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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Na rota dos almocreves...


Desde garoto que sempre me fascinou o porquê da denominação destes mercadores de ar faminto e meio desmazelado que aquando chegavam a Forninhos, tão depressa vinham como partiam, passavam simplesmente não havendo negócio. Vinham dos restos das feiras das vilas vizinhas e aproveitavam para escoar os seus produtos pelos lugarejos circundantes. Mais tarde vim a saber que tal actividade vinha pelo menos antes dos tempos da idade média, a diaspora que perseguem  até aos dias de hoje. Serem negociantes sagazes e ardilosos,  cada qual aos modos adaptados aos tempo em que viviam.
Ainda hoje em Forninhos se vai recordando o antigo pregão que os de Coruche,  montados em burros e com as mulas carregadas conduzidas pela arreata, faziam ouvir o "trocam-se farrapos à loiça", sendo que os farrapos eram restos de lã pura ou burel e a loiça umas simples tigelas e uns pratinhos para o dia a dia. Burros eram as bestas que montavam, pois de tais os donos de nada, nada tinham...
Do mesmo local e do mesmo modo, vinha a padeira conhecida por tia Beatriz, com o carrego do pão apreciado e que fazia "mossa" à padaria local da tia Esperança.
Convenhamos que era uma animação na aldeia quando estas gentes apareciam com uma panóplia de utensílios, alguns indispensáveis, mas que no modo de fala-barato, iam fazendo negócio por ali e acolá. Tantas vezes iam por ali fora, rumo à Matança,  apeados ou nuns burritos, directos à laige da Maria Fernanda, serra acima, fosse verão ou inverno, tal como os moleiros, uns mártires que com a mula pela rédea, percorriam quilómetros pelo lucro da farinha dos outros, pois deles e havendo algo mais, era pago pelo suar do verão e o inferno das geadas.
Apareciam, volta não volta uns cesteiros que traziam para vender ou fazer por encomenda, sobretudo canastros para as vindimas, alfaiates apeados de chapéu preto descaído na testa, com fita métrica para as medições da largura e da altura, tudo anotado por um lápis que molhavam na boca para depois escrever.
Também alguns dos nossos foram almocreves, por exemplo as sardinheiras que batiam as terras mais próximas e que na falta de dinheiro recebiam em troco um negociado punhado de ovos, nossos afamados mestres pedreiros que passavam temporadas longe dos seus, por lugares distantes se renderem à sua categoria e encomendarem obras de igrejas e capelas ainda hoje veneradas, andando de terra em terra.
Outros havia que não sendo da terra, por esta eram recebidos como seus.
Permitam, o Vasco da Matela, finalmente reconhecido como o Mestre Vasco, latoeiro, um amigo de sempre e requisitado para expor a sua arte em tudo o que  é artesanato. Forninhos era a sua segunda casa, tal como porventura outras por onde deambulava para remendar ou fazer coisas novas. E fez tantas...poucas casas das mais antigas terão um bocadinho da sua arte, nem que seja uma panela remendada com um cú novo, uma panela ou funil, enfim!
O Vasco é "V", assim a gente brincava com ele e  sempre gostou .   
As memórias vão-se esbatendo com o tempo, pois nele se entranham e fenecem na veracidade da vida, tais como outro tipo de almocreves, aqueles que apareciam para remendar a loiçaria, pratos, travessas, as melhores coisinhas que se podiam colocar na mesa em dias de festa, mesmo que presas por arames por debaixo da solenidade.  
Todos cavalgavam a vida conforme as marés que esta ditava e a tal tiveram de se acostumar, como quando aparecia uma camioneta com porcos para criar, coisa estranha por estarem habituadas a andar com eles a pé, quando iam ou vinham das feiras, de um senhor chamado Aníbal dos lados do Eirado.
Outros houve que reconhecidos pelas suas artes, deambulavam de terra em terra, os amoladores, capadores e esfoladores, sendo que destes destaco o tio Chantre da Matela que era quem na Páscoa esfolava lá em casa sempre o cabrito.
Por vezes e podendo, voltavam a casa ou então por necessidade ou trabalho, se acomodavam no melhor que oferecido lhes aprouvesse, tal como os ciganos, não os que agora deambulam pelas feiras, mas aqueles que assentavam arraiais durante dias ou semanas, quase a troco de nada, os da minha meninice...
Há pouco tempo, duas semanas, tive o privilégio de estar com os que por aqui vão restando, amáveis, honestos, trabalhadores e trouxe um lindo cesto de verga por eles feito.
Pena mesmo, é de já não se ouvir o pregão de alguns almocreves "quem tem lenticão para vender", nem a gaita do amola-tesouras "...amola tesouras, facas, navalhas..."  a anunciar o tempo!
Mas e pelos vistos, a rota ainda continua aberta...

