Na primeira metade do século passado, o bailarico era a principal atracção nas tardes de domingo (excepto na quaresma), onde todos dançavam ao toque duma concertina ou uma gaita de beiços (realejo), com modas da tradição musical e popular: fandangos, contradanças, viras e corridinhos, em que o próprio tocador não perdia uma. A mocidade chamava o tocador de fora para a função: as raparigas confeccionavam o comer e os rapazes faziam uma colecta para arranjar uns cobres para o compensar.
Largo da Fonte |
Imaginem o Largo da Fonte repleto com a sua gente que, de roupa domingueira, se apresentava para a única distracção a que tinham direito depois duma intensa semana de labuta.
A tia Cecília com um pau na mão, junto ao baile, a correr com os miúdos para irem para a igreja rezar o terço.
A tia Cecília com um pau na mão, junto ao baile, a correr com os miúdos para irem para a igreja rezar o terço.
Imaginem também o povo que não dançava, as mães sentadas em volta da fonte e no muro do pátio da tia 'Pincha' a ver como as filhas se comportavam.
Encontrões, piscadelas, uma saia rodada que mostrava mais do que devia...e as filhas não podiam dar 'cabaço' a um rapaz, caso o fizessem para dançar com outro, armava-se logo ali uma algazarra.
Na segunda metade do século começaram a surgir os rádios e os gira-discos e os bailes domingueiros já se faziam junto ao Café do Sr. Virgílio, que tinha um altifalante por cima da porta d'entrada; só nos dias de festa da aldeia era hábito 'falar' a um tocador de fora.
Depois vieram os conjuntos musicais, mas isso já exigia maior preparação para o baile e cartazes a anunciar o baile pelas aldeias vizinhas, algumas vezes, estabelecendo entradas pagas.
Com o correr dos tempos os bailes foram perdendo terreno para outras manifestações mais cosmopolitas e, com isso, começou a ser mais rara a iniciativa popular, hoje, quase só por iniciativa das comissões de festas e autarquia ainda se consegue trazer à memória e à saudade do povo, o antigo baile popular.
Depois vieram os conjuntos musicais, mas isso já exigia maior preparação para o baile e cartazes a anunciar o baile pelas aldeias vizinhas, algumas vezes, estabelecendo entradas pagas.
Com o correr dos tempos os bailes foram perdendo terreno para outras manifestações mais cosmopolitas e, com isso, começou a ser mais rara a iniciativa popular, hoje, quase só por iniciativa das comissões de festas e autarquia ainda se consegue trazer à memória e à saudade do povo, o antigo baile popular.
Tive que rir, imaginando a tia Cecília colocando os rapazes pra correr para irem à igreja, certamente de "MUITO" boa vontade,rs... Lindas lembranças aqui! Velhos tempos e hábitos! bjs, chica
ResponderEliminarDantes, algumas pessoas levavam a sua religiosidade muito a sério! Em Forninhos, houve uns anos em que o padre não permitia que fizessem esses bailes em qualquer dia ou lugar da aldeia!
EliminarBj**
Aquando tal imaginamos, vem uma das muitas modas.
ResponderEliminar"Ó minha Rosinha,
Eu hei de te amar,
De dia ao sol,
De noite ao luar.
De noite ao luar,
O minha Rosinha,
Eu hei de te amar.".
Nas resteas de coisas contadas, saltam pontas de nomes que fizeram a felicidade de tantas gentes.
Os tocadores de realejo ou concertina.
Atrevidos pelo dom da melodia, ao domingo ou dia santo, vinham para Forninhos, terra de larga e linda mocidade, catrapiscar as raparigas, sendo certo que seriam bem recebidos e barrigas acomodadas pelos camaradas que com eles e seus rebanhos partilhavam a serra de S. Pedro.
Tantos "Tocadores" das redondezas por aqui passaram...
O Joao Moleiro das Forcadas, concertineiro.
O Joao Caetano de Penaverde.
O tio Ilidio do Prado conhecido por ter um boi de cobertura, e...
Nao esquecer o Senhor Graciano dos Valagotes, para mim especial.
Tinha a taberna, a camioneta de carga para as feiras e a concertina.
Quando a mocidade, na idade da minha mae, anos quarenta do seculo passado, vinha da Santa Eufemia com os sapatos na mao, para poupar, em vez de descansarem, soltavam a alegria genuina numa eira de granito, sapateando uma vintena de rapazes e raparigas, cantando ao som da sua concertina.
Era outra festa, a deles!
Depois, sim, a coisas foram evoluindo e ao mesmo tempo um certo encanto.
Os altifalantes, gira discos, conjuntos e etc...
Prefiro ver a banda passar por ter coisas para contar...desse tempo!
Recordar os bailes daquele tempo é tocar na alma da gente. Recordam dias, episódios, músicas, nomes de tocadores...
