Os soldados forninhenses estiveram presentes na História de Portugal desde os seus primórdios: nas Guerras Luso-Holandesas que se seguiram à Restauração da Nossa Nação em 1640, temos um caso invulgar e rico, de um soldado forninhense, Manuel Nunes, que teria ido naquele tempo combater para o Império; nos Livros Mestres ou de Matrícula que foram criados em 1763 e vigoraram até 1908 temos o registo de bastantes militares de Forninhos que possivelmente ainda lutaram contra os invasores franceses. Só para exemplificar:
No Livro n.º 8 do Regimento de Infantaria 23 (Almeida), de 1808, existe o registo dos soldados Manuel Fernandes (d.n. 1787), filho de Rosa Fernandes, e José Cateano (d.n. 1790), filho de Ana (Manhada); Luís Esteves (d.n. 1786), filho de João Esteves também consta daquele Livro.
Em França e em África 8 ou 9 homens forninhenses, participaram na primeira Guerra Mundial. O soldado servente n.º 360, Floriano Cardoso, filho de Agostinho Cardoso e de Maria Amália foi mobilizado para França e o António Marques, filho de António da Fonseca Marques e de Maria da Fonseca, soldado do Regimento de Cavalaria em Viseu, também foi um dos combatentes da I Guerra.
Tivemos ainda 4 soldados de Forninhos na Índia Portuguesa: o Zé Maria "Índio", o Cabral, o Júlio "Grilo" e outro ainda dos Valagotes, da família Dias.
A tropa, não obstante ser uma obrigação, permitia uma oportunidade de aculturação e de contato com as realidades mais evoluídas da sociedade, a ponto de, para a maior parte dos jovens, ser relevante e muito nítida a diferença, para melhor, entre o "antes" e o "depois" do serviço militar. Lembro aqui o meu tio, António "Carau" (António dos Santos Andrade), soldado N.º 83, do 3.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria N.º 7, tinha 21 anos quando esta foto foi tirada em Lisboa, Belém, no dia 5 de Abril de 1948.
António Andrade (meu tio) |
Depois veio a Guerra do Ultramar, que fez da geração do meu pai, que esteve lá quase 26 meses, na zona da Guiné, uma geração de ex-combatentes.
Em várias frentes, participaram muitos rapazes da nossa terra, nos anos mais doces e pujantes das suas vidas, sendo que quatro tombaram em combate:
Carlos Vaz de Matos, soldado pára-quedista, mobilizado pelo Regimento de Caçadores Pára-Quedistas para servir a Zona de Cabo Verde e Guiné, tombou em combate em 13 de Julho de 1970, ao serviço de Portugal; tinha 22 anos de idade e está sepultado no cemitério da Freguesia de Forninhos.
Daniel de Almeida Esteves, Soldado Atirador, mobilizado pelo Regimento de Infantaria 1, para servir a região militar de Angola, tombou em combate no dia 22 de Agosto de 1961, ao serviço de Portugal; tinha 22 anos de idade e está sepultado no cemitério da Freguesia de Forninhos.
Ilídio Castanheira Coelho, Soldado de Cavalaria, mobilizado pelo Regimento de Cavalaria 4, para servir a região militar de Moçambique, tombou em combate no dia 26 de Maio de 1974, ao serviço de Portugal; tinha 21 anos de idade e está sepultado no cemitério da Freguesia de Forninhos.
Viriato Baptista, Alferes Miliciano de Infantaria, mobilizado pelo Regimento de Infantaria 5, para servir a região militar de Moçambique, tombou em combate em 18 de Setembro de 1972, ao serviço de Portugal e está sepultado no cemitério da Freguesia de Forninhos.
- "Malhas que o império tece", como disse Fernando Pessoa.
Entretanto, o serviço militar obrigatório foi abolido em Portugal em 2004 e os forninhenses mais novos dificilmente saberão como ele foi importante para as gerações passadas, pois a inspeção fazia parte das poucas ocasiões de farra na vida dos nossos patrícios em tempos passados, que ali tinham a praticamente única forma de libertação. Quem nunca ouviu contar histórias de noites de boémia, onde não havia limites?
