Agora que chegamos aos mil posts sinto que "é a altura de tirar as abóboras do campo e pô-las com a barriga ao léu...em cima do telhado", como fez Aquilino Ribeiro, in "Abóboras no Telhado" (1955).
Com uma dedicatória impressa a Jaime Cortesão que assim começa: "Dê-me licença, querido amigo, que lhe ofereça esta carrada de abóboras. Dou o que tenho. Faça de conta que lhe ofereço...o quê? os pomos de oiro das Hespérides...".
Com o Subtítulo "Polémica e Crítica" Aquilino analisa peripécias da carreira, ajusta contas com quem lhe plagiou textos, com quem escreveu isto ou aquilo por ter lido bem, por ter lido mal as suas obras ou até sem as ler!
As abóboras eram, portanto, de espécie metafórica.
Faz balanços com humor e com lucidez. Escrever...Para quê? Para quem? Escrever para quê numa terra que lê apenas as contas que traça o merceeiro?
A princípio os editores sentenciavam:
- "O senhor não tem público" (p. 28)
- "Os livros de Aquilino não se vendem" (p. 41)
No entanto o seu primeiro romance/novela, "Via Sinuosa" (1918), vendeu duas edições em poucos meses, fenómeno que o escritor atenua: "Nesse tempo imperava o gosto da leitura. O futebol não esvaziara os cascos do honesto cidadão nem tão-pouco as suas algibeiras" (pp 45-46).
Mais adiante avança esta afirmação provocatória: "Dentro de vinte anos não há mais literatura em Portugal. Não digo que não continuem a aparecer livros interessantes, mesmo superiores, mas de génese esporádica, mais ou menos eventual, como outrora os Lusíadas e as Peregrinações (p. 293).
Depois explica: "Hoje tudo é febril, tumultuário, dinâmico e muscular. Nas belas-letras tudo é remanso, pausa, meditação" (p. 296).
E conclui: "A leitura que supõe umas horas de ócio, e sobretudo concentração de consciência, não tem atmosfera propícia. A rádio, a gazeta, o cinema satisfazem as restantes e normais necessidades de bestunto" (p. 297).
Passaram mais de sessenta anos após a publicação de "Abóboras no Telhado" (polémica e crítica) e o diagnóstico de Aquilino continua válido, as cabeças esvaziam-se cada vez mais e surgiram outros modos de vida, outros modos de leitura, pelo que acrescentámos à sua lista, a TV e o Facebook.
Fontes: