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terça-feira, 5 de setembro de 2017

Vinho, vinho meu...

"Sei bem como se podem mandar amostras para concursos. Às vezes o que lá está dentro não é exatamente igual ao que vai para o mercado"
João Portugal Ramos, Enólogo e produtor de vinhos

1.º concurso de vinhos de Forninhos - 18/07/2010

Sobre a prova de vinhos, naquele dia encontravam-se a conversar na Lameira, o António com o Alberto, mais o Fernando que vive em Lisboa. A determinada altura diz o António:
- Quase não era necessário haver provadores, já todos sabem quem vai ganhar...
- Felizmente que o concurso vale o que vale... Mas se houvesse gente para enfrentar o poder instalado e exigir transparência, outro galo cantaria retorquiu o Fernando.
- Tens razão, diz o  António,  por vezes, é mais fácil estar no nosso cantinho e nada fazer  para mudar as situações.
-Mudar o que está mal, queres tu dizer - retorquiu o Alberto.
- Sim, mas é muito difícil...todos se calam. (silêncio).
Resignados, os três amigos dali abalaram sem mais demoras, pois chover no molhado estragaria a pinga!
Mais à frente, nova paragem, e diz ainda o António para o Alberto:
- Olha lá, achas que o que ganhou outra vez, é de cá?
- Outra vez essa pergunta, responde o Alberto, sabes bem que eles é que percebem da poda. Seja branco ou tinto, está tudo controlado...
Já farto da conversa e a leste destas artimanhas e já com a garganta seca o de Lisboa, o Fernando, quase suplica:
- Afinal, bebemos ou não um bom tinto da terra?
- Nem é tarde, nem é cedo, vamos à minha adega. Dizem ao mesmo tempo os dois.
Foram e demoraram, mas ainda hoje o lisboeta diz que eles mereciam ganhar o prémio de melhor vinho de Forninhos.

22 comentários:

  1. Essas competições de vinhos são interessantes e na Itália, mesmo os amigos, cada um ,,na hora de oferecer o vinho, dizia que era o melhor o seu,rs beijos, chica

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    1. Seja em Itália, Espanha ou Portugal, a prova faz-se todos os dias, quando um amigo bebe, gosta e repete. O concurso vale o que vale...(como naquele dia disse o Fernando).
      Bjos.

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  2. Quando meu pai fazia vinho, tinha sempre muito orgulho no seu vinho. Fazia-o apenas para consumo da família, mas sempre mandava uma garrafa para Lisboa, não para nenhum concurso, mas para análise de qualidade.
    Um abraço

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    1. Com certeza o seu pai (o Sr. Manel da Lenha) sabia que a qualidade é mais importante que a pontuação.
      Abraço.

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  3. Se bem me lembro...
    Já me dou ao luxo de recuar meio século atrás, ao mundo rural genuíno dos meus antepassados e as coisas meio esquecidas, mas que guardo com carinho.
    Esta coisa das provas no dia da freguesia (presenciei uma ou outra) acho uma mera encenação por no júri aparecerem tantos "leigos" convidados pela organização, armados em enólogos...vaidades.
    Feito este compasso, os vinhos que corriam nas bocas da aldeia como os melhores, eram aqueles em que os amigos eram servidos à bica das pipas de madeira, numa romaria entre adegas, com petiscos para "acamar" a coisa.
    Não tinham como medir a graduação e tal pouco ou nada importava, importante sim, era virar o copo para a claridade (" está limpinho, alisou bem, tens aqui uma pomada das boas...").
    Quais amostras, qual caraças, pois aguentando e não dando a "volta", dava para a casa e porventura para vender em anos melhores e de abundância, mas e curiosamente, sempre aos mesmos comerciantes por conhecerem a habitual qualidade, por tal fidelizados.
    Aqui chegado e em nota final:
    Concordo com os normativos da era moderna (que remédio...), mas com "palhaçadas, que me desculpem, pois estes concursos não passam de uma mera feira de vaidades que por vezes se transforma em inimizades bacocas de rivalidades triviais.
    Não bebo um tinto do Dão por ser tarde, fica para amanhã.
    Saúde!