28 comentários:


  1. Ao Xico e á Paula :

    Pela vossa caminhada de saber e cultura , eis ,um "cheirinho"
    de " Lua " de Pedro Barroso ,que espero esteja recuperado do
    seu problema de saúde. Pedro Barroso , canta assim :

    ....
    Oh Lua que vás tão alta
    Tão Altiva tão serena
    ...
    Diz-me Lua que és tão bela
    Por entre silvas e rosas..
    Diz-me qual é o caminho..

    Quero o caminho do tempo
    Quero ter tempo para o caminho
    Quero olhar-te devagar

    Diz-me Lua que és antiga
    Quais os segredos da Vida
    E..por onde procurar.

    E....se valer a pena conta
    E....se valer a pena canta

    Quero o Vento quero os Montes
    Quero tudo o que me mostras
    No teu doce iluminar
    ......
    .....
    Quero de ti essa tazão
    Essa tua força antiga
    ...
    Conta-me tudo o que sabes
    E transformas em luar
    ....
    E quero a sabedoria
    De quem faz da Noite Dia
    E se esconde a pensar...
    ....
    ....
    Isto é para mim das coisas mais marvilhosas que a música nos
    deu em Portugal .Por isso decidi " prendar" os mentores deste
    Blog , rendendo-me ao seu Saber , Arte , Entrega e Dedicação.
    Bem Hajam.



    Abr
    Bom fim de semana
    MG

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    1. Boa noite António.
      Bem hajas pelas palavras com que nos prendaste, mas todos os que andamos neste espaço e que procura deixar algo acerca da nossa terra, que amamos, temos de continuar sempre (assim fomos educados), a ser humildes lutadores da
      salvaguarda memória de onde viemos.
      Como canta Pedro Barroso, queremos o caminho do tempo, o vento e os montes, a tazão da força antiga, como que um sibilar espiritual da serrania de S.Pedro, desafiante no dizer de se valer a pena, conta.
      E contamos...
      Um abraço.

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    2. ....
      "Quero de ti essa razão.."não tazão, que não existe?

      Canta Canta, assim, Pedro Barroso.

      Abr
      MG


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  2. O texto ficou muito giro, mas desculpa lá, não concordo nada com isso dos nossos terem sido almocreves, as sardinheiras, os pedreiros ou até os carpinteiros não eram almocreves!
    A definição que tenho de almocreve é outra, eram pessoas que conduziam animais de carga e/ou mercadorias de uma terra para outra levando e trazendo bens que comercializavam. Passavam em Forninhos e traziam alguns bens que a terra não produzia: sal, barras de sabão, petróleo e até traziam azeite a pedido de algum freguês.
    Almocreve era uma profissão e Forninhos, a terra dos nossos avós, nem teve almocreves, nem latoeiros, nem cesteiros!
    Eu ouvi muitas vezes os mais velhos dizer que de Forninhos ninguém foi pedir, nem vender para outra terra, daí que cresci convencida que havia terras bem piores que a nossa. A tia Esperança, por exemplo, tinha uma padaria artesanal, fazia, dizem, uns trigos grandes e muito saborosos, com um sabor que não se encontrava noutras padarias e também sêmeas. Tinha vários trabalhadores(as) que tinham por responsabilidade amassar a massa nas maceiras, manusear o equipamento, transportar a lenha para uso do forno, mas não vendia o pão para fora. Já a padeira de Coruche vinha num burro e a cangalha onde trazia o pão era de verga.
    Só há lembrança do ti Carlos Guerra, que não era almocreve, ir tirar retratos e amolar tesouras a outras terras.
    Por tudo isto eu achava que Forninhos era uma terra rica, que se vivia bem, mas depois cresci e já achava que não, caso contrário não tinha havido tanta emigração e nem tanta migração para outras zonas do país.
    Agora concordo com o título do post "na rota dos almocreves" porque todos os mercadores, caixeiros-viajantes, vendedores ambulantes, faziam o mesmo caminho dos almocreves, os caminhos que os ligava dum lugar a outro!

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    1. O que por aqui tenho escrito, tal como tu, resulta das escassas memórias pessoais, mas sobretudo de uma incessante pesquisa pessoal, embora à distância, por vezes falível e porventura para enquadrar a minha publicação em sintonia com o texto, teria agora acrescentado ao título a frase " ...e afins", pois e como tu mesma dizes no ultimo parágrafo, todos faziam o mesmo caminho dos almocreves, caminhos que os ligavam de um lado ao outro e por tal referenciei outras profissões dentro de esse espírito e de modo transversal.
      Se fosse apenas centrado na figura do almocreve, teria ido inspirar-me em Aquilino Ribeiro, beirão de gema que escreveu uma das suas maiores obras, tendo como personagem central um almocreve, O Malhadinhas.
      Acontece aos melhores, nem sempre as coisas correm a preceito. Afinal a tia Beatriz, padeira de Coruche, não fazia "mossa" à tia Esperança, pelo contrário, vinha ali comprar pão para revender pelos lugares e aldeias.
      Por mim, quero continuar o espírito de almocreve, ajudando a resgatar e guardar as memórias da nossa terra.

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    2. Eu sei que o recolhido é da boca das pessoas, mas por um instante pensei que essa dos almocreves veio da monografia local, como bem sabes foi referido que havia almocreves em Forninhos. O que é mentira.
      Seria bom os netos de Forninhos saber que de Forninhos ninguém foi pedir para fora da terra, nem acompanhados de animais de carga ou mercadoria vender bens para terra alheia. Nenhum dos nossos avós acompanhados por um burrito alguma vez vendeu peles, cereais ou fruta. Nenhum fez vida de almocreve!
      Quanto à padaria da tia Esperança, claro que nenhuma outra lhe fazia mossa. A tia Esperança vendia o pão para as tabernas de Forninhos, e se a padeira de Coruche ali ia comprar o pão, não sei, o que sei é que nem ela, nem nenhum trabalhador foi para fora da terra vender pão. Padeira é profissão que por acaso (só por acaso) não é referida na monografia de Forninhos, já os moleiros, que não os houve, são mencionados. Basta perguntar aos mais velhos se os houve e a resposta é imediata:
      - Forninhos tinha moínhos, mas não tinha moleiros!
      Só asneiras.
      E, Xico, havia entendido que o texto não é centrado na figura do almocreve, mas não aceito aquele parágrafo que começa assim: "Também alguns dos nossos foram almocreves..." (vou riscar isso).
      Almocreves podiam ser os que transportavam minério dos lados do Picão nos carros das vacas. Mas os de Forninhos que andaram no minério não tinham vacas, portanto, até estes nossos não foram almocreves!
      Ou a tia Etelvina que fazia carvão para vender para fora da povoação, mas esta não andava num burrito a vendê-lo.
      As sardinheiras também andavam a pé.
      Nem sempre as coisas correm a preceito, mas quando uma terra paga para escreverem a sua história, não é aceitável ler tantos erros e mentiras e detectar tanta falha. Eu não aceito. Quem o aceita é porque não é de Forninhos ou então é fanático. Só pode!
      Vamos continuar, sim, a resgatar as memórias, mas também a repôr as verdadeiras memórias da nossa terra.

