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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Arquitectura Modesta

Em Forninhos, tal como em outras aldeias da Beira Alta, o granito era preponderante na construção das habitações, tanto na feitoria das paredes, umas em porpianho (pedra aparelhada em todos os seus lados) como em juntouros (pedra aparelhada em um ou dois lados).


Também as escadas e patim ou balcão, como lhe chamavam, e seus resguardos, eram em pedra maciça. Estas pedras eram cortadas em pedreiras com pólvora em buracos feitos com um ferro chamado pistôlo, à força da marreta e depois destrinçados com carreiros de guilhos.

O transporte para as povoações era feito em carros ou zôrras (tronco em forma de forquilha) onde se colocavam as pedras maiores e era arrastado pela força dos bois e içadas com um engenho como o que se vê na imagem acima.

Contributo de Eduardo Santos (fotos e texto)

Chamo a atenção para a ilustração deste artigo que destaca o nosso património arquitectónico de cariz mais rural, popular, modesto, mas em especial, também para o vocabulário utilizado, pois as palavras usadas constam do Grande Dicionário da Língua Portuguesa. É isto o que nos distingue dos meios urbanos e de outras regiões do país! São as nossas verdadeiras ancestrais raízes e há que valorizar este património.

6 comentários:

  1. Olá a todos.

    É verdade, a esta arquitectura poderemos muito bem chamar de modesta.
    Não temos palacetes, muito menos brasões, mas temos casas construídas em cantaria, juntouras e até rebos (pedra miúda, tosca), rectangulares, quadradas, redondas ou conforme o espaço o permitia, por exemplo, a minha tem um desenho geométrico, que o telhado teve que ser dividido em 6 partes.
    No século XIX e parte do XX, era muito normal marcar a data de construção na torça da porta de entrada principal, ainda se podem ver algumas em Forninhos, embora muitas tenham sido cobertas com massa.
    Estas casas, embora modestas, estão na origem da nossa aldeia, e estão ligadas á identidade de todos os Forninhenses, estejam eles a residir em Forninhos, por essa Europa fora, Américas, Ásia, ou África, sabem que foram os seus antepassados que as construíram e lá viveram, e nem todos os jovens de hoje são materialistas, por isso estou ciente, que o não esquecerão.
    Segundo informações da JF, está a ser elaborado uma monografia da aldeia, é uma boa iniciativa, pois assim, poderemos ter a oportunidade de conhecer melhor a origem e o que foi esta aldeia situada num local privilegiado da Beira Alta.

    Um abraço a todos.

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  2. A elaboração da monografia com inclusão de um capítulo dedicado ao nosso património arquitectónico será sem dúvida uma obra ímpar, de valor inestimável e importante para a nossa aldeia, pois permitirá não só a análise das várias tipologias, mas também uma inventariação e estudo de todo o nosso património, pelo menos, da primeira metade do Século XX, o que poderá conduzir a que as novas gerações, autarquias e demais entidades passem a olhar para estas construções não como algo de “velho” e a “cair”, mas antes como uma mais-valia patrimonial que está desaproveitada e que deveria, antes, ser preservada. Só espero que, quando esse dia chegar, e se chegar, ainda esteja alguma coisa de pé, ou, pelos menos, no seu estado original.

    Para o que aqui importa, penso ser importante conhecer as razões/ fenómenos que levou a que, pós-25 de Abril, e num espaço de 20/30 anos, muitas destas casas fossem transformadas (derrubando-se as características tipológicas da original) e outras ampliadas (no sentido de as prepararem às condições de conforto e higiene dos tempos modernos, misturando-se o real com o postiço).

    Terá sido o desejo de apagar da memória as marcas de pobreza e atraso?

    Ou, a descaracterização da nossa arquitectura tradicional, da antiga casa de pedra, se deveu à entrada no país dos ideais modernos já consolidados pela europa, de conforto e luxos inerentes, da chamada “casa de emigrante”?

    Terão sido estas ou outras razões?
    Quais?

