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sábado, 7 de fevereiro de 2015

O vestido da comunhão

Quando vi esta fotografia recuei no tempo... 


(...)
Se o tempo é longe ou perto
Em que isso se passou
Não sei dizer ao certo
Que nem sei o que sou
Sei só que me hoje agrada
Rever essa visão.
(...)
Fernando Pessoa


A catequese ou a doutrina, como preparação para a comunhão, a primeira confissão, quando ainda éramos todos inocentes e confessávamos ao padre os pecados, o receio de tocar a hóstia com os dentes, os versos, o vestido, a grinalda ou coroa da qual pendia o véu e a bolsinha com o pequeno terço dentro!
Traz também esta foto à memória os pechisbeque que ficavam tão bem nos pulsos, orelhas e pescoço. 
Mas falemos do vestido da comunhão. Provavelmente veio do estrangeiro e porventura já tinha sido usado pela irmã mais velha, pois naquele tempo, há mais de quarenta anos, só os habitantes da aldeia que tinham familiares em Lisboa, Coimbra ou no estrangeiro, tinham este tipo de vestido, que depois o emprestavam a fim de poder servir às irmãs mais velhas, às primas e outras crianças. Mas o que a Aurora (*) se lembra é que o vestido tinha-o a mãe e os acessórios foi a tia Prazeres da Moradia (mulher do Zé Clementina) quem lhos emprestou.

(*) A Aurora é a criança da foto!

22 comentários:

  1. Que linda a Aurora toda enfeitada e preparada para seu momento tão especial, tantas vezes nem ainda entendido bem o significado,rs Adorei! bjs, belas recordações! chica

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    1. É verdade, entrava-se para a catequese e fazia-se a 1.ª comunhão sem qualquer conhecimento do que isso representava.
      Beijinhos e 1 bom domingo!

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  2. Foi o meu primeiro pensamento, parece-me a Aurora, acertei. Paula, os meus sinceros parabéns por mais um post de grande relevo. Outros já aqui os publicaste, também de grande interesse, espero que continues. Sabes, esta menina ainda é nossa prima. O nosso Tio Abel aperfilho-a. Beijos.

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    1. Eu sei, Henrique. O último nome da Aurora é Albuquerque!
      Quanto aos 'post's' d´O Forninhenses parece que fazem mossa lá por Forninhos, se calhar porque bem sabem que os forninhenses ausentes não dispensam a sua leitura!
      Continuar será sempre o nosso lema!
      Um abraço e obrigada pelos parabéns!

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  3. Confesso que por vezes me sinto confundido com os post,s da Paula no que toca a coisas da nossa tradicao por serem transcritas de modo autentico a dar que pensar.Muito trabalho, claro, dai os meus parabens!
    Confesso que adorei ver aqui a Maria Aurora simbolizando o que anos atras era um costume religioso levado a peito por conviccao e mais tarde (permitam), uma festa como aquando se fazia o exame da quarta classe.
    A mesma preparacao, uma em letras e algarismos sem erros, a outra sem pecar.
    Tinha mais medo da ultima, pois entre uma reguada e o inferno para a vida eterna, a escolha era simples...
    De modo algum quero ofender crentes e descrentes, apenas gostava de saber como foram vestidas as duas minhas manas para a primeira comunhao.
    Como as outras, ora essa, de branco e vestido feito pela tia Maria Augusta do Pirolas, mestra de costura que ensinou a minha mae a costurar na maquina e que ate arranjava as asas para as anjinhos acompanharem quem ia fazer a
    primeira comunhao.
    Confesso que da minha quase nada lembro, mas vestido nao levaria com toda a certeza, era o que mais faltava...
    Mas deixem que diga, metia medo os dias que antecediam este Acto...pelos ensinamentos e medos.
    Tal como todos, na minha vespera, fui confessar os meus pecados,
    (Fui me confessar
    Aquela capelinha
    Ao que disse ao padre
    Ninguem o adivinha).
    Penitencia feita, ao outro dia, o do grande momento, pequei!
    Escapuli pela casas dos meus avos e sorrateiramente lambi o acucareiro.
    Por isso tenha estado nervoso na igreja, mas acima do Outro e mais importante, tambem foi doce...
    Mais seriamente, na nossa sociedade rustica, cada acto sempre teve um valor acima e muito, penso eu, do mais genuino cognitivo, coisas tao nossas que por mais que queiramos, a razoabilidade impede a logica...
    Comungamos como que um condimento explosivo de sentimentos, orgulhos, creres, sendo que nem nos ali nascidos, sabemos bem o que tal seja.
    Apenas sentimos...
    Tal como esta linda imagem da Aurora, sorrindo para fora da porta blindada da igreja para se proteger de maus tempos.
    Beijinho, Aurora.

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    1. Mas olha que nem toda a gente tinha dinheiro para fazer ou mandar fazer o vestido da comunhão. Curiosamente os teus pais tinham possibilidade de ir à costureira!
      O meu vestido, a minha mãe foi buscá-lo à Matela a casa da Sra. D. Lurdes, a mulher do Castanha. Tinha uns raminhos de flores bordados e fazia parte da indumentária luvas e uma bolsinha de renda. Julgo não estar enganada, mas tinha vindo da América e serviu várias crianças.
      Quanto à porta blindada, não sei se era para proteger de maus tempos ou do mau tempo ou de ambos!
      Seja como fôr, esta imagem e todas as fotos antigas já aqui publicadas são autênticas pérolas que dá gosto olhar.