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    3. Dos ditos industriais da "Coisa", nada me interessa, nem sequer as suas mentiras ardilosas, isso cabe aos mentores de filhos e netos, semear as sementes por aqui deixadas ao longo de anos.
      As nossas gentes e segundo dizes, jamais andaram de terra em terra a pedir ou a vender, mas seria por fartura ou por falta de muita coisa?
      Por mim recordo de garoto muitas vezes abrir a porteira do patio dos meus pais a quem vinha mendigar, todos da terra, é verdade.
      Porque?
      Nada tinham para vender nem se deslocarem; nao era vergonha, mas a vida madrasta, não que Forninhos fosse mais rico e se calhar era na altura do volfrâmio e da resina, mas a sorte de uns era a miséria dos outros, aqueles que não podendo ou não querendo, nao desciam às minas do minério.
      Um ou outro, sim, na região, conseguia de modo clandestino levar o produto a locais próximos em cavalgaduras noite adentro e em troca trazer os géneros que aprouvera. Duvido que em Forninhos tal não tenha acontecido, senão de forma directa mas cumplice, ou então como se governaram e bem, algumas casas?
      A Rota dos Almocreves começava no início das coisas.
      Onde comprar e depois vender, tendo de permeio o caminho e seus atalhos de circunstância.
      O moleiro podia ter a mó avariada e as sacas de farinha atrasadas, os azeiteiros idem, as sardinheiras não sabiam a causa da carripana que vinha que por norma vinha ofegante de Aveiro demorava a chegar a Fornos.
      Ao mesmo Fornos que segundo se reza chegava o carvão das serranias, quiçá, mas duvido da Etelvina...
      Certo é que aqui chegando, a Fornos, morria a nostalgia do almocreve a cavalo...vinha a besta de ferro.
      Continuemos, claro!

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    4. Sou transmontano e aqui em tempos houve grande actividade almocreve, pois que era essa actividade que permitia que chegasse a todas as povoações um extensa variedade de mercadorias. Mas existe um livro, Aguarela Transmontana, que faz uma abordagem muito interessante a odisseia almocreve.

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  3. Anunciavam e criavam aquela magia de quem escutava seus pregões!!!
    Foi bom recordar!!!bj

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    1. Apareciam e logo se iam consoante o resultado das vendas e/ou trocas.
      A pertinência de conservar os produtos e o descanso das bestas, nao permitiam devaneios...
      Beijinho.

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  4. Uma profissão peculiar não conhecia
    abraço

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    1. Num punhado de nem bem profissões, mas afazeres a que a vida empurrava, na rota dos pioneiros, os almocreves, já citados por Gil Vicente em 1526 no "Auto dos Almocreves".
      Um abraço.

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  5. Excelente texto meu amigo, gostei bastante e ainda me lembro bem de ver os almocreves, coisa do passado.
    Um abraço e bom Domingo.
    Andarilhar | Dedais de Francisco e Idalisa || Livros-Autografados

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    1. Obrigado Francisco, mas sinto e com pena que o texto nao foi conseguido, ficou dessincronizado com o título para alguns e que com todo o direito esperavam apenas ver aquela figura que montava as bestas ou as levava pela arreata de terra em terra, vendendo, comprando ou trocando o que era mais primário.
      Almocreve serviu para literarios como Gil Vicente, Bocage, Aquilino, tais "usarem" para descrever a rota com muitos fins e interesses.
      Um abraço.

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  6. Além do Vasco e do Chantre, também da Matela ía a Forninhos um mestre sapateiro - tio Valentim - que trabalhava por encomenda e em dias específicos (domingos) se deslocava a Forninhos para entregar as encomendas.

