O linho dava muito trabalho, desde a semente até às toalhas
e panos branquinhos. Tudo começava pela sementeira, que acontecia
entre Março e Abril e três meses depois estava pronto para arrancar e começar
uma série de operações até obter o tecido do linho, que muitos leitores se calhar
nunca o viram a não ser já costurado…mas quem quiser pode ver o aspecto da semente e planta AQUI.
O linho era semeado em terrenos húmidos e com bastante água, pois o linho exige muita rega, muita água. Depois de arrancado (com raíz e tudo) era ripado no ripanço,
levado em molhos para a água do ribeiro do “Linha'do ribeiro” e poças das Androas, etc, para curtir, enterrado na água, e depois cerca de duas semanas iam estender os molhos nos lenteiros; enriquecida a fibra era levado para casa e aí começava outra série de tarefas até à fiação e à feitura das peças de uso doméstico, como camisas e lençóis e também religioso, como toalhas dos altares.
Era
preciso bater muito o linho e durante muito tempo, com um maço; esfrega-lo
sobre uma pedra para tirar-lhe a casca rija e fazer as “amuças”. Depois o linho
era tascado no cortiço com um instrumento chamado espatela ou espadela.
No cedeiro era separado o linho mais fino do mais grosseiro – a estopa. O linho
em “fêvera” fica na mão da tascadeira e a estopa cai no chão e depois destas
operações ficam as “estrias” ou “estrigas” como se dizia em Forninhos, que era a quantidade de
linho ainda em “rolo”, que depois passam à fiação, na roca, com o fuso.
E para que servia a estopa? Para fazer sacos que eram vendidos na Santa Eufêmia da Matança.
Da fiação ao tear vai ainda muito trabalho
O linho era então fiado com roca adequada. As mulheres
punham-no na roca para depois o puxarem com os dedos, molhando-o, lambendo os
dedos e dele fazerem fios, enrolando-os no fuso. Desta operação resultam as
maçarocas que são postas no sarilho para dar as “meadas”.
Barreladas em água a ferver com cinza numa panela de ferro, até o linho amolecer, passam depois à dobadoira para fazer os novelos que vão ao tear, donde sai o pano, que depois de corado alguns dias ao sol (tinham de ser regados permanentemente) serve para fazer utilidades para a casa e roupa de cama e outra.
Os teares são também peças-chave
do processo e eram indispensáveis a quem, tendo linho, queria então fazer
lençóis, toalhas, panos para tapar as cestas e tabuleiros, camisas. Quem tinha
linho e queria fazer peças procuravam as tecedeiras – tecelãs – de fora, mas parece
que há muitos anos atrás houve teares na nossa aldeia, uma oficina onde se
tecia o linho, nos fundos da casa que foi do tio Armando Castanheira, quem o
fazia era uma senhora chamada Leonor, irmã da tia Ana Castanheira.
Nos teares também se faziam as mantas e passadeiras de trapos, encomendadas aos farrapeiros de fora.
A vida era muito variada numa aldeia muito habitada, como o foi Forninhos. Hoje nada disto existe. Mas como o frio e chuva estão a ir embora e regressa a vida aos campos, preparei uma III peça sobre o cultivo e tratamento do linho, que até há 50/60 anos muita gente o cultivou. Era uma tarefa muito trabalhosa, durante 4/6 meses em cada ano, é certo, mas muito, muito interessante.
Nota:
Arquivemos ainda a nomenclatura das medidas do linho: 2 "amuças" eram uma estria. 12 estrias e uma amuça - era um afresal; 25 estrias - eram um adeito.