Esta história que hoje vos trago é de um aldeão que quis emigrar para a Argentina, deixando mulher e filhos para trás, provavelmente com a promessa de uns tempos depois "os mandar ir", mas não foi assim. Não pretendo identificar as personagens. Quem conhece, conhece, quem não conhece fique apenas a saber a história.
Deve ter sido na altura em que na Argentina a classe média chega ao poder que esse jovem tomou a decisão de deixar Forninhos em busca de melhor vida, de um sonho de "riqueza", afinal, uma partida às cegas para uma terra de "promessas".
Casado e com dois filhos, veio a ordem: havia autorização para ele partir para a Argentina.
Mas por razões que nunca ninguém entendeu - e menos ainda, certamente, a sua mulher - nunca mais cá veio, nem deu notícias, nunca mais não, passaram-se cerca de 30 ou mais anos. Os golpes de estado rebentaram com a Argentina daqueles dias e um dia, quem é que aparece na aldeia? O argentino que fora à procura do Eldorado, mas não o encontrara. Por isso, nada mais podia fazer: voltou para a aldeia pobre e de mãos a abanar, onde levou uma vida de boémio, nas tabernas falando com sotaque espanhol abertamente das jovens de Buenos Aires com que eventualmente se relacionava nas "boîtes".
E julgam que a mulher o rejeitou?
Não Sr!
A senhora, já entradora na altura, pois os filhos que criara e educara sozinha haviam ido estudar para Viseu e já estavam formados quando o pai voltou, recebeu-o como se tivesse abalado ontem..."aceitou-o", era assim que se dizia.
Dizem que viveu envergonhada até morrer, pois tinha as preocupações e mentalidade de qualquer mulher de uma aldeia amodorrada e não a mentalidade das jovens de Buenos Aires de "soutiens" bem empinados, cuecas super-sexy e outros apetrechos...
Jaz numa campa no cemitério de Forninhos - campa digna dos cemitérios dos Prazeres ou do Alto de São João - onde está gravado o seu nome completo.
Deve ter sido na altura em que na Argentina a classe média chega ao poder que esse jovem tomou a decisão de deixar Forninhos em busca de melhor vida, de um sonho de "riqueza", afinal, uma partida às cegas para uma terra de "promessas".
Casado e com dois filhos, veio a ordem: havia autorização para ele partir para a Argentina.
Mas por razões que nunca ninguém entendeu - e menos ainda, certamente, a sua mulher - nunca mais cá veio, nem deu notícias, nunca mais não, passaram-se cerca de 30 ou mais anos. Os golpes de estado rebentaram com a Argentina daqueles dias e um dia, quem é que aparece na aldeia? O argentino que fora à procura do Eldorado, mas não o encontrara. Por isso, nada mais podia fazer: voltou para a aldeia pobre e de mãos a abanar, onde levou uma vida de boémio, nas tabernas falando com sotaque espanhol abertamente das jovens de Buenos Aires com que eventualmente se relacionava nas "boîtes".
E julgam que a mulher o rejeitou?
Não Sr!
A senhora, já entradora na altura, pois os filhos que criara e educara sozinha haviam ido estudar para Viseu e já estavam formados quando o pai voltou, recebeu-o como se tivesse abalado ontem..."aceitou-o", era assim que se dizia.
Dizem que viveu envergonhada até morrer, pois tinha as preocupações e mentalidade de qualquer mulher de uma aldeia amodorrada e não a mentalidade das jovens de Buenos Aires de "soutiens" bem empinados, cuecas super-sexy e outros apetrechos...
Jaz numa campa no cemitério de Forninhos - campa digna dos cemitérios dos Prazeres ou do Alto de São João - onde está gravado o seu nome completo.
Conheço uma história semelhante só que o casal ainda está vivo e ele esteve na África do Sul !
ResponderEliminarCusta perceber!!! Bj
Foram muito poucos os emigrantes desta leva, isto é, tendo como destino a América Latina, mais concretamente a Argentina, mas histórias destas aconteceram em todas ou quase todas as nossas aldeias, infelizmente.
EliminarBj, bom domingo.
Desconhecia ter havido fluxo migratório para a Argentina.
ResponderEliminarNas minhas origens acho mesmo que não houve nenhum caso.
Venezuela, Curaçao , EUA ,Austrália.Lideraram até aos anos 70.
Inglaterra e Suiça também.
Boa estória.