Um trabalho de pesquisa brilhante. O meu elogio
ResponderEliminarCumprimentos poéticos
Agradeço-lhe o elogio!
EliminarCumprimentos forninhenses.
Um estudo profundo, parabéns!
ResponderEliminarTambém Forninhos tinha desde tempos remotos, carne para canhão.
Dos bons, fortes e audazes que não desmereciam a Pátria e por tal, lá iam ao encontro do destino e por vezes da morte.
Assim se perderam mancebos, se destruiram vidas, se foi a aldeia vestindo de luto.
Quem diria que ainda e quase no tempo das caravelas, já gente nossa navegava por esses mares esbanjando bravura nesse tipo de guerras.
Ainda resta gente que combateu na Índia e sofreu as agruras inerentes à sua ocupação.
Maldito o dia em que o país pariu um Salazar!
"rápido e em força", dizia ele, para o ultramar; e foi, ficando filhos e mulheres, campos por cultivar, corações cheios de dor e ansiedade no temor que lhes viessem entregar a maldita carta e infelizmente não fomos esquecidos. Tragédia, lembro o funeral do Ìlidio e os soldados darem salvas de tiros na sua despedida.
Anos mais tarde e ainda bem, ir à inspeção era uma festa, já não havia cargueiros à espera para África.
Eu me confesso, escapei por pouco - três semanas no quartel de Abrantes e até hoje...
Excelente o teu comentário!
EliminarAs guerras são ordenadas pelos políticos, mas feitas pelo povo humilde e anónimo e quando se trata de avançar para a batalha é "rapidamente e em força", porém quando se deve reconhecer o esforço e o sacrifício feito (e de alguns foi com a própria vida), já não é assim tão rápido.
Felizmente, em Forninhos, os combatentes do Ultramar tiveram direito a um monumento, passado meio século desde que o "Uíge", o "Vera Cruz" e outros navios começaram a levar e a trazer os mancebos de então.
Da primeira fase do serviço militar, a instrução, que vos aguardava logo que assentavam praça, nada tenho a acrescentar😉
Gostei deste excelente trabalho de pesquisa.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Obrigada por me ler!
EliminarBoa semana e um abraço.
Boa Noite
ResponderEliminarParabéns por mais um excelente trabalho de investigação .
Abraço
Antônio Miguel Gouveia
Obrigada.
EliminarÉ um prazer mostrar um pouco do mundo dos nossos antepassados.
Abraço.
Meu avô paterno que faleceu com 107 anos contava histórias desse tempo com um brilho no olhar e um sorriso no rosto! Tenho saudades das suas histórias 🙏😘
ResponderEliminarTambém eu. Saudade e pena de não ter prestado mais atenção às histórias contadas pelos meus avós.
EliminarBj
Um excelente trabalho de pesquisa. Parabéns por compartilhar. Bjs querida Bom final de semana
ResponderEliminarTodos temos um dever de memória. Obrigada Nal Pontes.
EliminarBom domingo, Bjs
Anete disse...
ResponderEliminarSuas pesquisas merecem sempre aplausos 👏 👏 👏...
Forninhos também exemplar no serviço à pátria! Fotos legais.
Boa noite e bom domingo...
Agradeço as suas palavras.
EliminarGostava de ter mais umas fotos desse tempo.
Bjs, bom domingo!
Boa noite Paula,
ResponderEliminarUm trabalho de pesquisa a todos os títulos louvável!
Forninhos pode orgulhar-se dos seus filhos que serviram a Pátria.
Apesar dos que faleceram em combate ou por outros motivos relacionados, também concordo que o serviço militar educava e os mancebos quando regressavam vinham diferentes no bom sentido.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime
Obrigada Ailime.
EliminarVinham diferentes e o serviço militar criava outras expectativas de qualidade de vida, que a aldeia não podia proporcionar.
Pena as mortes e o esforço sobre-humano de quem foi para a guerra; um esforço que foi também das famílias, em especial das mães e das esposas.
"As guerras são a pior coisa que há no mundo".
Beijinhos, tudo de bom.
Sempre a aprender por aqui!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
"Um dia em que não aprenda não é dia nem é nada...".
EliminarBom fds.