EliminarA propósito do calçado, a minha mãe recorda ir a casa buscar os sapatos velhos para as irmãs dançarem. Imagino (só imagino) que o entusiasmo era tanto que nem vagar tinham de ir a casa (que por caso não ficava longe do largo da fonte) trocar de sapatos!
Não podiam perder uma!
A música e a dança fazem parte da História e da vivência de um Povo !
ResponderEliminarEm pleno Sec. XX ainda havia Forninhenses , que atribuíam á dança, em dia da Festa (15 de Agosto) , uma malvadez da Vida
como forma de impedir ecos de gerações de infortúnio e dor !
Assim se foi perdendo a força do bailarico ..por todo o lado.
Abraço
MG
É hábito as pessoas mais velhas 'condenarem' os conjuntos musicais, gostavam mais que o toque da concertina voltasse ao 15 de Agosto.
EliminarQuando em 2013 fiz parte da Comissão de Festas de Nossa Senhora dos Verdes a principal queixa é a barulheira dos conjuntos.
O corte e costura são outra festa à parte, António!
Abraço.
Na minha terra igual , Paula.
EliminarPor isso " apaixonei-me" por Lisboa.
No " luto" do meu divórcio , fiz aquilo que minha mãe não me deixou fazer na Juventude. E aquilo que não
pude fazer em liberdade , enquanto casado !!
Dançei todos os fins de semana de 2007 a 2009 .
Num fim de semana dançei na Ponta Pargo , numa Sexta e no outro extremo , no Caniçal ,no Sabado.
Arraiais na minha Ilha é de Abril a Novembro.
Acontece que na Segunda seguinte , na tasca do meu
pai já a minha familia sabia que eu tinha estado nos dois arraiais !Sem que eu imagino quem foi o notável " espião" ?
No Santo António de Lisboa , em pleno T do Paço danço
até de madrugada e no meu prédio a dois km ninguém
sabe de nada !!
O drama nos meios pequenos são os rótulos/adjectivos
com que se classifica (m) as pessoas . Dói !!!
Mas acho que muita gente tem vergonha da sua própria
sombra e foge dos bailaricos , porque os olhares
são "sentença divina" !!
Enfim...peço a Deus que ne leve num dia de Dança !
Bfs
MG
O dia de baile nestas terras era um dia sagrado, um dia de convívio social e em que o povo se reunia, hoje infelizmente é o futebol.
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Mas em Forninhos se calhar nem há jogadores suficientes para um jogo de futsal, enquanto antes o largo tornava-se pequeno para tantos pares e jogar à bola (é que também ali se jogava à bola).
EliminarAbr/Cont. boa semana tb.
Tradições e costumes que se perderam com a evolução dos tempos.
ResponderEliminarA minha avó falava-me dos seus tempos de menina e dos bailes no largo da igreja.
Beijinhos.
"mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"... já assim dizia o nosso Camões!
EliminarBeijinhos.
Gostei de saber desses costumes tão espontâneos e divertidos... O tempo passa e ficam lembranças inesquecíveis...
ResponderEliminarAchei interessante a "obrigação" de ir à Igreja, sempre existiu, mas deve ser uma ida livre e atraente!
Abração...
Olá Anete, em certa altura a Igreja apercebeu-se que não podia obrigar as crianças a rezar, nem as mulheres de bailar. Agora as mulheres vão à Igreja e quando há um baile dançam!
EliminarQuando há um par que não dançou naquele tempo, ouve-se dizer isto:
- Fulana e sicrana não dançaram quando eram novas, agora de velhas tiram a desforra!
Beijos&Abraço.
É bom ver a sua resposta, Paula!
EliminarHoje me referi a vc no Vida & Plenitude/ porta-prato!
Bjs
Confesso que nunca tive jeito, com pena minha para bailar ao toque, muito menos a outros tipos de "toques" menos ainda agora. Burro velho nao tem andadura, reza a nossa ironia...
ResponderEliminarMas ainda nao sinto que me tenham tolhido os passos calculados da memoria o que me alegra, sobretudo por vividos e nao inventados.
Recordo de modo vago, mas que tenho como firme por tal sido propagado de um rapaz bem maroto de Forninhos num baile por altura da Pascoa, bailar com uma linda rapariga a quem tinha de "pagar" as amendoas pelo tradicional jogo da reza.
Bailavam na altura ao som de um gira discos envoltos em poeira nas sombras das oliveiras em frente do cafe.
Ela pediu na malandrice as amendoas, mas meia recatada pois a familia toda ali estava e ele, safado e meio babado lhe diz que podia meter as maos nos seus bolsos que tais encontraria.
Meteu, mas nao encontrou o forro, mas algo que nao esperava e acreditam que mais tarde casaram?
Quando com ele me encontro, rimos e risposta para mim, meio arrenegado.