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    1. Eu até aprecio essa vaidade e acho que, no caso, os "enólogos" têm um papel secundário, a forma como a prova é feita é que deixa muito a desejar...
      O Alberto até faz a pergunta se o que ganhou é de Forninhos.
      - É???
      Que eu saiba, em Forninhos a estrutura das vinhas e das castas não era orientada para a produção de vinhos especiais, mas se há vinhos a ganhar ao das produções mais especializadas, o normal é duvidar se o premiado não veio duma vinha formada por videiras todas da mesma casta!!
      Nisso estou com o Fernando, houvesse mais transparência por parte dos organizadores e "outro galo cantaria".

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    2. Não quero dizer que o vinho chamado caseiro, ou seja, fabricado de modo artesanal, não seja bom, porque se é fabricado do modo artesanal deve ser muito bom.

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  4. Vinho .....

    Vinho para que te quero
    Tu és Vida, Culto e Trabalho
    Tu alimentas na Horta e no Campo
    Na Ceifa e na Sementeira
    Tu és Ciência e Estudo
    Vinho tu és Força...

    Vinho....
    Tu és Boémia e desastres
    Tu és Amor e Divórcio
    Tu és Sentimento e Dor
    Tu és Saudade
    Vinho para que te quero...

    Vinho...
    Estás á mesa do Doutor
    Alimentas o mendigo
    Fazes a Paz e a Guera
    Vinho..tu és História ,Passado e Futuro

    Ás vezes amargas, Fazes Azia e Dor
    Muitas vezes és Verde e Doce
    Vinho.... és Tudo e Nada..
    És uma parte de um Povo
    Serves de Prenda e União
    És Cultura..

    Vinho para que te quero ..
    Vinho...

    Abraço para todos os que sabem beber com moderação
    MG


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    1. Na nossa terra, posso dizer que vinho era a bebida mais social. Era usado em todos os acontecimentos de natureza social.
      Sabia que até era costume, para poder namorar uma rapariga em terra alheia o rapaz tinha de "pagar o vinho"? Até parecia que era um negócio e se calhar era, afinal os negócios eram selados com vinho!
      Abraço.

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    2. Dos oito aos muitos anos de idade ,até quase sair de casa dos meus pais havia os " poios" para cultivar.
      Meu pai contratava homens, entre eles,meu tio Sabino,
      casado com uma irmã de meu pai.
      Uma das minhas missões era de "levadeiro", dar vinho
      aos homens . Meu pai ausentava-se e o vinho ficava a
      meu cuidado . Tinha x vezes x copos para a manha e x
      vezes x copos para de tarde.
      Ninguém podia ficar bêbado. Tinha de gerir. Ás vezes
      corria mal...
      A minha relação com meu tio Sabino foi de grande cumplicidade , fomos amigos sempre ,era um mestre na
      arte da plantação de semilha , feijão ,batata ,couve,
      tudo aquela " santa terra " dava .
      Depois fui convidado para ser distribuidor de vinho
      perto dos 18 anos , recusei 25 contos / mês .
      Na minha juventude conheci gente que enriqueceu com
      o cultivo e comercialização do vinho e também sei que
      ter um sogro ou sogra com vinha era sinal divino .
      Ironia do destino as minhas bebedeiras nunca foram de
      vinho , mas não vivo sem essa "ciência da Natureza".
      Como qualquer bom português...

      Abraço
      MG

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    3. Boa noite, caro António.
      Gostei da sua narrativa/prosa e no modo singular com que comentou.
      Trouxe o cheiro da Ilha e os modos de falar da "santa terra" no descrever de vivências pessoais.
      Nos pormenores, sempre fica a alma,a identidade de uma terra, aquilo que nos seduz e fica gravado para a vida...
      Abraço.