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    1. Em Forninhos e outros locais das redondezas...era a vida!
      Mas para mim nunca no meu imaginário e criancice, houve quem "batesse" os ciganos a quem aqui anos atrás dediquei um post.
      Tinham aquela magia...

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  7. Um assunto bem interessante e para mim novidade. Estive lendo os comentários e aprendi muito com vcs...
    Uma boa semana, gente...
    Abração

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    1. Uma comunhão Anete, a amiga por entre salmos espirituais e nós por aqui de coisas vividas, mas também com sentimento.
      Afinal o Divino veio à terra para conduzir os seus.
      Senão reparemos na fuga para o Egipto, descrito por São Mateus, aquando José se torna porventura o primeiro dos Almocreves...para bem da Humanidade.
      Abraço

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  8. Desconhecimento total sobre este assunto em Forninhos. Sou do tempo do Vasco da Matela e do tio Chantre mas um vina a pé e outro vinha de carro, com cavalos, mas alimentados a gasolina.
    Aos Domingos, era usual aparecer os alfaiates de Dornelas, no largo da Lameira, algumas calças me fizeram. Alguns bens, produzidos por gente de Forninhos, saiam da povoação, vendidos, mas levantados pelo próprio comprador no local, relembro o centeio (Lúcio) batata (Tio Armando Luís) pinheiros (Zé Teodósio) que também negociava batata e levava para a feira da Malveira e Vieira de Leiria. Penso que nenhum deles pode ser considerado almocreve. Almocreves em Forninhos, só se o Sr. Amaral tinha alguns empregados que fossem vender os seus produtos para terras vizinhas mas desconheço. Cavalos em Forninhos, não me lembro, agora burros, isso sim e parece que perduram, aqueles que ouvem mas não enxergam, sem ofensa.

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    1. Bem hajas Henrique pela partilha das tuas memórias, tao reais, apesar de uns bons anos terem passado.
      A rota dos almocreves que no sentido próprio da palavra, Forninhos não teve, apenas tem o propósito dos que com o passar dos anos e embora de modos diferentes trilharam caminhos semelhantes nos mesmos interesses de ganharem a vida.
      Um abraço.

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  9. Um texto fantástico e histórico.
    Há dias, fiquei admirada ao ouvir , em Lisboa, o som do amolador de facas e tesouras. Fui à varanda e lá andava ele.
    Sinais de necessidade?

    Beijinhos.

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    1. ....
      ....
      E os ( as ) " almocreves " do Sec XXI. que vendem no Largo de São Domingos mandioca , feijão e milho branco
      que semeam nas hortas da Amadora e não só ...
      Nasce de tudo junto ao Eixo Norte Sul,IC19 /2 Circular
      sinais dos tempos , sinais das necessidades que muitos
      passam enquanto pastelarias na Av da Republica deitaram
      para o lixo " carradas " de comida que não venderam no
      Natal ....!!

      Abr
      MG

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    2. Boa noite Elisa, amiga.
      Aqui por onde moro, volta não volta, vou ouvindo essa melodia da gaita de beiços e acorro à janela.
      Sendo no entanto gentes de Leste que honestamente procuram ganhar a vida, trazem as saudades das nossas aldeias de outrora em que a garganta se soltava estridente, naqueles pregões de quem tudo arranjava, nem que por ali tivessem de pernoitar, havendo trabalho.
      Lembro e tenho saudades.
      Um bem haja, minha amiga.Beijinhos.
      Quanto ao António.
      Ando aqui por Lisboa há mais de quarenta anos e nesta cidade, fui assistindo a mudanças várias e nalgumas participei. Por entre uma ginginha e olhando a pastelaria Suiça nos intervalos do trabalho, vi crescer essa mole imensa de quem procurava coisas para eles, que imaginava serem algo dúbio, mas...
      Havia também e por ali muita gente séria.
      Pior junto ao elevador de Santa Justa e no 28.
      Abraço.

