No dizer de Aquilino, que vestiu de capucha o corpo fecundo de Brízida, a paciente esposa do Malhadinhas e de capucha se vestiu Joana, na Serra da Lapa, pastorita eleita para ver Nossa Senhora "a capucha de burel gerada provavelmente em longeva idade a partir do saio lusitano, permanece como vestimenta de generoso uso até ao fechar das portas do século XX. Ciranda com elas mulheres nas voltas do povo, nos caminhos da fonte ou do ribeiro onde vão lavar, na ida à feira quando o tempo se oferece, na rotina do serão(...) As raparigas essas levam a capucha para o monte quando à meia tarde partem com o gado(....) que por lá deixam a pastar. Os homens cobrem-na a desoras enquanto vigiam a vinha antes da vindima, o pinhal armado para a colha da resina ou as àguas de lima nos lameiros".
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moça com capucha de burel a cardar lã |
Antes que os mais novos pensem que isto são puras fantasias, posso dizer-vos que tudo isto é verdade; da lã caseira das ovelhas tosquiadas, se fazia a capucha de burel para durar vidas e outra roupa de lã com que os habitantes das nossas aldeias se livravam do frio.
Churra, era lavada.
Depois vinham as cardas num demorado pentear e, armada em velos, demorava um inverno inteiro a fiar.
Urdida a teia, "bate-que-bate, luz da candeia, o sono esquecido ao cantar, iam crescendo as varas de pano no tear" (Aquilino Ribeiro).
Só depois vinha o pisão, engenho tosco e primitivo todo armado em madeira, movido pela força da água, em regra dentro de toscos casebres.
Era através deste instrumento que se sovavam os tecidos de lã para ganharem firmeza, pois, quando os panos de lã saem do tear apresentam-se frágeis, com pouca consistência, desfiando-se com facilidade.
Depois deste tratamento do tecido é que se talhavam as mantas para uso domésticos e os búreis.
Sobre o rio desta terra o Cura de Forninhos, Baltazar Dias, em 1758, não respondeu se tinha moinhos, lagares de azeite, pizoens, noras, ou outro engenho, então fui ler outros documentos antigos, podia não haver pizões, mas podia haver alguém ligado à profissão, um pisoeiro, por exemplo. Quando falamos nestas profissões a nossa mente está mais a pensar no mundo masculino. «Nada»
Mas encontrei um documento que refere um cardador em 1794:
- José Esteves, filho de Inácio Esteves, de Forninhos, Penaverde
O documento não diz se era também pastor ou tosquiador sei que diz:
- profissão: cardador.
Serve portanto, este artigo para lhe prestar a minha humilde, mas sincera homenagem.
Agora se comprava ou vendia a lã depois de desenriçada, antes de ir ao tear? Eu creio que sim.
Mas também é possível que tivesse um tear (em algumas casas havia teares) e saísse com a trouxa às costas...caminhos velhos...para proceder ao pisionamento e depois batesse à porta de algum alfaiate.
Ao mesmo tempo, também com o apelido "Esteves", entre 1790 e 1795, encontrei 2 (dois) alfaiates de Forninhos:
-António Joaquim Esteves e Luís Esteves.
Isto até podia ser um negócio de família(?)!!
Sendo assim, o cardador, José Esteves, podia muito bem ir até Dornelas, porque o Cura de Dornelas, José de Campos, sobre o rio respondeu como transcrevo: "Tem em si vários engenhos como são pizões, moinhos, lagares de azeite."