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    4. Boa noite, Xico Almeida :

      Não sei discutir o vosso vinho...admito !!
      Já dele bebi e bem ....confesso, gostei !!

      Mas da minha terra " Ilha de Zarco" vem para um
      "cantinho da Ajuda - Lisboa " maracujá , aguardente
      da Calheta , pura , com 40 graus equiparada á vossa
      que misturada e remexida com açucar, com o brinquinho a que se chama " caralhinho" , o tal maracujá, mel,do verdadeiro , tudo muito "acarinhado" á medida dos convidados , gelo ,claro ,tudo espremido , coado, dá
      doses de doçura ,que sobe á cabeça ,faz rir e chorar, cantar o bailinho , abrir o peito e chorar muito ,as
      saudades renascer , as amarguras , os poios e as
      avós/ avôs idas , e idos para o Céu Eterno , acredito rezando as bebedeiras e a vida dos netos !!
      A isto se chama poncha , que para um bom Beirão pode
      perfeitamente encaixar como aperitivo para enchidos ou chouriça e sei lá que mais....

      E ..educamente vos falei das ultimas duas bebedeiras
      da minha vida , entre colegas e familia ,devidamente
      autorizado e protegido pelo lar que me acolhe há anos
      Sendo que NÃO CONDUZO NESSES MOMENTOS ...
      Sem stress...para matar o stress...e sem incomodar os
      vizinhos do sétimo ao rés do chão.
      Muitas vezes mata , claro !!

      Grande Abraço
      MG

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  5. Faço ideia dessa "degustação, prova" de vinho! Delícia, mas qual é o melhor?! "Vinho, vinho meu!"
    Gostei do artigo, reflexão MUITO BOA.
    Beijinho

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    1. tchim, tchim, Anete!
      O melhor é português :-)
      Beijnhos.

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  6. Boa tarde Paula,
    É uma pena que até nos meios pequenos as coisas se processem dessa forma!
    Bem fizeram os três amigos que foram beber dos seus vinhos nas respectivas adegas. Essa foi a melhor prova.
    Beijinhos e continuação de boa semana.
    Ailime

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    1. Em Forninhos acontece cada uma que cada duas é um par, Ailime!
      Beijinhos e continuação de boa semana também.

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  7. Vários registos, vários comentários alusivos ao concurso dos melhores vinhos de Forninhos, nunca puliquei nada sobre o assunto quer fotos, quer comentários ouvidos, o que posso dizer, baseando-me naquilo que observei nas primeiras comemorações festivas da Freguesia, a análise dos vinhos concorrentes deram indício de isenção e transparência mas, pelo menos nos últimos três anos, indicia obscuridade.
    Entre amigos, todos sabem onde estão os bons vinhos em Forninhos, o resto, ESCURIDÂO.

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    1. Esta foto foi tirada na 1.ª prova de vinhos, iniciativa da A.R.C. Forninhos; as provas que vieram a seguir já foram organizadas pela JF Forninhos e sobre...já ouvi comentários também, mas quero acreditar que esse concurso não é uma farsa e que um dia por exemplo no "dia da freguesia" se distinga publicamente a Associação Recreativa e Cultural e os seus ex-dirigentes pelo trabalho que realizaram em prole do associativismo local.

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  8. Fica a vaidade para o ganhador poder se dizer o melhor, mas nem sempre esses concursos são os melhores que vencem, há muita coisa por traz dos panos(nem sempre).Eu quando vou comprar vinho prefiro os portugueses.
    Beijos e tudo de bom

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    1. Pois há!
      Algumas décadas atrás, era impensável fazer uma prova de vinhos em Julho, porque a maior parte das vezes o vinho produzido em Forninhos não chegava ao verão, hoje a realidade é outra e quem não o tiver, pode sempre comprá-lo e apresentá-lo a concurso e...ganhá-lo.
      Bjos/bom fds.

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  9. E não tenhamos dúvida disso!
    Um brinde às gentes de Forninhos!!!bj

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