Aquilino Ribeiro dá o mote [1946]
"Árvores, árvores!
Está dito e redito, provado e contraprovado, que o regime pluvial duma região é condicionado acima de tudo pela arborização. Mas não é tudo. A árvore com o seu reticulado subterrâneo reprime a água, disciplina-a de modo que, mercê da sua acção moderadora, nem estalam as madres das nascentes que arrasam os campos, nem os rios correm a monte levando pontigos e alpodras. A árvore, além de condensador ideal, é um repartidor exímio, almotacé chamam em certos municípios da serra ao homem encarregado de distribuir a bancada de água pelos paroquianos.
Ora estes derradeiros tem-se desarborizado desalmadamente sem rei nem roque. Oiteiros, outrora vestidos de verde movediço e espumoso dos bosques, estão hoje hediondamente nus. A falta de combustível por um lado, a construção intensiva por outro, levaram aos despovoamento das matas. Em breve os castanheiros serão tão raros como na fauna marítima o é a baleia, e os velhos pinheiros donde era grato ouvir as rolas e os carrubados para sulipas e outras aplicações rendosas. O pior é que se faça a derrubada e não se lance à terra penisco e lande correspondentes.
O homem de hoje procede como se o mundo acabasse amanhã. Quão longe em seu ânimo daquele felá que aos cem anos andava a plantar árvores com espanto do califa! A Lusitânia devia ter sido um bela terra, habitada por gente ágil, esperta, valente e formosa, quando era floresta pegada desde o Minho ao Algarve.
Hoje o que se vê são narizes tortos, os semblantes da vil tristeza."
AQUILINO RIBEIRO: "Aldeia, Terra, Gente e Bichos", acompanhado por uma fotografia das nossas Dornas.
Boa noite de domingo, querida amiga Paula!
ResponderEliminarNão se tem mais cuidado com a Mãe Gaia.
As árvores são cortadas impiedosamente. Uma barbaridade.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos
O homem tem de abater algumas árvores para dar espaço para que outras cresçam e se desenvolvam, o problema é que não houve o cuidado de se ocupar os solos com as chamadas árvores autóctones: castanheiros, oliveiras, sobreiros, carvalhos.
EliminarEu interpreto assim o texto do escritor.
Beijinhos
Boa Noite
ResponderEliminarAs árvores da minha vida
Plantei e Cortei
Delas tive sombra
Fruto e aragem
As Árvores da minha vida
Lá no cimo , no nevoeiro
Delas tirei sumo e sabor
Deram- me alegria e regalo
Ninhos e melros lá andavam
As árvores da minha vida
Reguei ao luar
Ás ordens de minha Mãe
Frutos verdes e amargos
Doce de perâ e ameixa
Abacate e anona
Pinheiros e eucaliptos
Pinhas e lenha
As Árvores da minha vida
Hoje e sempre são minhas
Amadas companheiras.
Abraço
António Miguel Gouveia
É caso para responder/dizer que uma árvore pode ser-nos útil de várias formas: dá-nos frutos, madeira, lenha, sombra, ornamentação...
EliminarAbraço
Boa tarde Paula,
ResponderEliminarUm texto magnífico de Aquilino Ribeiro e tão atual!
Se ele vivesse hoje ficava aterrorizado com os crimes que têm sido cometidos contra o nosso Planeta, nomeadamente o corte de árvores.
Uma tristeza que dói muito.
Beijinhos e bom fim de semana.
Emília
Boa tarde,
EliminarEstive mesmo para terminar o artigo assim:
O que diria Aquilino o se deparasse com o cenário atual da nossa floresta?
Incêndios, corte de árvores, matas de eucaliptos...
Se “Quando os lobos uivam” a paisagem mudou radicalmente para pinheiros, agora já são eucaliptos, que abrangem zonas que outrora foram matas de pinheiros.
Bjs/bom domingo