Boa semana
Abraço
MG
África do Sul também outro destino de destaque dos meus compatriotas..ilhéus..
EliminarMG
Argentina, Venezuela, EUA, etc... todos foram para fora de Portugal, na miragem do Eldorado, donde poderiam regressar ricos e fazer ver aos que ficaram na terra.
EliminarMuitos regressaram tão ricos ou mais pobres do que foram. Alguns por lá ficaram.
Abraço.
Nos casos que me " tocou" de perto.
EliminarSucesso total para a VIDA apenas dois casos nos EUA.
Um padrinho meu. E um tio da minha companheira.
Todos os outros casos...a SORTE foi madrastra até para
meu AVÔ JOÃO de GOUVEIA que foi e não regressou...
Boa semana
MG
Também o meu saudoso e amigo avô paterno de nome Francisco, houvera partido no mesmo intuito mas para a América do Norte e com ele e no regresso trouxe nas algibeiras carregadas de dólares uma mão cheia do nada, houve a recessão e o dólar nada valia. Havia deixado bem entregues as terras e reergueu a vida.
ResponderEliminarMas a história não é sobre ele...
Acho que não vou melindrar niguém, mencionando nomes reais desta "novela", afinal uma das muitas coisas da vida, por vezes de sortilégios, outras de amarguras. "Do rico ao pobre, venha lá quem o descobre...".
Tenho por mania minha, aprofundar as coisas por serem contadas por reais e tal serem.
Então, o senhor que emigrou, era natural de Penaverde e tinha por nome Luisinho e alcunha o genrralho, por vir a casar com gentes de posses em Forninhos e ser de corpo fraquito, pois não estava feito nem talhado nas vontades para as lides de lagar de azeite, pertences à sorte da sua esposa Filomena Baptista, uma boa mulher que ainda e das poucas que se lembram dela a têm em consideração, tendo de facto o seu talhão no cemitério da sua aldeia e de onde e afinal, apenas abandou para estar temporáriamente em Viseu a acompanhar os filhos, José e Vasco e por vezes com o apoio do seu irmão por alcunha Pipinho, genro do senhor Zé Bernardo, este sim, um milagreiro da terra como por aqui escrevemos em sua homenagem.
O Luisinho presumo saber o que queria, estva decidido a partir e ainda hoje ouvi da boca de alguém que o encontrou no caminho em direção a Penaverde, que ia partir no dia seguinte para longe...
Sei agora pelo texto que voltou e os modos como ocorreram o seus regresso e comportamentes perante a mulher e os seus e que morreu na penúria.
Desta família lembro apenas um dos filhos o tenente da aviação de nome Vasco e que por vezes e por saudade, volta e meia aparecia na avioneta a rondar a nossa escola e tal era o alvoroço na correria para ver um avião que até uma das janelas grandes se partiu...nunca mais voltou, ficam como aqui memórias reais e sem fantasias.
Assim todos ficam a saber!!!
EliminarImagino a excitaçao, já que a maioria da garotada nunca teria visto um avião a não ser o rasto dos aviões a jacto!!
Não sabia que o Pipinho era irmão da D. Filomena, percebo agora as visitas da família Baptista ao Sr. Antoninho Bernardo, filho do 2º casamento do Sr. José Bernardo (que foi casado com a Sra. Emilia em segundas núpcias depois da 1ª mulher ter morrido).
Um neto da D. Filomena e do "argentino" foi meu professor de Filosofia, era das Antas, chegou a dizer-me que tinha família em Forninhos. Não era filho do Vasco, mas do outro filho, do José que casou nas Antas e faleceu ainda novo.
Penso que o Vasco, o aviador, vive em Aveiro.
Destes momentos de partilha, devem viver blogues como este, acrescentando mais alguma coisa fruto de pesquisa, pois ainda vai restando alguém por "lá" que suscita curiosidades e até se lembra dos nomes destas "novelas", daí a credibilidade curiosa que vestem tempos de outrora...
EliminarA história é mais ou menos essa ,mas quando o meu tio o Luis regressou,por ser casado com a minha tia Filomena,ela já tinha falecido, morreu muito nova em Coimbra em 1964 ,ficou o meu pai o meu avô e os 2 filhos da minha tia o Zé professor casado nas Antas ,com a Aida dos Paraísos ,empresa de camionagem ,tiveram vários filhos andaram por várias partes do País e morreram bastante novos ela de doença ele de acidente de viação em Viseu.O Vasco andou nas guerras em àfrica era militar tem 2 filhos e vive em Aveiro.Quando o pai chegou não o conheciam nem tinham interesse nisso ,por isso o deixaram andar e viver como quis .O meu avô sei que esteve doente e em casa dos meus pais em Viseu até morrer deve ter morrido no Hospital em Viseu,mais ou menos é isto que sei e me lembro
EliminarSabia que tinha morrido em Coimbra, mas o que contam é que foi depois do marido ter voltado. Talvez já estivesse muito doente?