Entao e tu na Matela, no arraial em que a avo da miuda te desapertou dela por teres fama de namoradeiro e ela ficar com ma fama? Valemos os mais velhos em teu auxilio, pois se os outros podiam catrapiscar as nossas, a gente tinha o mesmo direito.
Tinha pisado o risco, mas a gente corria por gosto.
La me ia safando por ter alguma pinta, mas dancar...aprendi um bocadito com o meu primo Graciano e duas Macieiras antes, tinha andado meia duzia de anos num seminario e...
Valia a mocidade solidaria da altura, mais forte que a dos mosqueiros, fosse nos jogos da bola pelas redondezas ou arraias, tal como um dia no lugar da Moradia.
Ela, bonita, dava "negas" a torto e direito. Tentei a sorte e acertei.
Por minutos. Lembro o palco de meia duzia de metros a emanar musica e depois, tudo pelos ares, tabuas e ferros, gritos, festa acabada e a gente, a nossa nobre gente, a fugir por entre os milhos ao som das espingardas.
Por tanta coisa tenho saudades do tio Carlos Melias, encavalitado na burra a tocar a concertina e a gente a bailar...segurando o animal para nao descambar!
Era bonito!
Hoje é assim...
EliminarEu só quero andar direito
Mas ás vezes não há jeito
Que vontade de gritar
Tenho filhas pa criar, não dá pra vacilar
A luta começa
Mal eu saio de casa
Muita gente nenhuma brasa
E se alguém se atravessa
Tipo faixa de gaza
Respiro fundo depressa
Não me mata, só atravessa
Apanho a camioneta
Com a miúda pró infantário
Lá fora tá um homem
Que me tira pinta de otário
Para ele transporte público
Quer dizer pouco salário
Ele vê tudo ao contrário
Porque é outro o meu erário...
Eu só quero andar direito....
........................( bis)
Carlão ( PacMan)
Na Batalha
Bfs
MG
Mas no tempo das nossas avós (e mães) não podiam dar 'cabaço' a um rapaz, sujeitavam-se a levar umas bofetadas no meio do baile! Não eram atitudes dignas de louvar, mas aconteceu nos bailes de Forninhos. Nesses tempos, valia a cultura da rudeza!
EliminarClaro que aquelas que o faziam eram as mais prendadas pela beleza, essas, eram as mais cobiçadas pelos rapazes e as mais invejadas pelas raparigas.
Pancadaria! Era o aliviar do "stress" desse tempo! Armavam as zaragatas sem qualquer motivo!
Um mundo que vive transformações, tecnológica e moral e que nos deixe uma saudade danada da vida que passou. Um belo dia a todas mamães.
ResponderEliminarÉ, todos, mais velhos e menos novos, temos lembranças dos bailes de domingo à tarde e a nostalgia desperta dentro de nós!
EliminarBom fim de semana.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarUm registo muito interessante da evolução dos bailaricos!
Lá na minha aldeia quando eu era pequena (já na segunda metade do sec. XX) havia dois salões onde acordeonistas famosos abrilhantavam os bailes. Eram só para maiores de 17 anos, se não me engano.
Como tive sempre pé de chumbo e timidez que bastasse nunca (e aqui muito menos no tempo dos yé-yés) aderi aos bailaricos.
No entanto realço que eram para além da festa anual o acontecimento que mais animava a rapaziada de então. As mãezinhas sentadas em redor para guardarem as filhas que segundo constava lhes davam a volta de outra maneira.
Tempos idos que muitos agora nem sonham e que é bom lembrar no seu excelente relato para que as memórias não se percam.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime
Em Forninhos os bailes eram mais ao ar livre, mas também se fizeram na sede da Junta que tem um salão para festas. Ali, nem todas as mães deixavam ir as filhas bailar à noite. Bons tempos. Marcaram um tempo e uma geração estes bailes, em termos de convívio e contactos entre rapazes e raparigas.
EliminarHoje só por iniciativa das comissões de festas e autarquias se faz um baile, mas as “causas”, essas, são outras!
Eu gostava e gosto de dançar; nos novos bailes, menos, mas ainda danço uma ou duas modinhas ;-)
Beijinhos e bom fim de semana.
Boa tarde Paula,
EliminarOs bailes nos salões eram ao domingo de tarde;))!!!
De noite ninguém saía!
Tenho a certeza que essas gerações se divertiram bastante, pois como não havia outras distracções tiravam o maior proveito e assim se iniciavam também a maioria dos namoros e posteriores casamentos.
Beijinhos e um bom domingo.
Bailaricos que uniam "as gentes" de um povo que passava a semana no trabalho duro!
ResponderEliminarMagia de outros tempos...bj amigo
O que unia a gentes era o sentimento de amizade. Conviviam sem outra intenção que não fosse divertirem-se! Hoje tudo é diferente, a convivência deu lugar à conveniência!
EliminarBj amigo tb.