«FORNINHOS a terra dos nossos avós» é o título do "livro"de que falarei aqui hoje, de como falam da minha aldeia. O que dizem, como o dizem, a verdade e a incorrecção, a metade que ali se diz - e eu acrescentarei neste texto a outra metade...encontrei coisas até curiosas, mas esperava mais, muito mais...
Foi apresentado pela autarquia local no passado dia 10 de Outubro de 2013. Trata-se de uma obra que, ao longo de 223 páginas, faz um levantamento do património material e imaterial de um povo - Forninhos - avaliando a sua evolução rumo à modernidade.
Como falam de ti, Forninhos, meu torrão natal!
Desde logo, na pág. 7, uma introdução, umas generalidades, e a opinião de quem procurou ouvir uma terra que não conhece...
«Aqui ouvimos a terra. Uma terra simples de gente pura e trabalhadora. Gente que sempre viveu em comunidade, que ri que chora. Gente que ama a sua terra! Que sabe ultrapassar dificuldades em conjunto e orar. Que sabe construir e dizer mal. Que partiu para o Mundo, mas nunca esqueceu as suas origens.».
Fui até à pág. 13 e encontrei até mais do que pensava:
«A nossa terra é a nossa vida, é tudo aquilo que construímos, são as pessoas com quem convivemos e amamos, mas é também tudo aquilo que nos envolve e cria memórias. São os cheiros da urze, o som do clero - viste lá o clérigo, lá o vi, lá o vi - as penedias escorregadias, o gelo a quebrar na terra sob os pés, o talegre no alto do Castelo, a cor das maias...são os pores-do-sol.».
Algumas citações, significados e correcções úteis!
Urze em Forninhos são as urgueiras e as maias são as giestas amarelas.
Agora, descrição sobre o "Lagar rupestre de São Pedro 1", pág. 29:
«Lagar escavado sobre um batólico tipo lage que apresenta ao centro um calcatorium retangular, com 255 cm de comprimento, 206 cm de largura e 15 cm de altura, e um conjunto de três stipites com um cumprimento máximo de 80 cm, uma largura máxima de 25 cm e uma altura máxima de 30 cm. Na visita que José Coelho faz ao local em 1935, regista este lagar atribuindo-lhe, no entanto, uma funcionalidade religiosa intitulando-o como "Santuário pré-romano". Importante é a referência do achado de um peso de lagar numa das ruas das ruínas de S. Pedro de Verona (Coelho, 1948:289).».
Correcção:
As pessoas que eu conheço e que são quem viveu em verdadeira comunidade afirmam que a rocha/lage que se encontra a sul e junto do local do antigo povoado, é chamada de "Forca" e não lagar rupestre de São Pedro 1 . São os forninhenses que estão errados ou são "os do livro" que estão certos? Se calhar é a lei da vida das palavras...
Pág. 35, sobre um sítio romano da Pardamaia ou Pedra Maia:
«Localizado no topo de uma ligeira colina, esta interessante estação arqueológica espraia-se pela encosta sul sendo possível observarem-se vestígios materiais do que teria sido há cerca de 2000 anos uma quinta (villa).».
- Mas existiu uma villa romana na Pardamaia, Forninhos?
Que os romanos passaram por Forninhos ninguém duvida, mas daí a ter havido/a haver uma villa romana em Forninhos vai uma grande distância...
O que se disse (escreveu) sobre a capela de S. Pedro, pág. 36:
«Neste povoado, denominado de S. Pedro, são ainda visíveis os restos de uma capela em redor da qual estaria uma necrópole, da qual apenas restam alguns sarcófagos partidos em granito. A capela cujo orago é S. Pedro de Verona, encontra-se praticamente arrasada, não sendo possível fazer mais ilações sem intervenções arqueológicas.».
Primeiro: Em S. Pedro não são visíveis quaisquer restos de uma capela! Segundo: aproveito para complementar neste "livro" que para além desses sarcófagos partidos, outros foram levados com a permissão e o consentimento de membros da Jf, o que estranhamente o autor (ou autores) esquece de dizer (escrever)!
E não podia terminar sem deixar de registar o que se lê na pág. 86:
«Outra característica da terra que se reveste em Forninhos como um ritual de abundância e de sucesso de um ano árduo de trabalho no campo está materializado na "matação" do porco, que por norma ocorre no início do ano. Os homens encarregam-se de ir buscar o animal e conduzi-lo para a morte. As mulheres preparam os alguidares de barro para recolher o sangue que dará a forma e sabor aos enchidos. O animal no fim de morto é chamuscado com carqueja, pendurado e desmanchado.».
Atenção leitor: não se deixe levar por aqueles que pensam conhecer Forninhos. Com realismo, digam lá, alguma vez em Forninhos o porco foi/é chamuscado com carqueja?
Dá que pensar.
Nota:
1-Iniciamos então hoje uma nova "etiqueta" que pretende publicar neste blog a realidade aldeã de "Forninhos a terra dos nossos avós" que também ajudaram a formar a nossa língua. E, fica aqui a promessa de que vou publicar, na medida das minhas possibilidades, outras opiniões vindas directamente do "livro", onde está evidente o desinteresse pelo linguajar popular.
2-Não resisto a citar, mais uma vez, aquele que criou uma vastíssima obra literária baseado no que aprendeu convivendo com a gente beirã. Aquilino Ribeiro referindo-se à linguagem da Beira «acabará por extinguir-se, desbotar-se e converter-se no idioma pilho, compósito, que para aí se fala, e se tornou oficial mediante a cumplicidade da ciência lexicológica.».