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  4. A Aurora tá parecendo uma noivinha com essa roupa! Muito bom o post, Paula!!
    Um abraço neste domingo...
    Boa semana!

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    1. Pois está, mais ainda porque alguns acessórios eram de uma noiva, chamada Prazeres!
      Ontem quando ia preparar o 'Post' liguei-lhe e foi assim que soube mais alguns pormenores.
      Um abraço e boa semana tb.

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  5. Muito apropriado o excerto do poema de F. Pessoa, que considerava que apenas na infância tinha sido feliz...Espero que seja muito bom voltar sempre a olhar para essa foto, mas que toda a vida seguinte de Aurora, tenha sido, e seja ainda muito feliz.
    Uma menina muito bonita e enfeitada, como fica bem num dia especial, e com uma postura realmente solene.
    Tenho uma foto, mais ou menos por esta idade, vestida de anjinho, mas com cara de diabrete, com uma auréola na cabeça, um vestido branco curto, e umas asas. Foi tirada numa festa religiosa em Odemira, no entanto lá no campo não havia catequese, e nunca fiz a primeira comunhão, embora tivesse cantado na igreja no início da minha adolescência.
    Um bom resto de domingo, Paula, e boa semana!
    xx

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    1. Neste poema o poeta vê-se pelos olhos de outro, que o olha tal qual o fizesse a si mesmo, daí a minha escolha.
      Quanto aos vestidos, lá em Forninhos, há 30/40 anos, os vestidos que emprestavam para a primeira comunhão, também os emprestavam para incorporar a procissão na festa de Agosto, em honra da S. dos Verdes, assim como uma coroa e umas asas! O da minha comunhão usei-o, no mesmo ano, nessa procissão.
      Mas, Laura, como na minha terra o povo todo é católico (nem sei se houve outra religião) admira-me que no campo não houvesse catequese!
      Hoje, em Forninhos, até há uma catequista para um catequizando!
      Boa Semana!

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    2. No campo, longe de tudo, claro que não havia catequese, só na aldeia de São Teotónio, que ficava a uns belos quilómetros de distância, e só lá íamos quando havia feira, ou por outra qualquer razão de força maior.
      Para além disso, o Alentejo nunca foi um local no qual se desse tanta importância religiosa como sempre aconteceu no norte do país. Como costumo dizer, no sul, somos uns hereges, talvez devido à ocupação moura...:-)
      xx

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    3. Apesar de haver uma catequista para um catequizando, por estas bandas as leis da Santa Igreja tiveram de adaptar-se aos tempos e necessidade humanas, pelo que ainda assim hoje a maioria de nós somos considerados uns herejes e se por cá houvesse a inquisição, na certa eu - em Forninhos - seria uma herege a atirar para uma fogueira acesa!

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  6. Oi Paula!
    Esta fotografia é de grande valor, retrata uma época da vida, onde as crianças eram mais inocentes, faziam o catecismo com muito respeito, muita fé, e o dia da 1ª comunhão era um dia dos mais importantes da sua vida, não que hoje não seja mais, mas todo esse clima que envolvia esse dia, já não existe com a mesma intensidade.
    Beijos!

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    1. Era um ritual que os pais achavam importante realizar e, se calhar, para os pais de hoje continua a ser, mas é tal como a Fátima diz "todo esse clima que envolvia esse dia, já não existe com a mesma intensidade.".
      Beijos!

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  7. Boa noite, as comunhões continua a realizar-se em todo Portugal, penso que em numero mais reduzido que antigamente, nunca frequentei a igreja, admiro principalmente os familiares das crianças que se preparam e realizam a comunhão.
    AG

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    1. Eu frequento a igreja e admiro estes rituais seculares, mas o que vejo, quando há comunhões, é somente um acto de exibicionismo por parte dos familiares, mais virado para a imagem e menos para a vertente religiosa e espiritual.

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  8. Parece a minha...só que a minha vestimenta era alugada e com vestes de freira!
    Bj amigo

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    1. Na aldeia de Forninhos houve um Venda que vendia um pouco de quase tudo. Julgo que a dona desse estabelecimento comercial chegou a alugar vestidos para a comunhão, mas não garanto. Tenho uma ideia de alguém comentar isso.
      Bj amigo tb.

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  9. Eu fiz a primeira comunhão , mas não era tão pequena assim , nem sei por que
    eles enrolaram nós tres anos para fazer a cerimonia, me senti uma noivinha,
    bjs e boa semana.

    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

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    1. 3 anos!!??!!
      Por cá, porque as crianças começaram a rarear é possível hoje enrolarem-nas por 3 anos, mas eu fiz a primeira comunhão ao fim de 1 ano de catequese e, note-se, não era diária. Só havia catequese ao domingo!
      Boa semana. Bjs**

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  10. Boa noite Paula, outro momento precioso que me fez sorrir!
    Gostei dos pormenores que invocou sobre certos preceitos que entretanto caíram em desuso e que ao longo da vida me têm questionado!
    O vestido da Aurora era bem engraçado e os adereços ao jeito de então!
    Na primeira comunhão nem me lembro como era o meu vestido. Da comunhão solene já me recordo! Enfim, tempos e cerimónias sempre lindas de recordar!
    Beijinhos e uma boa semana.
    Ailime

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    1. Também me questiono há muito, Ailime!
      A fé não se discute, já certos preceitos da fé...
      Beijinhos e boa semana para si também!

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