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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Mangual

Iniciamos hoje uma nova rubrica que pretende publicar neste BLOG algumas fotografias de coisas nossas que um dia já foram assim e que ao mesmo tempo retratam aspectos importantes do passado colectivo da nossa aldeia.




Nesta primeira publicação recordamos uma malha de centeio, numa altura em que ainda era feita com o mangual, que foi um utensílio muito usado na debulha dos cereais em quase todo o país.

18 comentários:

  1. Esta é a fase em que se deu a grande mudança nos costumes e modo de vida das pessoas do interior, ou seja, no segundo trimestre do século XX.
    O que vemos nestas fotos, são já sinais de mudança, porque, numa época anterior, as malhadas eram feitas por grupos de homens muito bem sintonizados e as mulheres limitavam-se a juntar a palha que se afastava com as pancadas fortes dos manguais e juntar os grãos com uma vassoura de giesta de flor branca e rasteira
    Para quem não sabe, os modos de malha, também variava de aldeia para aldeia, por exemplo, em Dornelas, que fica a uma meia dúzia de kms, o pirto do mangual é mais fino e comprido do que os de Forninhos, o que dificultava de algum modo a malhada em grupo.
    Assim como, também os bois em Forninhos eram aparelhados com canga enquanto em Dornelas era com jugo.
    O que vemos nestas fotos, são já sinais da emigração, os homens partiram e as mulheres continuaram a praticar a sua agricultura de sobrevivência como até ali.
    Hoje, muitas mulheres e homens que passaram por esta vida difícil, ainda são vivos, mas, felizmente com uma melhor qualidade de vida mas recordando um passado, que por mais difícil que tenha sido, é sempre recordado com saudade.
    Já me alonguei bastante, e não queria de modo algum ser chato.
    Um abraço amigo para todos.

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  2. Eu ainda me lembro vividamente dessas actividades, mas se as nao divulgar-mos a gente desta geracao, nunca saberam o que foi a vida das nossas aldeias, onde qualquer terra que nao desse milho ou batata era semeada de centeio o "nosso Pao" e que bom e saudavel que ele era!

    Um abraco de amizade dalgodrense.

    PS: Espero poder visitar a vossa linda freguesia, brevemente.

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  3. Estas fotos são de um passado bem recente, são do ano de 1980, na Lage do lugar da Cerca, em Forninhos. Quando vi estas imagens pensei em como há anos que não se ouve na nossa aldeia o bater dos manguais e, por isso, também, decidi partilhar esta actividade, totalmente caída em desuso, com todos os leitores do nosso blog, para que alguns se lembrem destes dias do passado e para, outros (os mais novos) saibam como era este momento. Hoje são as máquinas que fazem todo trabalho, desde a ceifa à malha. Contudo, em Forninhos já nem isso, já não há campos de centeio e trigo, logo, não há ceifas, nem malhas e todo este processo é hoje uma mera recordação…outros tempos, pois! No entanto, ainda existe o cultivo do milho, que n´outros tempos também era malhado nas lages, com o mangual.
    Quero também acrescentar que a nossa aldeia possuía muitas eiras, as lages como se diz na nossa terra, que são grandes lagedos naturais e que eram abertos a toda a população, onde se malhava o centeio, trigo ou milho e depois se procedia à secagem do milho e até do feno e no final do trabalho as pessoas ali se divertiam cantando as nossas cantigas.

    Nota:
    Fotos cedidas pela Família “Carau”.
    Bem-Haja às várias famílias forninhenses que no último mês me fizeram chegar várias fotos antigas do nosso passado e que terei, a seu tempo, todo o gosto de as aqui publicar.

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  4. Olá,
    Que bom ver fotografias do passado, faz-nos sempre relembrar como foi o antigamente, pois ainda não foi assim há tanto tempo como parece, eu ainda me lembro perfeitamente destas épocas.
    Tenho a dizer que nunca gostei muito das malhas do centeio, porque eram feitas numa época de muito calor, e era um trabalho bastante duro, felizmente os tempos mudaram, e isto mudou para melhor.
    A casa que vemos na 2ª fotografia, ainda hoje existe, na cerca ao fundo da minha vinha, é uma das muitas casinhas de pedra que ainda existe na nossa freguesia. Foi muito bom rever a Tia Júlia , nestas fotografias, era uma pessoa muito amável.

    Um muito obrigada Paula, por nos recordares estas coisas do passado.
    Termino com estas bonitas quadras de uma popular canção sobre a malha do centeio:

    Eu vou malhar o meu centeio
    É de alma e coração
    Depois do centeio malhado
    P‟ra fazer o nosso pão.

    O centeio já está acabado
    E o dono não está contente
    Se este ano não se deu bem
    P‟ro ano chame outra gente

    Um abraço
    Iracema

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  5. Palha, colmo, bencelho, nogalho, rolheiro, eram os nomes utilizados para o pós malha, hoje, todos estes nomes, desconhecidos dos mais jovens, se resumiu a “fardo”.