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  3. É verdade nos anos 50 e 60 a antiga casa da nossa região que era construida de pedra e era constituida por uma ou duas salas que serviam de sala,cozinha e quarto foram sendo transformadas e alargadas a partir dos anos 70 e mais 80 e perderam muita coisa do original.Janelas e portas alargadas são alguns dos exemplos.

    Acho que na altura que apareceram as primeiras casas de emigrante de construção mais modernas começou a ver-se as antigas casas como sinal de pobreza e atraso e muitas foram abandonas quando os donos faleceram.Esta é tambem uma das razões para a perda deste património.

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  4. Era essa a profissao do meu falecido sogro.
    Adorei o texto que nos lembra nomes que tendem a cair em desuso.
    Que lindas sao essas casas de granito restauradas!

    Um abraco de amizade dalgodrense.

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  5. Olá a todos.

    Em minha opinião, o abandono destas casas ou a sua destruição, não se deve a qualquer sentimento do passado, nem tampouco ao querer de algum modo apagar os vestígios da pobreza e miséria pela qual se passou num passado recente, (dúvidas da Paula) mas sim á necessidade de se procurar uma melhor qualidade de vida, tanto para nós, como para nossos filhos.
    É de todos sabido, que estas habitações, mesmo as feitas em cantaria, sinal de pessoas com mais posses, tinham poucas condições de conforto, nomeadamente, a falta de casas de banho, água electricidade etc.
    As mais modestas, quando tinham divisões, estas, em taipais de madeira, muitas vezes onde nos quarto cabia apenas a cama, também esta feita de tábuas.
    Na década de 70/80, como diz Lopes, iniciou-se novo ciclo no modo de viver das pessoas, já havia água, electricidade e dinheiro para fazer casa nova, graças á emigração.
    Importaram-se alguns modelos descaracterizados para a região, embora a nossa aldeia não tenha sido das mais atingidas por este fenómeno, mas a responsabilidade, é inteiramente dos técnicos que aprovaram tais projectos, o certo é, que em forninhos ainda se pode ver muitas destas casas e casinhas que outrora fizeram a aldeia, e estas sim, podem e devem ser restauradas, preservadas e serem motivo, não de vergonha, mas sim de orgulho por termos conseguido dar uma vida melhor aos nossos filhos do que aquela que os nossos pais não puderam dar a nós.
    A aldeia pode e está a crescer, como se vê pela quantidade de casas novas que têm sido construídas nos últimos tempos, sinal evidente que o progresso pode avançar, e até conviver lado alado com o passado sem que estas duas culturas se atropelem.

    P.S.- Gostaria de informar a quem não sabe, que o espaço por baixo do balcão que se vê numa das fotos, se destinava a resguardo para galinhas. (galinheiro)

    Hoje alonguei-me um pouco mais, as minhas desculpas.

    Um abraço a todos

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  6. A existência de galinheiros debaixo do balcão era muito comum na casa rural, assim como a existência de páteos, currais, adegas, lagares e demais dependências agrícolas. Infelizmente já não é fácil encontrar exemplares representativos deste balcão-modelo em tão bom estado de conservação. É de elogiar, por isso, esta opção de não destruição deste original balcão e todo o modelo de habitação que é um bom exemplo de como é possível valorizar o património sem desvirtuar o existente. No entanto, sou de opinião que ao contrário do que se passou nos finais dos anos 70 e anos 80, nos anos 90 até à actualidade, assistimos a um outro fenómeno, que foi a recuperação de muitas antigas casas de pedra, onde até o sombreamento com persianas foi substituído pelas portadas que muito se assemelham às de madeira tradicionais. É engraçado, perceber como em determinadas épocas existe uma relação inversa com o património e que a noção de gosto também é determinante.

    Em relação às novas construções que se implantaram no espaço rural, quer sejam de emigrantes ou não, acabam por ser menos gravosas para o património porque são construídas de raíz, em terreno próprio, não destruindo as velhas casas da aldeia e, a meu ver, algumas até nos remetem para este tipo de arquitectura tradicional, com um desenho baseado na mesma: o balcão e varanda exterior, o térreo destinado à actividade agrícola e com o 1.º piso para habitação.

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