EliminarSem a ter conhecido admiro muito a pessoa da sua tia.
Minha tia Profetina (da idade do Vasco) sempre fala de modo carinhoso da D. Filomena, assim como todas as pessoas que tiveram o grato prazer de a conhecer.
Obrigada pela visita comentada. Um momento muito bom dum blog é por excelência o comentário, mais ainda quando ele participa activamente para acrescentar conhecimento. Ainda bem que tomou esta iniciativa. Agradeço-lhe muito.
Um abraço forninhense,
Paula Albuquerque
"Infelizmente" há muitas histórias como esta só difere por vezes o país.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
É verdade. E, são estas histórias que nos fazem ver que em busca de uma vida melhor, encontraram outra bem pior!
EliminarAbr/boa semana.
Aconteceu a muitos. Outros nunca voltaram O meu bisavô materno foi para o Brasil."Ia arranjara a vida" e depois chamaria a mulher e filhos. Casou ou amigou-se com a filha do dono de uma padaria. Lá lhe nasceram outros filhos e a esposa e filhos nunca mais o viram. O filho mais novo tinha apenas três meses quando o pai partiu.
ResponderEliminarAbraço
Quando pensamos que a "nossa" história é triste há sempre uma outra pior :-(
EliminarO que retiro desta história é que apesar do sofrimento da mulher, ela não se tornou amarga, era uma mulher doce que criou os seus filhos com honradez.
Com certeza sua bisavó também foi uma mulher assim.
Um abraço.
Uma história muito interessante, Paula. É cada uma, não é mesmo, a esposa o recebeu mesmo “contudo”?! Meu Deus, haja amor ou excesso de carência...
ResponderEliminarObrigada pelo carinho por lá, gostei demais!
Beijo
Se calhar nem uma coisa, nem outra, apenas tinha a mentalidade e as preocupações de qualquer mulher de uma aldeia amodorrada e abandonada no interior do país. Se o rejeitasse o falatório seria maior, digo eu!
EliminarBeijo.
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarQue história tão triste, no meu modo de pensar, principalmente pelas atitudes do emigrante.
A mulher conseguiu desenvencilhar-se criando os filhos e proporcionado-lhes estudos superiores. Talvez também trabalhassem.
Muito triste ainda foi o modo como ele se apresentou quando regressou e também a mulher recebê-lo. Aí a sua dignidade de mulher quanto a mim ficou manchada.
O meu primeiro chefe da empresa onde trabalhei, também teve um pai emigrante (EUA)que prometeu vir buscá-lo e à mãe e jamais isso aconteceu.
Enfim, histórias que marcam a vida das famílias.
Beijinhos,
Ailime
Era uma mulher bondosa e "aceitá-lo" foi, digamos, uma obra de caridade, Ailime.
EliminarA Sra. pertencia a uma família com uma situação financeira favorável, em documento do ano de 1917 é mencionado que como indústria local Forninhos tinha "fabrico de azeite em um antigo lagar" e esse referido antigo lagar era do seu pai.
Daí, não se compreender a atitude do marido, em abandonar a família, já que o referido "argentino" não era um trabalhador pobre que trabalhava de sol a sol, no verão ou no inverno!
Beijinhos.
Boa noite Paula
EliminarSoube agora falando com um madeirense muitos anos radicado no Brasil, que da geração de meu avô João de
Gouveia , emigrantes no Curaçao , anos 40 , muitos se
perderam com mulheres e copos e esqueceram - se das
mulheres e filhos que deixaram na Ilha.
Reforçei a honta de ser neto de quem sou.
Meu avô cumpriu. Enviou dinheiro para que 3 gerações
pudessem disfrutar de algo que muitas e tantas familias
não tinham.
Adoro ser Gouveia neto de João .De Maroços Machico.