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    3. ....
      ....

      Abraço Xico ,

      E não é que descubro Tinto "Almocreve",Alentejo ,na minha rotina semanal pelos vinhos do meu habitual super. Fresco , leve , simpático e acessivel ...
      E porque não dizê-lo por sua culpa Xico..
      Brindei pelo seu esforço nesta caminhada de peregrino
      pelos caminhos dos seus ( vossos ) bisávos .
      Faz-me confusão como tantos Forninhenses espalhados
      pelo Mundo ,cultos e doutorados,cientistas e letrados
      não participarem , ou mesmo, dizerem anonimamente
      que Forninhos está-lhes no coração ,mas ....fogem de
      cara tapada das suas origens e raízes .
      Faz-me confusão !!

      Em relação a Lisboa ,Xico ,tenho 24 anos,e não foram
      seguidos. Sai de casa de minha Mãe apenas com 24.
      Mas a primeira vez que pisei Lisboa ,com meu pai,foi
      o Largo de S Domingos que me marcou.
      Um homem a vender lotaria apontou-nos a Igreja de São Domingos .Fomos á Missa .De tarde no Bonfim, o nosso
      Martimo ganhou, por 3-0. Setembro de 1980.
      De comboio a estreia só se deu Lisboa - Fornos , em 1989.
      Vai mais um " Almocreve " ...

      Boa semana para todos.
      MG

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  10. Boa tarde Xico,
    Gostei do seu texto trazendo à memória como era a vida de outrora. As aldeias eram invadidas por essas pessoas que decerto davam outra vida aos tempos pacatos de então.
    Eu desconhecia (ignorante que sou) que se chamavam almocreves aos amola tesouras e aos senhores que consertavam as peças de louça rachadas;)!
    Agora estou a recordar-me vagamente dos tecidos vendidos a metro para fatos de homem.
    Sobre montadas já não é do meu tempo, mas gostei imenso de tomar conhecimento do facto.
    Aqui onde moro, por vezes, ainda aparecem os amoladores que penso que também arranjam os guardas chuvas, com o som das suas gaitas tão característico.
    É sempre bom vir aqui para beber da cultura de Forninhos em memórias que devem perdurar.
    Um beijinho e boa semana.
    Ailime

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    1. Boas e santas noites, assim diziam os meu avós e tal repito para a minha amiga.
      Prezo as suas palavras, mas reconheço que não fui explícito no descrever do seu onteúdo, pois à primeira vista, parece que existe apenas a personagem do almocreve, quando este era apenas e dada a sua importância factual, um abridor de caminhos de outros viajantes similares nos contextos da altura.
      Mas e apesar de tudo, fico confortado pelas lembranças de caminhantes que trouxeram e deixaram lembranças inesquecíveis.
      Tive, teria seis anos, um realejo comprado no largo da Lameira a um destes almocreves por alguns vinte e cinco tostões...
      Na feira, a compra de uma calça nova, era medida pela altura e quando esta se estreava, cabiam dois...poupança!
      Não me queixo, mas não esquecer o passado, tem a missão de seguir do melhor modo o futuro.
      Beijinho.

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  11. Xico,

    Que interessante. Eu lembro de ter ouvido o barulho do amolar de facas na rua de minha infância. Foi como se tivesse vivido esse momento novamente ao ler esse lindo post.
    Estou por aqui e tentando voltar pra ficar. Senti falta desse convívio virtual com vocês.
    Abraços

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    1. Que bom que voltou, minha amiga!
      Confesso que além da saudade, havia um misto de preocupação.
      Adiante, vamos continuar, felizmente a ouvir os "barulhos" de prosas e versos, de impertinências sadias no agasalho de uma lareira bem portuguesa nestes dias de frio, mas de alma cheia.
      Quiçá, amanhã, não se acorda por entre a geada e uns raios de sol ao som do "amola tesouras, facas e navalhas"...
      Beijinho.

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