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  6. Só por curiosidade Sr. Eduardo, “rolheiro” são aqueles fachos de feno ainda com grão, que apertados por um bencelho eram colocados na vertical, dando o aspecto de bonecos? Ou, são os molhos de “palha com grão”, ou, correctamente dizendo, molhos de espigas, prontos para malhar?

    Do bencelho lembro-me muito bem como eram feitos. E quanto ao vocábulo acho que até há bem poucos anos ainda era usado pelas nossas gentes, mas com o fim das tradicionais ceifas os vocábulos vão desaparecendo também.

    Outra palavra muito usada nestas tarefas era carrejar.

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  7. É verdade, Paula, os vocabulários, por vezes nem sequer aparecem nos dicionários da maneira que o povo fala, se bem calhar, nem se encontra lá bencelho, nogalho, ou nagalho, não fui consultar, mas é como lhes chamavam.
    Quanto ao rolheiro: podemos considerar dois tipos, um com os molhos do centeio acumulados á espera de serem malhados, isto é, ainda com o grão, outros que se usavam em algumas regiões, que eram feitos com a palha acamada depois do centeio malhado, tipo, castro redondo, com um pau ao centro, e no cimo terminava no meio, com a palha atada ao pau, e com escorregadouro para toda a volta, em plano inclinado, para que as águas da chuva não penetrasse na palha, e era sacada por baixo, durante o inverno, conforme as necessidades.
    Não sei se este sistema era utilizado em forninhos, como sabes, não nasci nesta terra nem cá passei a minha infância, daí, não posso estar muito á vontade para falar de todos os costumes das gentes de forninhos. Como é sabido, mesmo em aldeias próximas, pode haver nomes e costumes diferentes por isso, peço desculpa e que me corrijam quando erro nas interpretações.
    A palavra “carrejar”, também era muita usada, principalmente para carregar os molhos do centeio cegado.
    Um abraço amigo para todos.

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  8. Já agora, e para esclarecer a Paula.
    Os fachos, ou molhos colocados na vertical, dando aspecto de bonecas, não são de centeio mas sim de erva. Hoje ainda se vêm, mais do que de centeio, trata-se de erva criada nos lameiros, que durante o inverno serviram de pasto para as ovelhas, ou ceifar para os bovinos, e ao chegar a primavera, deixaram crescer para semente e feno para o gado.
    Quando cortado, é colocado ao alto em “bonecas” com a espiga bem juntinha e atada para a semente se não perder, e a base (feno) alargada para secar melhor.
    Esta erva não é malhada, basta sacudir e a semente cai.

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  9. Pois…estes “bonecos” ainda se vêem, aliás, lembro-me este ano vê-los aquando da Caminhada da Freguesia de Dornelas. Já quanto aos tradicionais “palheiros”, amontoados em forma redonda que serviam para guardar a palha ou feno seco de um ano para o outro, sem que a água da chuva penetrasse no seu interior, são imagens que deixamos de ver. Mas também eram feitos no passado na aldeia de Forninhos.

    Quanto a outros vocábulos, do tempo da “acarreja”:

    O “colmo” era a palha mais direita, da qual se enchiam os colchões de palha?

    Outra coisa:

    O centeio ou trigo, depois não tinha de ser limpo, erguido ao vento? Não tenho a certeza, mas acho que este processo também tem um nome típico (????). Não me lembro do nome, mas penso que tem a ver com o separar do joio, será?

    Entretanto, lembrei-me de mais dois, como:

    “pragana”;
    “gabela”.

    Em relação ao molhos atados com “bencelho” ou “vincelho”, tinham de ser atados de forma poderem-se desatar instantaneamente na lage. Havia, portanto, uma forma especial de atar o bencelho?

    Contam os forninhenses, com saudade, que este tempo que começava no São João (Junho) e geralmente acabava na Santa Marinha (Julho), era um tempo de trabalho muito forçado e desgastante, mas também de muita alegria e que havia espírito de entre-ajuda.

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  10. O colmo era mesmo a palha que saía mais direita, tanto servia para encher colchões, como era utilizado para fazer bincelhos com que se atava o centeio no ano seguinte, e mesmo, para atar videiras, e em tempos mais recuados, também servia para cobrir currais ou cabanas.
    O centeio era erguido ao vento, assim como o milho, hoje já se limpa mecanicamente, embora se continue a erguer o feijão como antigamente por ser em menor quantidade.
    As gabelas, é o nome que se dá aos montículos, que perdem o nome depois de se juntar em molho.
    Quanto ao separar o trigo do joio, não tenho a certeza, mas creio que é uma expressão mais alentejana, era lá que se praticava a monda, que consistia em arrancar as ervas daninhas (joio) do trigo.

