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domingo, 17 de março de 2019

A dança dos concelhos

A dança dos concelhos, poderia ser um nome para uma "opereta", já que é curioso sabermos por onde terá andado no plano administrativo...Forninhos.
Não sei se haverá muitas localidades que tenham balouçado tanto...e em tão pouco tempo.
Senão vejamos:
Em 1758, conquanto Forninhos ainda não fosse freguesia, estava englobado no termo da Villa de Penaverde.
Por força do Decreto de 6 de Novembro de 1836, na época do governo setembrista de Passos Manuel, o concelho de Penaverde foi extinto e Forninhos passou para o concelho de Algodres.
Em 12 de Junho de 1837, a Cabeça (sede) do concelho de Algodres passou para a Villa de Fornos de Algodres e Forninhos foi transferido para o concelho de Aguiar da Beira (da Comarca de Trancoso).
Mas a "dança" não terminou aqui...houve uma tentativa para Forninhos voltar a Fornos de Algodres, foi quando em 31 de Janeiro de 1867, Mártens Ferrão, Ministro do Reino, apresentou na Câmara dos Deputados a sua proposta de reforma da administração civil. 
No projecto, o  concelho de Fornos de Algodres estava na calha para ser suprimido, então a Câmara de Fornos dirigiu uma representação (isto é, um protesto) ao Rei pedindo que o seu concelho permanecesse, para tal chegaram a propôr a anexação de freguesias pertencentes a concelhos limítrofes e com isso foram buscar a freguesia de Forninhos ao concelho de Aguiar da Beira. Isto aconteceu em 10 de Dezembro de 1867, aquando da aprovação e materialização do novo mapa administrativo, só que nem deu tempo de tratar da mudança... 
Em 14 de Janeiro do ano seguinte, com a chamada "janeirinha" voltou tudo ao mesmo, como quem diz "tudo como dantes quartel-general em Abrantes".
Claro que há muitas razões de ordem política-administrativa em toda esta "dança", mas algo no entanto ressalta.
Forninhos era uma terra cobiçada, só assim percebemos tanto interesse em tê-lo.
Pudera! Forninhos tem ao longo da sua história interesses mil, pelas características da sua população, pelo clima ameno, pela riqueza agrícola e pela riqueza arqueológica (voltarei um dia a este tema).

Decreto de 26 de Junho de 1896

Em 26 de Junho de 1896, por extinção do concelho da Aguiar da Beira, é anexada à sede do concelho da comarca a que pertence -Trancoso.
Em 22 de Junho de 1898, regressa ao restaurado concelho da Aguiar e lá ficamos até hoje!



Agora...
Para os que têm aí à mão a maravilhosa obra "Forninhos a terra dos nossos avós" leiam -se faz favor-a reforma dos concelhos (páginas 73 e 74) e analisem os mapas da página 75. Eu espero...sentada.
Já leram com certeza que em 1867 a edilidade de Aguiar da Beira é extinta e a freguesia de Forninhos entre outras passaram a pertencer a Fornos de Algodres. E de seguida... o que leram?
"Anos mais tarde em 1878, o concelho de Aguiar da Beira é restaurado e Forninhos volta à sua circunscrição."
Então, alguém de Forninhos sabe dizer-me onde ficamos englobados após a "Janeirinha" - cerca de 10 anos depois- até 1878? 😕
Havia muitas razões para gostarmos de Fornos, mas a divisão administrativa concebida por Mártens Ferrão durou apenas 34 dias.
Com rigor é assim!
A pressa pode ser inimiga do rigor...

16 comentários:

  1. Indignações, questionamentos...leitura interessante e provocativa de boas respostas...beijos, chica

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    1. Como diz o povo, “a brincar, a brincar, foi o macaco…”
      Bjs/bom domingo.

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  2. Os erros de quem escreve a história.
    Abraço e bom domingo

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    1. Mas os de Forninhos se quiserem saber porque se escreveram tantos erros, devem ler as obras monográficas da região.
      Abraço e bom resto de domingo

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  3. Parabéns por esta exaustiva e rigorosa pesquisa histórica.
    Quando a paixão pela nossa terra não embarca em fúteis leviandades, o resultado é este: mais uma página genuína das danças e contra-danças pelas quais a nossa freguesia tem pulado nas suas já de si tao antigas memórias.
    E continuamos aos pulinhos (que remédio), concelho de Aguiar da Beira, distrito da Guarda, comarca de Trancoso, bispado e hospital de Viseu.
    Adorei!

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    1. Ora, bispado e hospital de Viseu. Em 2012 Forninhos teve a oportunidade de repensar o seu território, adaptando-o àquilo que são hoje as suas condições geográficas, demográficas e proximidade de serviços públicos, mas com a aproximação das eleições autárquicas, o assunto praticamente esfumou-se...
      Vamos ver se daqui a uns anos não vamos pagar bem essa conveniência político-partidária.

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  4. Uma dança que precisa ser reinventada... Sempre com perseverança e muita insistência...

    Bom domingo! Abçs

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    1. Oi, Paula...
      Volto p desejar uma boa semana e convidar p ver um pouco do que tenho vivido/Vida & Plenitude. Nosso filho iria a Kiev/Ucrânia, já estávamos cogitando ir lá e dar uma passadinha em Lisboa p revê-los, mas... Rsss, fica p outra ocasião.
      Bjs

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    2. Quem tem perseverança nunca desiste!

      Bjs e o maior sucesso para o seu filho que se encontra em Camarões.

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    3. Obrigada, Paula, pelo seu carinho e sinceridade tão expressivos.
      Hoje usei uma foto sua no Fragmentos Poéticos...
      Abração... Que nossa semana seja rica da presença de Deus...

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  5. Tenho alguma dificuldade em entender porque é que não se simplifica este tipo de registo!!!
    Bj

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    1. Inseri o mapa da região de Forninhos, acha que ajuda?
      Para quem não conhece a região é um pouco confuso, temos de ter a paciência de ler tudo, para perceber bem!
      Bj

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  6. Boa noite Paula,
    Só mesmo por Forninhos ser uma freguesia dotada de múltiplos interesses justificasse a cobiça dos vários concelhos.
    Ontem como hoje os jogos políticos sempre existiram com mais ou menos baloiços.
    Gostei do seu texto que revela uma pesquisa aturada.
    Beijinhos e continuação de boa semana
    Ailime

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    1. É mesmo isso Ailime. Forninhos esteve desde sempre na "crista da onda", simplesmente porque é uma aldeia com uma identidade própria, com passado, usos e costumes e um sem número de pequenas especificidades que lhe emprestam um carácter e encanto únicos.
      Na última reforma administrativa é que não fomos desejados!
      O nosso protesto foi a propôr a anexação de aldeolas de freguesias pertencentes a um concelho limítrofe. Não deu em nada claro (devido aos jogos políticos), mas o documento fica para a história e não é preciso ir procurá-lo ao Arquivo Histórico da Assembleia da República onde repousam em caixas, esquecidas, as muitas representações (isto é, os protestos) das Câmaras Municipais dos concelhos extintos e das respectivas populações do século XIX.
      Bjs, bom fds.

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  7. Estou de acordo com a Gracinha, não entendo porque não se simplifica.
    Um abraço e bom Domingo.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Se o mapa não ajuda, então tiramos as fontes documentais. Simples!
      Nessa ocasião, as mudanças em todo o país e também na nossa zona foram gigantescas, se não referirmos as fontes, nada vamos entender da nossa história em termos de administração e de defesa de interesses locais.
      Bom resto de domingo.
      Abraço.

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