no tempo!

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    2. Isto é como puxar o fio à meada pois a dubadoura não pararia toda a noite a noticiar nomes.
      Que grande novelo daria!
      Por mim, felizmente nunca escutei insinuações, muito menos relatos dos meus avós ou pais, a vida era demasiado exigente e partilhada para estas "porcarias" das quais ainda os "maqchos" moribundos se orgulham, mas como o mais miserável dos fascínoras, se escondem por detrás de roupas novas das feiras que aconchegam com a mão no peito aquando do tomar a hóstia.
      Eles e apesar de poucos, ainda andam aí!

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    3. .....
      Há bem pouco tempo uma paróquia do Funchal ( Santa Maria Maior ) os homens ficavan atrás na missa .
      Bebedeiras e porrada está cada vez mais igual. Elas levam e dão . Na Policia , num Tribunal, manda o que as mulheres dizem .
      Bem sei o que sofri com o meu divórcio. Porra !!
      Mas talento , fuga , trabalho e arte leva-me a rir dez anos depois destas questões. Quando morrer, três homens vão dizer olhando oara o meu corpo frio :
      " este gajo nunca falhava de manhã , nem com 35 ,nem com 50 anos .."

      Abr
      MG

      ( no dia das bruxas )

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  5. Que pena que isso exista,penso ainda vai continuar! bjs, lindo fds! chica

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  6. Assunto muito delicado e, infelizmente, perdura nos dias de hoje. Causa, cultura, formação ou álcool, mal de quem passa, ou passou por isto. O álcool dá muita força e faz heróis a quem não o é, estando são. Mas uma coisa é certa, nos dias de hoje, a violência doméstica, ainda perdura e faz vítimas, é pena porque, actualmente, falta de formação ou cultura, não é desculpa. Há que ajudar a evoluir quem para no tempo.

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    1. Queria dizer, quem pára no tempo.

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    2. O assunto é delicado, eu sei, por tal fui buscar o antigamente, que no meio de tantos casos até há uns bem cómicos. Mas a violência doméstica existe e não podemos tal ignorar.
      Sobre o álcool há um ditado que diz mais ou menos isto: "quem beber um pouco mais que a conta, canta que nem um galo, um pouco mais fica forte que nem um leão e quem beber mesmo demais fica como um burro."
      O seu conteúdo vai de encontro ao que dizes.

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  7. Lembro-me de antigamente se dizia, dessas mulheres "quem se obriga a amar, obriga-se a padecer"
    Conheci muitos casos de violência doméstica, alguns até na família.
    Mas no antigamente. Agora não. Mas todos sabemos que os há. A prova são as mais de quatrocentas mulheres mortas, pelos maridos, companheiros ou namorados nos últimos dez anos.
    Um abraço e bom Domingo

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    1. Também há o provérbio "Quanto mais me bates, mais gosto de ti", mas sobre o tema já vai sendo hora de passá-los todos à história.
      Boa conclusão, Elvira!
      Bjo/bom domingo.

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  8. Infelizmente as ainda há muito a fazer...a discriminação continua.


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Continua e não é por a mulher ter de criar os filhos sozinha, fazer a comida, tratar da casa, pois cuidar dos filhos e das tarefas do lar não tem nada de inferioridade, nem têm de se sentir inferiores por isso, até é vocação, agora tomar a mulher com sua escrava, bater-lhes ou impôr-lhe medo, como eles fossem seus donos, é crime.
      Um bom domingo.

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  9. Boa tarde Paula,
    Um artigo que fala de um drama que penso ter-se acentuado nos tempos modernos.
    Pelo que li, em Forninhos, era dramático.
    Como sabe vivi numa aldeia durante os meus primeiros treze anos dos quais guardo muitas memórias, onde se sabia tudo, onde se comentava tudo (hoje ainda é assim) mas não me recordo de naquele tempo (anos sessenta) ouvir falar de violência doméstica. Parece utopia. Penso e posso afirmar que já havia alguma formação na minha terra e gente muito boa. Pessoas humildes que trabalhavam de sol a sol, mas não me recordo de ouvir falar de que este ou aquele batia na mulher.
    Copitos quase todos bebiam, mas depois da ceia caiam na cama que nem tordos,))!!
    Como lhe disse noutro artigo, já existiam muitos homens que trabalhavam fora da aldeia noutras actividades. Será esta a explicação?
    Existiriam também muitos casos de violência física decerto, mas as mulheres calavam-se e como trabalhavam no campo ninguém as via.
    Nas minhas proximidades não acontecia.
    Na igreja os homens ficavam atrás e as mulheres à frente e as crianças junto ao altar.
    Sobre ser escrava da casa e depender do homem, isso sim!
    Sei que a violência física era generalizada, mas actualmente há a física e a psicológica que também deixa danos muitas vezes irreparáveis.
    Excelente o seu artigo que vem alertar sobre um tema infelizmente ainda muito actual e agravado.
    Um beijinho e boa semana.
    Ailime
    (Desculpe falar sempre na minha aldeia. Mas acho que tive sorte no local onde nasci,))!

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    1. Ailime, fico espantada por saber os homens atrás na missa, porque na minha terra as mulheres ficam sempre atrás, mesmo nas procissões, já antigamente era assim: à frente, os homens, as crianças e associações religiosas; atrás, as mulheres!
      Mentalidades? Coisas de Bispos e não da Igreja Católica? Não sei...sei que em casa as mulheres se sentiam inferiores aos homens, porque dependiam do dinheiro deles. Predominava a actividade agrícola que não era remunerada, salvo raras excepções.
      Para o que se passava na minha e sua terra, talvez seja esta a explicação, sim! Dantes elas não ganhavam um "tusto" retorquiam, apanhavam. Hoje já não vivem sob as ordens do homem, podem retorquir que não apanham.
      Mas nem todas...
      Por lá ainda há violência, mas ao que nos é dado a conhecer é mais psicológica do que física e quando falamos em violência a nossa mente está mais para pensar no mundo masculino, mas elas também são violentas há casos em que "lá em casa mandam elas" mesmo e não é porque eles dependem delas, porque também eles têm actividade remunerada, aqui, são elas que são más por natureza e são eles que "comem e calam"!
      Fale sempre da sua aldeia. Eu gosto e é sinal que dá valor ás suas raízes e origens, o que nem sempre acontece àqueles que saem da sua aldeia, vão para a cidade e esquecem o ancinho, conhece a história?

      http://onovoblogdosforninhenses.blogspot.pt/2011/07/o-ancinho_07.html

      Beijinhos e um bom feriado, que retornou :-))))

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  10. Realmente, Paula, coisas assim continuamos vendo nos nossos dias e em toda parte! Infelizmente!! Ainda bem que as mulheres têm se tornado mais espertas e reagido melhor...
    Um abraço e boa semana...

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    1. E já temos um dia das Mulheres, Anete! Senão era mais um dia que passava em branco para muitos e muitas.

      Abraço&Beijos.

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