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  11. Referia-me ao objecto tipo peneira, circular, que havia antigamente com as paredes em madeira muito fina e com o fundo em plástico ou metálico. Penso que este tipo de peneira era usada para separar as sementes de trigo e centeio ou até feijão. Acho que o processo consistia em atirar as sementes para cima e então o vento encarregava-se de levar “as cascas” e outras sujeiras mais leves e caía nessa peneira somente as sementes. Era um objecto muito útil para peneirar e separar o que é bom do que não presta. Vi agora no Dicionário e tem o nome de JOEIRA e servia para ajoirar o trigo, centeio e feijão.

    Quanto às praganas é de também referir que o uso de vestuário era importante na malha do centeio, pois convinha não usar roupas com pêlo/lã para evitar que as praganas se agarrassem. Já quanto ao calçado, uma pergunta (desculpe Sr. Eduardo pelo abuso):

    Que tipo de calçado se usava para proteger este tipo de trabalho agrícola? O calçado de madeira, mais conhecido por tamancos ou socos?

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  12. Quanto á peneira, eu sempre a entendi, para separação das cascas do grão, como é sabido, o centeio, trigo ou milho, depois de passar pela mó transforma-se em farinha, mas as cascas não são moídas, vêem juntas, daí, ter de ser peneirada com um crivo muito fino por onde passa só a farinha fina, ficando retida alguma que não tenha sido bem moída e as cascas a que se dá nome de farelo. Há mesmo um provérbio, “há quem aproveite o farelo e desperdice a farinha”
    Creio que a nossa colaboradora Iracema poderá esclarecer melhor este processo.
    Quanto aos tamancos, era realmente um calçado com a base de pau, normalmente de amieiro por ser mais leve, e com brochas (pregos curtos com cabeça larga e achatada dos lados) pregados por baixo, para se não romper as "solas", o que fazia um barulho muito característico quando se caminhava nas calçadas, e, principalmente quando se ia á missa com estes “sapatos”. Embora se atribua este nome a vários utensílios no dicionário, eu só conheço a brocha dos tamancos. Mais tarde, em vez de brochas, já se usava pneu.
    Este calçado era mais usado no inverno porque, como a base era de pau, tornava-se mais quente, embora houvesse quem os usasse todo o ano, por conseguinte,tambem nas malhas, mas eram muito desconfortáveis por causa da rigidêz da sua base.
    Quanto aos socos, ou socas, eu sempre o entendi como sendo os tamancos abertos atrás.

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  13. É verdade as malhas de centeio eram feitas com muito esforço.As pessoas levantavam-se de madrugada para prepararem tudo e depois durante o dia começava a malha e apesar de ser um trabalho duro no fundo era um trabalho feito com muita alegria e satisfação e com muita participação de famílias, vizinhos e amigos.Mesmo quando apareceram as malhadeiras (que tornaram o trabalho mais fácil) o dia da malha continuou a ser uma festa.Toda a gente trabalhava até os mais novos acartavam a palha.

    Cumprimentos a todos

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  14. As Palavras: Acartar; Carrejar; Gabelas, Rolheiro, Bencelho, Nagalho, Mangual, Palha, Colmo, Praganas, Joeira/Peneira/Crivo, Moínhos d´Água, estão a um passo de irem para um "museo" para serem apenas recordadas como bons tempos.

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  15. Não queria deixar passar este tema sem lembrar uma das brincadeiras muito usadas nas ceifas, que era deitar o burro. Era assim:
    - Ai que me corto! – Dizia um/uma.
    - Aonde? Alguém respondia.
    - Na mão da foice!
    - Quem te cura?
    - Maria Dura!
    - Quem te ama?
    - Maria Ana!
    - Quem leva o burro?
    - É …. – Aqui mencionava-se o ceifeiro/ceifeira que ia mais atrasado, e todos os ceifeiros imitavam o burro em voz alta.

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  16. Começo a pensar que afinal já se perderam muitos pormenores, desde os cantares, ditados e brincadeiras que apenas (e ainda) permanecem gravados na memória das pessoas mais antigas e estas pessoas sabedoras deveriam ser ouvidas, pois sãos elas que ainda conhecem os nomes antigos ou narrativas várias.

    Espero que, desta vez, a semente aqui lançada dê frutos.

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    1. Boa tarde!
      Será que alguém poderá dispor do desenho sobre a construção de um mangual? Cumprimentos

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  17. No Minho era costume, ou ainda é, fazerem a debulha do milho em grandes grupos de homens e mulheres, e recordo que era quase uma festa quando saía o milho-rei. Com essa debulha a espiga ficava separada da camisa (folhas) e depis da espiga. Não me recordo se era assim mesmo. Agradeço quem me faça o favor de esclarecer. Muito obrigado. Aguardo.

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