Abraço
MG
D. Filomena minha madrinha, professor Batista meu padrinho. Dela, mal me lembro, dele ainda tenho recordações de visitas a casa de meu avô Ismael Lopes e que vivia no Casal Vasco ou nas Antas, perto de Infias concelho de Fornos de Algodres. Deduzo que façam parte da minha árvore genealógica. A casa onde vivia a minha madrinha ainda existe é a seguir à da Mariana Carreira perto da Lage da Barroqueira. Meu Tio António Lopes e Tia Aurora compraram herança do Sr. Pipinho, herdou minha prima Aida que vendeu quase a totalidade a meu irmão António, eu comprei uma mata na Eira que dizia proprietário António Baptista na certidão de teor. Obrigado Paula, fiquei a saber o porquê de certas ligações.
ResponderEliminarA D.Filomena foi a madrinha de muitos pequenitos, Henrique.
EliminarQuando as pessoas falam desta mulher ou da D. Laura ou até da minha bisavó Maria (dos Matelas) comparo-as à Rainha D. Isabel, mulher de D. Dinis.
O teu padrinho, o falecido professor Baptista, casou nas Antas, daí viver nessa aldeia do concelho de Penalva do Castelo.
Pelo que se lê, na campa da mãe e do seu avô Baptista, foi esse filho (teu padrinho) que em lápide lhe prestou homenagem.
A sua campa está bastante degradada e diria abandonada, como tive oportunidade de ver no passado domingo.
Hoje, Dia de Todos os Santos, tomara não seja esquecida.
Penso que fiz ligações erradas, deve ter havido duas Filomenas, a minha madrinha e a esposa do Sr. Luisinho antigos donos da casa que comprou o Sr. Alfredo e sua esposa Augusta (Joana). Meu Padrinho, Vasco Baptista, sei que era filho da minha madrinha, estou baralhado, vou ter que pedir ajuda a minha mãe.
ResponderEliminarDúvida esclarecida, não duas Filomenas mas sim dois Luisinhos. Por vezes temos a respostas bem pertinho de nós mas os afazeres na aldeia de quem está longe, priva-nos do convívio com a família. Falo de minha mãe, telefonei agora pela hora do almoço e em dez segundos me esclareceu tudo, e com quase noventa anos. Espero que um dia não me venha a arrepender de não colher aquilo que devo herdar da sua sabedoria.
ResponderEliminarMinha madrinha Filomena e meu padrinho seu filho José, o professor. Vasco seu irmão, o tal aviador e Luisinho o tal que abandonou a família e que morreu na miséria (palavras de minha mãe), talvez a sua miséria tenha sido o tempo que perdeu junto da família, eu não o conheci. Com o tempo vamos perdendo pormenores da nossa vivência
com aqueles que nos deixaram quando eramos pequenos, este caso estava um pouco nublado, não fosse esta publicação mas esqueceria.
Estou agradecido Paula, neste blog revivo assuntos de baú, pena que não haja mais contribuintes, no inicio do blog eram mais que muitos, penso saber o porquê mas por mim, sobre verdades não me vergo a ninguém e continuarei a colaborar sempre com a verdade e com a transparência. Força para ambos, este blog vai ensinar muitos netos já que Forninhos é terra de nossos avós.
Minha madrinha
Estavas a fazer confusão com a D. Laura, esposa do Luisinho Abrantes, proprietário do Lagar de Azeite da Ribeira. A Sra. Filomena era filha do Sr. José Baptista, proprietário do Lagar de Azeite da Eira. O "argentino" também o chamavam de Luisinho, mas era de Penaverde.
EliminarEstas duas famílias fizeram muito, no seu tempo, pelo progresso de Forninhos e estão a ficar esquecidas muito por culpa nossa, porque com o nosso silêncio somos cúmplice ao deixar que outras pessoas se "apoderem" da nossa história local.
Veja-se o painel que está numa parede da Capela de Nossa Senhora dos Verdes!!!
Que povo é este que tal permite?!?!
Ao recordar hoje estamos a rever vidas, de um ontem, que foram grandes para quem as viveu e que continuam na lembrança e nas histórias que se vão passando de geração em geração.
Dia 9 de Novembro comemoramos 9 anos de blog. Nesse dia falaremos mais da página que conta a história, estórias e memórias duma aldeia chamada Forninhos!
Bom feriado Henrique.
Está tudo bem convosco?
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana.
Elvira, como diz a cantiga:
EliminarTá tudo bem
Tu também tá tudo bem
Vamos ver si tu tá bem
Bem bem bem bem bem bem.
Obrigada, abraço e @té já.