Para atrair os fiéis informando-os que a missa ia começar, as igrejas passaram a utilizar os sinos, logo, os sinos passaram a informar o horário à comunidade, utilizando o sistema latino de contar as horas a partir do nascer do sol. Em Forninhos, durante muitos anos, a única forma de orientação para lá da inclinação do sol, era mesmo o sino da igreja, não o da foto, mas o original que desde não sei quando até meados dos anos oitenta do séc. 20 marcou o tempo na minha aldeia. Esse depois de muito tocar e com muitas fissuras, foi substituído por este:
Sino de bronze da minha aldeia - 1986 |
Um dia veio o relógio público. Mas a transição da marcação da hora do sino para o relógio como nós o conhecemos actualmente, não foi tão simples e imediata como podemos supôr. O hábito de colocar relógios públicos nas torres das igrejas é recente. Foi uma ambição das povoações do século 19 e princípio do 20. Em Forninhos, foi só depois da construção do cemitério, anos 40, que a torre da igreja foi aumentado em altura e o campanário recebeu o relógio mecânico. Este novo melhoramento aconteceu ali por volta de 1949-1950, do séc. 20. Aliás, acho que o campanário podia não existir até 1950. Até essa altura, no topo da Igreja Matriz, o que existia era um campanariozinho(?). Uma construção muito mais simples e mais baixinha(?).
Agora, como é sabido, o relógio da igreja é eléctrico e o som e toque das Ave-Marias são gravados, mas dantes havia um relógio mecânico ligado a uma corda de aço, com os seus martelos exteriores a bater no sino que dava as horas.
Dlam, Dlam, Dlam..., dolente, sem pressa, ia batendo e dizendo a cada um em que ponto do dia se encontrava.
Com os ouvidos sempre atentos, as cabeças erguiam-se e contavam:
Uma.
Duas.
Três...
Se por acaso parava (às vezes esqueciam-sede lhe dar corda), era logo notada a sua falta: "Hoje o sino não dá horas". "Que horas serão?".
B - Badalo do sino
M - Martelo colocado na sineira junto ao sino.
Se por acaso parava (às vezes esqueciam-sede lhe dar corda), era logo notada a sua falta: "Hoje o sino não dá horas". "Que horas serão?".
B - Badalo do sino
M - Martelo colocado na sineira junto ao sino.
Nessa altura, além dos sinais horários vindos do sistema de relogoaria, ainda havia o toque do Anjo, ao meio-dia e às 7 da tarde o toque das Trindades; de miúda lembro-me da tia Esperancinha (perdoem-me aquelas de quem não me lembro) ir tocar às Trindades, mas depois deixou o cargo, com certeza devolvendo a responsabilidade à aldeia, que acabou com esse ritual que se cumpriu por muitos anos.
Outros toques do sino, tinham as mesmas funções de hoje, quase sempre relacionadas com actos religiosos.
E com isto, dou comigo a recordar um célebre poema de Fernando Pessoa, com este título sempre nostálgico "Ó sino da minha aldeia" que até parece ter sido escrito em Forninhos:
Outros toques do sino, tinham as mesmas funções de hoje, quase sempre relacionadas com actos religiosos.
E com isto, dou comigo a recordar um célebre poema de Fernando Pessoa, com este título sempre nostálgico "Ó sino da minha aldeia" que até parece ter sido escrito em Forninhos:
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa
Um agradecimento a todas as pessoas que me ajudaram a esclarecer algumas dúvidas.